Há menos de cinco anos, Rodrigo Gomes resolvia deixar de fazer o que a vida colocava à sua frente para protagonizar uma escolha e seguir sua missão: fazer pão. Deixou para trás uma carreira de sucesso como empresário artístico e venceu a depressão ao perseverar em direção a um propósito. Tendo trabalhado com informática, publicidade, marketing, telecomunicações, foi na panificação que encontrou o que o realiza profissionalmente. Não tinha como dar errado: com muita dedicação, vencendo "cada perrengue" e contando com a ajuda fiel da esposa Suélen Oliveira, o padeiro e proprietário da Pane & Salute, que resgata o modo antigo de fazer pães, com fermentação natural, quer mesmo é oferecer pão saudável e de qualidade para sua freguesia.
A trajetória é daquelas dignas de serem contadas. Carioca da gema, Rodrigão, como é conhecido, veio para Caxias em 2013, quando casou com Suélen. Antes, trabalhava com gerenciamento artístico. “Entre 2009 e 2013 quase todos os artistas que pisaram em Caxias eu que trouxe.” Amigo de Max Porto, campeão do BBB9, passou a cuidar de sua carreira depois de voltar da Itália, onde ficou uma temporada ajudando no negócio de outro amigo e “mochilando”. Ao circular pelos eventos com Max, artistas começaram a pedir seus serviços, o que o levou a abrir uma empresa de casting, promovendo bandas e modelos em feiras, desfiles, festas e camarotes em Salvador.
Quando criança, Rodrigo era “nerdzinho”, como se define. Ganhou um protótipo de computador, livros de programação e ficava madrugadas adentro programando. Cursou Técnico em Processamento de Dados e começou a trabalhar como designer, abriu uma agência para criação de sites e depois uniu a empresa com a de alguns amigos para fazer marketing de guerrilha. “Até que cansei, deu um surto, não aguentava mais ter que conciliar o lado comercial com a parte criativa”, relembra.
Entregou sua parte na sociedade e foi trabalhar com outro amigo, na área de telecomunicações, onde coordenou toda implantação do sistema de vídeo-vigilância do exército para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Ao sofrer um revés nesse emprego é que surgiu a oportunidade de morar na Europa. “Vendi carro, botei a mochila nas costas e meti o pé.” Esgotado da vida de egos e baladas do gerenciamento artístico, já no Sul, entrou em um estado de depressão. “Não sei se foi a distância do Rio, dos amigos, da família, mas tive que me tratar.” Deixou a vida noturna e foi trabalhar como gerente na Euro Telhas, até que um amigo comentou que só o via feliz quando estava cozinhando e perguntou por que não ia fazer isso da vida.
“Pensei ‘é verdade’ e acordei decidido a mudar, porque também se não mudasse estava lascado...” Analisando o cenário, identificou que em Porto Alegre surgiam as primeiras padarias artesanais e resolveu trazer o conceito para Caxias. “Sem vergonha nenhuma digo que foi oportunismo, achei um nicho, fui, e a coisa foi dando certo.” Se ele já sabia fazer pão? Claro que não. Com uma porta de roupeiro inutilizada em casa fazendo as vezes de bancada, dois cavaletes e receita do YouTube, começou a experimentar. “Me dei conta que desde a situação na empresa de telecomunicações perdi as rédeas da minha vida: fui chamado para ir para Itália e fiquei até que o visto acabou, aí o Max me chamou para trabalhar com ele... eu estava à deriva. E quando resolvi fazer pão foi quando realmente passei a ter um objetivo.”
De gerente na Euro Telhas passou a representante. Vendia telhas, fitoterápicos, fazia marmitas, cartões de visita e pão três vezes na semana, com entrega em domicílio. “Um dia o vidro do forno estourou e o pão não assava direito, mas tinha que entregar. Suava com o calor da sala, desmaiei, o pão atrasado e eu sem condições de levar.” As dificuldades foram dando lugar a mais encomendas até que o negócio do pão foi crescendo ao ponto dele abandonar os outros produtos. A ideia inicial da Pane & Salute era ser uma panificadora, fornecendo para restaurantes. Mas com a crise e o fechamento de muitos locais, queda no consumo e a alta do dólar, que impacta na importação da farinha francesa utilizada, a margem de lucro começou a cair.
Daí a abertura do primeiro ponto de venda direto ao consumidor, na Rua Garibaldi. “A filosofia é que, apesar de o local ser bonito, estiloso, o pão não seja um artigo de luxo. É pão, pão do dia a dia. A escolha pela farinha importada não é para ser chique, mas por ser realmente natural, orgânica, de solo sustentável.” Rodrigo fez formação em Padaria, Confeitaria e Gastronomia pelo Senac e se especializou, a convite do Moinho Foricher, em Poilly-Lez-Gien, na França, sendo o único brasileiro convidado no estande da Fipan, importante feira do segmento, em São Paulo, a fazer pão com a equipe francesa. “Vivi isso intensamente, é muita dedicação. Abri mão de muita coisa, acordo às quatro da manhã, respiro pão, vivo o pão, não me contento com o mais ou menos, estou sempre querendo aprimorar.” O padeiro empreendedor orgulha-se de conseguir fazer um pão saboroso e saudável, que sacia e não dá picos de glicemia, tendo entre os clientes médicos e diabéticos.
Em novembro de 2017, abriu a Pane & Salute Padaria e Café, na Av. Júlio de Castilhos, onde além de comprar pão, o cliente pode experimentar um cardápio de sanduíches, tartines e outras delícias. Entre os planos para o futuro está replicar o modelo de loja do café, que já tem inúmeros pedidos de franquias. Foi convidado também para dar aula no curso de Gastronomia do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG).
Apaixonado por viajar – conhece 11 países e já rodou todo o Brasil, seja por hobby ou a trabalho –, seu maior desejo no momento é ver a filha Valentina, de nove meses, crescer e se tornar uma boa pessoa. “Meu grande sonho acho que realizei. Não tem nada a ver com ganhar dinheiro, criar rede de franquias... só quero fazer pão, numa padaria, numa fábrica, num buraco, onde for.” Curiosidades da vida: o pai de Rodrigo, Milton, cresceu num orfanato e tinha como função fazer o pão.
“Muita gente me pergunta qual era meu plano B. Não tem. Determinei que não existia plano B, tinha que dar certo. Se você mal começa a fazer algo e deixa uma porta de saída aberta, vai sair por ali. Por exemplo: vou entrar em dieta hoje, então vou guardar esse bombom no armário... não, joga o bombom fora, se deixou no armário é porque vai comer em algum momento. A Pane & Salute deu certo porque não existia um plano B.”
Fonte: Afrodite 45