“Quando saí da UTI, não conseguia falar nem comer.” Foi nesse momento que Judite Ema Fiorese, 63 anos, percebeu que deixar o hospital era apenas o primeiro passo do caminho que precisava percorrer para a plena recuperação da covid-19. Vítima do vírus, a psicóloga ficou 33 dias intubada para sobreviver à doença, e as sequelas eram resultado do longo tempo com respiração forçada e, por consequência, alimentação por sonda. O tratamento para a reabilitação começou ainda no hospital, com o acompanhamento da fonoaudióloga Franciele Michelon. “Ela me ensinava os exercícios para eu conseguir falar e engolir novamente, porque não tinha forças para isso.” Em casa, o atendimento era feito em dias intercalados na primeira semana, se distanciando com o passar do tempo. “Hoje estou quase de alta e muito bem. Só tenho a agradecer à Franciele pelo trabalho e dedicação. Percebi a importância da fonoaudiologia no pós-covid e recomendo para todos que passam por essa doença.”
SEQUELAS FUNCIONAIS
A história de Judite é apenas uma nos inúmeros relatos de pessoas que superaram a covid-19, mas perceberam que passaram a enfrentar problemas de fala e deglutição, muitas delas sem sequer saber o motivo do problema, avalia Franciele. “A intubação aliada ao longo tempo de sua permanência são fatores que têm como sequelas essas dificuldades. Por isso, é fundamental que os pacientes sejam alertados a buscar tratamento para retomar sua qualidade de vida após a doença.” Os impactos são tantos que já existem protocolos, que incluem a necessidade de um grupo de reabilitação interdisciplinar para tratar os problemas funcionais que acometem boa parte dos curados, como transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, fraqueza muscular, falta de ar, perda de peso e desnutrição, além das dificuldades para engolir, voz soprosa e rouquidão.
A fonoaudiologia é uma das especialidades que integra essa equipe multiprofissional da linha de frente no tratamento pós-covid e, segundo Franciele, é necessária já na retirada do tubo, diante da melhora do paciente, quando deve-se avaliar a deglutição para verificar as condições de retomada da alimentação via oral. “O período prolongado de intubação pode gerar redução da sensibilidade e da força das estruturas da boca, faringe e laringe, trazendo riscos de engasgos e broncoaspiração, quando o alimento vai para os pulmões”, explica a fonoaudióloga. Além disso, o uso de bloqueadores musculares ou sedativos nessa fase contribui para a hipotrofia e fraqueza dos músculos da deglutição.
A DIFICULDADE DE ENGOLIR
Chamada disfagia, a dificuldade de engolir é frequente em quem precisou ser intubado. “Ocorre porque os músculos usados para mastigar e engolir, como lábios, língua, céu da boca e garganta, tornam-se fracos ou descoordenados, não sendo capazes de cumprir corretamente suas funções. Em decorrência dessa limitação, comida e bebida podem seguir para o lugar errado, ou seja, direcionar-se para o pulmão ao invés do estômago, causando sérias complicações, entre elas, o risco de desenvolver pneumonia.
Perder o prazer ou a segurança de alimentar-se implica na redução da qualidade de vida, além do aumento do risco de infecções, por isso é fundamental que os pacientes pós-covid sejam orientados a buscar ajuda especializada. “Se a pessoa não recebeu orientação de um fonoaudiólogo durante a internação, é importante que analise o surgimento de alguns sintomas de disfagia após a alta hospitalar, já que 25% dos pacientes que foram intubados apresentam alterações na deglutição por seis meses”, aconselha Franciele.
Veja também:
Sua saúde em boas mãos
Dificuldade para engolir
O TRATAMENTO
A terapia para o fortalecimento muscular, melhora da sensibilidade e coordenação da deglutição com a respiração pode ser necessária nos pacientes que precisaram ser intubados, já que a falta de uso da musculatura das pregas vocais, associada ou não a lesões na região, é capaz de gerar alterações na voz, como rouquidão e soprosidade. “Essas alterações, denominadas de disfonia, devem ser tratadas por equipe multidisciplinar envolvendo fonoaudiólogo e otorrinolaringologista, esse último especialmente nos casos em que há problemas estruturais nas pregas vocais”, pondera a especialista.
Descobrir o problema é o primeiro passo para começar a tratá-lo. Por isso, se você apresenta um ou mais sintomas de disfagia (veja abaixo), o ideal é procurar um fonoaudiólogo para um diagnóstico correto. Ele será capaz de ensinar exercícios, além de passar orientações quanto aos alimentos que se deve comer ou evitar, posicionamentos, posturas e utensílios facilitadores, além de manobras para aumentar sua segurança durante a alimentação.
SINTOMAS DA DISFAGIA
DICAS PARA UMA DEGLUTIÇÃO SEGURA
Apresentado por Franciele Michelon
Fonoaudióloga especialista em Neurociências
Aplicada à Aprendizagem e à Linguagem
Av. Itália, 277/1101, São Pelegrino - Caxias do Sul
(54) 3223.4807 | WhatsApp: 998128.7073 | Instagram: franmichelon