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Ana Casara | Revista Afrodite

Ana Casara

Foto Fabio Grison
Formada pela faculdade da vida, como costuma dizer, Ana Maria Marchioretto Casara encontrou no macramê sua essência. A técnica de tecelagem manual que consiste no uso de nós, foi aprendida ainda criança, pois a mãe, Elisa Boff Marchioretto, considerava que os filhos deveriam aprender de tudo um pouco. O que Ana nunca imaginou é que a habilidade se tornaria profissão e, mais ainda, rendesse a ela o Prêmio Empreendorismo Feminino, da Microempa, na edição de 2020.
Natural de São Marcos, Ana passou a infância em Vila Segredo, distrito de Ipê, para onde a família mudou quando o pai, Gardino Marchioretto, foi trabalhar num moinho. Porém, se apaixonou por Caxias do Sul ainda muito cedo, por volta dos oito anos, quando retornava à cidade natal para visitar a avó. “Passávamos pela rodoviária de Caxias e eu achava o máximo.” Assim, em 1972, decidiu que fixaria suas raízes na cidade. De volta à São Marcos para trabalhar numa malharia, onde permaneceu por três meses, conseguiu emprego na Pettenati e concretizou o objetivo.
Dois anos depois conheceu Luiz Casara, com quem se casou em 1981 e teve três filhos. E foi quando nasceu a primogênita, Lusiane, que o macramê retornou para sua vida, depois vieram Anelise e Lucian. Aos 67 anos, Ana ministra aulas pelo seu canal do Youtube e ganhou a parceria do marido, que se aposentou há seis anos. Luiz aprendeu a técnica e também ajuda na logística da empresa. “Sou bem resolvida em tudo que faço. Amo a Deus, a vida, a família e a profissão que me escolheu. Sim, porque diversas vezes a deixei de lado, mas ela sempre voltava para as minhas mãos.”

 

Você costuma dizer que o macramê sempre a acompanhou. É uma habilidade da infância?
Sim, o macramê sempre me acompanhou. Somos 15 irmãos e, na infância, a mãe nos mandava aprender de tudo. As meninas, bordado, crochê, costura, tricô, que não me convenceu, mas o macramê estava programado para mim. Os meninos empalhavam garrafão, cerziam saco de juta e ajudavam na plantação. Havia ocupação para todos. Tivemos uma infância de muito trabalho, pois era preciso ajudar em casa, mas também muito divertida e de muitas brincadeiras. Morávamos nas terras do moinho onde meu pai trabalhava, tínhamos um pátio enorme e vizinhos com muitas crianças também. Naquele tempo, não imaginava que o macramê iria se tornar minha profissão. Como dizem minhas alunas, no momento em que se aprende, ele a amarra para sempre.

 

Como você começou sua vida profissional e quando e como o macramê virou trabalho?
Trabalhei na indústria e no comércio até o nascimento de meus filhos. A partir dali os aprendizados manuais da infância, como os bordados, o crochê e o macramê passaram a ter mais importância na minha vida, como uma renda extra. Eu cuidava das crianças, da casa e, nas horas de folga, trabalhava para malharias dentro dessas habilidades. Então comecei a me envolver com grupos de artesãs, pois nesse momento já tinha definido que o macramê seria meu carro-chefe. Por volta de 1996 fundei o Só Nó, um grupo de artesãos que participava de feiras como a Mãos da Terra e a Festa da Uva. Nessa época já ministrava cursos em lojas, pois um ano antes, com ajuda de algumas amigas e alunas, fundei a Associação Caxiense dos Artesãos (Ascart), período em que fui convidada por duas lojas a ministrar cursos em Porto Alegre. Numa delas fiquei por cerca de seis anos, até que foi vendida, na outra, só encerramos as atividades por conta da pandemia, no ano passado. Foram 24 anos de muitos nós, muitas amigas e boas gargalhadas.

 

Você lançou duas publicações ensinando macramê. O que a motivou nesse projeto pessoal?
Eu segui todos os passos da técnica do macramê, do básico até criar novos modelos e a ter um método próprio para ensinar. Percebi que aí estava a chave do sucesso, no momento em que você ensina, também aprende ao perceber as limitações do outro. Isso me motivou a querer difundir o macramê, para que esse artesanato não fosse esquecido. Então lancei a revista Caminhos do Nó, que ensina a técnica, do básico ao passo a passo de cada modelo das mais diferentes peças. No começo, achava que a venderia bem e que, com o produto na mão conseguiria a parceria de alguma editora para tornar a publicação nacional, o que não aconteceu. Então me aconselharam lançar através do Fundo Pró-Cultura, então foi preciso transformá-la em um livro, para seguir os critérios exigidos. Em 2007 lancei o Dois nós, uma vida. Foi mais fácil vender o livro, estamos pensando em fazer uma nova edição e também na possibilidade de transformá-lo em um produto digital.

 

O que a encanta nessa técnica de fios e nós? Que trabalhos você destacaria?
O que me encanta são as possibilidades que ela dá, você viaja na criatividade. Do vestuário à decoração, das peças simples a outras especiais e complexas, tudo é possível criar. Acho que tudo o que fiz foi importante, não descartaria nenhum de meus trabalhos e nenhuma fase, tudo foi relevante a seu tempo.

 

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Em 2016, você passou a ensinar macramê pelo seu canal no Youtube. O que a levou para o digital?
Sabe quando as pessoas a sua volta ficam colocando pilha em algo que você está querendo tentar? Foi isso. Minhas alunas falavam ‘profe, faz vídeo, não tem ninguém que ensina como você na internet.’ Foi assim que me joguei, como tudo na vida, sem experiência em mídias sociais, na cara e na coragem, muito nervosa, mas com segurança. Hoje já estou mais à vontade.

 

Atualmente você tem uma escola, vende cursos e produtos online. Como é essa experiência de empreender pelo digital?
Eu idealizava uma escola desde que fundei a Ascart, mas não fui compreendida. Já imaginou um lugar onde, no horário em que os alunos não estivessem nas salas de aula estariam aprendendo outras atividades, desde crochê, bordados, macramê, costura? Uma escola completa, era isso que eu imaginava, mas não deu. Quem sabe, um dia. Antes da pandemia (covid-19) eu dava aulas presenciais também, mas hoje é exclusivamente pela internet. É muito interessante, agradável. Fico focada no trabalho, gravo os vídeos, consigo explicar os detalhes, sem contar que atinge um número de pessoas que jamais seria possível no presencial.

 

O que é preciso para aprender macramê e onde se pode aplicá-lo?
Para aprender basta o querer, porque o investimento é baixo. Qualquer pessoa pode aprender, só depende de atenção e foco no trabalho. As possibilidades de uso da técnica são inúmeras, da decoração ao vestuário, do calçado aos acessórios, como bolsas, brincos, colares. O macramê permite tudo que a sua imaginação criar.

 

O feito à mão tem conquistado espaço. Você acha que ainda há muitos desafios para se manter vivas as artes manuais?
Ainda é preciso vencer muitos desafios, sim. O maior deles é ensinar esta nova geração. Veja o que aconteceu na pandemia, quantas pessoas conseguiram uma renda extra com o feito à mão? O meu trabalho, por exemplo, continuou normal durante nesse período. O artesanato é uma fonte de renda importante, sem falar nos benefícios que traz para a mente. Manter-se ocupada é tudo o que precisamos depois de uma certa idade, e os jovens não estão tendo essa oportunidade. Isso me preocupa muito.

 

No ano passado você foi a ganhadora do Prêmio Empreendorismo Feminino, da Microempa, pelo voto popular. Como foi receber esse reconhecimento?
Mostra que tudo é importante na vida. Falo que não importa o que você faça, dedique-se ao máximo, mesmo que o máximo seja apenas um nó. Como associada – faço parte do núcleo setorial Teia da Microempa –, quando fiquei sabendo do desafio lançado pelo grupo das Empreendedoras pensei ‘é meu’, e fui à luta. Fiz vídeos, divulguei meu trabalho em todos os lugares e para todas as pessoas. Considero a premiação como um fechar de ciclo sobre o que vinha trabalhando há muito tempo, porque quando comecei muita gente sequer sabia o que era macramê e essa técnica iria ficar no esquecimento.

 

Quais seus projetos e sonhos?
O macramê me permitiu ser conhecida além das fronteiras do Rio Grande do Sul. Já realizei cinco encontros das profissionais de macramê, inclusive fiz formatura, de forma bem artesanal. Meu sonho agora é organizar um encontro com essas alunas de longe, do online. Vou devagar, mas chegarei lá. Esse é o foco para o futuro.