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Rocha Netto: 40 anos de cabine | Objetiva | Revista Afrodite

Rocha Netto: 40 anos de cabine

Foto Fabio Grison
Foto Fabio Grison

Ele tinha quase tudo para ser médico, como o pai, mas acabou se tornando um dos mais badalados DJs da Serra Gaúcha. Aos 58 anos, Jorge Rocha Netto comemora uma trajetória de quatro décadas de cabine cheia de boas histórias para contar. Tendo completado o que chama da trilogia dos sonhos de todo disque-jóquei (sim, era época dos vinis) – ter um programa de rádio, fazer um disco e ser dono de uma casa noturna –, hoje se dedica especialmente aos eventos corporativos, sem deixar de, sempre   que pode, inventar uma nova moda e movimentar as pistas.

O garoto que acompanhava o pai, Mario Rocha Netto, no centro cirúrgico, mas que não se dava bem em exatas, começou a cursar Educação Física com a intenção de ter uma base para entrar na Medicina. Acabou estudando Relações Públicas quando a vida já estava mais entre os discos e microfones. Aprendeu a gostar de ouvir música com o pai, falecido há cerca de 10 anos. Parte do expressivo acervo de Rocha vem da coleção dele. “Ele gostava muito de samba, era fã da Carmem Miranda, chegou a ter um disco autografado por ela.” 

Outra faceta musical de Rocha Netto vem da época em que integrou a banda do colégio do Carmo, primeiro tocando pífano, depois, bateria. “Nunca consegui entender e ler partitura, tocava por cifra e por ouvido”, conta. Estudou cinco anos de violão e chegou a subir no palco, muitos anos mais tarde, com a banda de rock Apocalipse, formada por amigos. Uma curiosidade é que, embora mesmo antes de virar DJ profissional estivesse sempre na noite, nunca foi festeiro. Praticava muito esporte, salto ornamental, futebol, e teve até uma fase como piloto de motocross. 

A música que o marcou e o levou a comprar o primeiro “bolachão”, aos 16 anos, foi The Best Disco in Town, do LP New York City Disco. Estava começando a era disco, com John Travolta e seus Embalos de Sábado à Noite. Para a festa de 15 anos de sua então namorada Tatiana – companheira até hoje –, Rocha e o sobrinho, Marcelo Molon, resolveram gravar umas fitas cassetes. Indício do começo profissional, que se deu um pouco depois, quando uma colega da escola o contratou para colocar o som na sua festa de aniversário. “Minha mãe já tinha me dado um sistema de som, meu pai um equalizador, mas eu só tinha um toca-discos, não tinha mixer, fui atrás de um para alugar e passei o valor. No final da festa, o pai da menina colocou o dinheiro no bolso da frente da minha camisa e, desde aquele dia, 29 de julho de 1978, não parei mais.”

No bar Aristos, Clube Juvenil, em 2016 / acervo pessoal

A primeira casa noturna onde tocou como residente foi em Canela, a icônica Encouraçado Butikin, no Hotel Laje de Pedra, palco de inúmeras Festas Nacionais do Disco, que o colocavam em contato com grandes nomes da música brasileira da época,bcomo Amelinha e Emílio Santiago. O primeiro programa de rádio foi o Super Disco, em 1979, na rádio Princesa. O segundo veio em 1980, na então rádio Independência, a convite do amigo DJ Gugui. Em 1981 assumiu a Pelourinho, boate do Clube Juvenil, fase de transição entre o fenômeno disco e o rock new wave, quando começou a atuar também na parte de produção musical, trazendo para Caxias shows como dos gaúchos Taranatiriça e Saracura, e a conviver com grandes nomes nacionais como Roupa Nova, Camisa de Vênus, Paulo Ricardo e Legião Urbana. 

Com a Rocha Netto Sonorização de Eventos passou a fazer não só casamentos e aniversários, mas também apresentações das principais escolas de balé da cidade. “Na dança, fui por anos parte oficial do grupo Raízes, viajei o Brasil com a Sigrid Nora montando trilhas para os espetáculos.” Passou ainda pelo clube Juventude, em 1989, antes de inaugurar a boate Underground que, repleta de ideias trazidas por Rocha de suas pesquisas em São Paulo, foi um marco na cidade. Com projeto assinado pelo arquiteto Carlos Eduardo Mesquita Pedone, as caixas de grave eram embutidas na parede, eram servidas long neck no bico e havia cartão de consumação, inovações para o período. Foi através do programa Studio Dance Track, na rádio Studio, que completou a trilogia, fazendo dois CDs, um pela gravadora Building e outro pela Paradox.

Assim como faz questão de nomear e agradecer a cada amigo que esteve junto no caminho e àqueles que abriram as portas – não teríamos espaço para citar todos –, Rocha se orgulha de ter sido um criador de novos DJs, introduzindo na cena nomes reconhecidos como Jamur Bettoni. O próprio filho, Jorginho (DJ Jorgeeenho), 31 anos, formado em Relações Internacionais, é DJ no Zero 54. Depois de passar por diversas casas, sempre motivado por fazer coisas diferentes e encarar desafios, passou a se dedicar mais ao mercado corporativo, fazendo a sonorização de palestras, seminários e convenções. Com suas constantes idas para o centro do país em busca de referências e novidades, sempre teve um bom termômetro do que estava por acontecer, sendo de alguma forma vanguardista em iniciativas locais.

Até o final do ano, o que mais quer é comemorar esses 40 anos de cabine com projetos bacanas como o DJ de Boteco, que toca samba, Los Ritmos de La Noche, uma mistura maluca de culturas musicais, e Brazil com Z, com versões diferentes do pop rock nacional. É diversão musical para ninguém colocar defeito.


Por Vivian Kratz. Fonte Afrodite