Gerente geral do hotel Intercity Caxias do Sul, Rafael Cyrillo escolheu o curso de Turismo e Hotelaria quase que por eliminação. Identificou-se com as características da profissão lendo guias de estudantes, sem conhecer ninguém que trabalhasse na área. “Pura afinidade com a questão do servir, receber pessoas. Acho que é um pouco de vocação, a pessoa tem ou não tem.” Com pai agricultor e mãe professora de inglês, não tinham o hábito de viajar. Foi a curiosidade que o levou, aos 16 anos, a sair de Itápolis, interior de São Paulo, para estudar em Ribeirão Preto (SP) e, depois, em Balneário Camboriú (SC). Aos 35 anos e com trajetória ascendente, Cyrillo é hoje, também responsável pela regional Sul da rede, acumulando função corporativa no que se refere a Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Uruguai.
No litoral catarinense, ainda como estudante, foi voluntário e bolsista de iniciação científica em núcleos de pesquisas da Universidade do Vale do Itajaí. Quando sentiu que a vivência o estava direcionando para a vida acadêmica, resolveu que era hora de provar o mercado de fato. Investiu, então, em um curso de barman, sua porta de entrada na hotelaria. Começou como atendente de bar em uma pousada luxuosa na Praia dos Amores (SC), passando a auxiliar de cozinha, recepcionista até representante de vendas. “Era fisicamente exaustivo, mas uma sensação muito legal participar de tudo aquilo: estudava de manhã, atravessava a cidade de bike para assumir ao meio-dia, saía de madrugada com uma pilha de louça para lavar e ainda, quando dava, cuidava da horta. Essa é a dinâmica de uma pousada, foi onde entendi a importância dos detalhes e aprendi empiricamente muita coisa.”
Num pequeno hiato, quando pela primeira e única vez questionou se havia feito a escolha certa, saiu da pousada para buscar algo que “desse dinheiro”. “Li um artigo que falava sobre fazer o que se gosta ou gostar do que se faz... mudou minha forma de pensar. E isso trago comigo como mantra e sempre compartilho quando vejo alguém nesse questionamento, que é natural: se não gosta do que faz, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor da tua área, te aprimora pela precisão na tua forma de trabalhar, que o reconhecimento vem, a valorização, outras portas se abrem. É muito fácil pular de galho em galho, ‘ah, isso eu não gosto, preciso achar o que gosto’. Não, o que aprendi foi a gostar realmente do que eu faço e aí foi uma ascendente.”
Rafael com a esposa, Marina, e os filhos, Olavo e Augusto / Foto acervo pessoal
Formado em 2006, foi trabalhar como coordenador de reservas de uma grande rede, em Joinville, cidade para a qual sua então namorada, hoje esposa, Marina, – que foi sua professora na faculdade – tinha recém se mudado. Dentro de uma grande corporação, com estrutura, processos, procurou crescer por meio da área de vendas. Depois de um curso em Curitiba, foi convidado a assumir o cargo de executivo de contas e, aos 25 anos, para ser o gerente da unidade. Na época, o mais jovem da rede no cargo. “Era um sinal de que os tempos estavam mudando, com os jovens ganhando mais espaço. Eu mesmo tinha a crença de que teria que cumprir muito mais etapas, mas aceitei o desafio, entrei em um grupo de gerentes sêniores e bebi daquela fonte, aproveitei a oportunidade e aprendi muito.”
Depois de enfrentar a crise de 2008 e uma enchente forte em Joinville, que afetou muito os negócios, foi convidado a vir para Caxias. Com o primeiro filho, Olavo, recém-nascido, Marina abriu mão dos dois empregos e o acompanhou na mudança para a Serra gaúcha. Ele passou ainda por Florianópolis e Porto Alegre, nessa última gerenciando uma unidade de quase 180 apartamentos, numa fase muito mais voltada ao trabalho do que à família. Foi quando passou por um dos momentos mais difíceis da carreira: ser desligado numa videoconferência e de um dia para outro se ver numa situação oposta à trajetória de crescimento que vinha empreendendo. Apresentado por um dos acionistas da última unidade onde atuou, ingressou na rede Intercity, para assumir a gestão de um hotel em João Pessoa (PB).
Daí veio a chance de se internacionalizar, gerenciando uma unidade da rede em Montevidéu (Uruguai). “Uma experiência inesquecível, fiz uma imersão no espanhol, até para mostrar o máximo de respeito às pessoas do local. Os uruguaios são mais questionadores, têm um nível educacional acima da nossa média brasileira.” De volta a Caxias há quase um ano, teve uma recente passagem de dois meses pelo Rio, assumindo o Hotel Yoo2, de conceito boutique. Sobre a dinâmica de dois anos em uma cidade, dois anos em outra, admite: “É bastante mobilidade. Como tudo, tem o ônus e o bônus. Particularmente gosto muito. Foram nove ou 10 mudanças de cidade já.”
Com o tempo, Cyrillo encontrou o equilíbrio entre trabalho e descanso valorizando cada momento com a esposa e filhos – o mais novo, Augusto, fará três anos em agosto – “quando estamos juntos meu tempo é para eles”, e fazendo da corrida sua medicina. “Preciso muito de um momento meu, introspectivo, para me desconectar, de ócio criativo. Correndo resolvo meus problemas.” Engaja-se também, enquanto vice-presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Jovem, em fomentar ações para alavancar o turismo na cidade “Falta uma parceria público-privada e o caxiense acreditar que temos potencial. Caxias é um polo gastronômico, temos atrações histórico-culturais, mas falta definir um foco, as entidades trabalharem em conjunto, de forma mais atuante.”
Entre os projetos e novidades, aposta na vocação para eventos e gastronomia do Intercity Caxias para recompor as perdas impostas pela recessão, levando seu catering para outros espaços e fornecendo alimentos congelados para unidades gaúchas. “Gosto de ver o hóspede encantado com um atendimento diferenciado, que pessoas de setores diferentes, com perfis diferentes, podem trabalhar juntas, se desenvolver. É o que gosto mesmo. Não sei o dia de amanhã, vivo um de cada vez, mas tem funcionado muito para mim.”
Fonte: Afrodite 47