“Acho que sempre fui artista, sempre busquei isso de alguma forma com minhas experiências.”
Caxiense, 53 anos de idade e 35 de carreira, a contar da primeira exposição. Pisciano com ascendente em peixes. Um dos mais atuantes artistas plásticos de sua geração, Sérgio Rosa Lopes desde o início se destacou pelo talento em demarcar os traços no papel. Na escola era chamado para fazer os trabalhos de faculdade das professoras, como desenhar o Monumento ao Imigrante. Ficou encantado ao saber da existência do então Atelier Livre da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e não sossegou até que a mãe o matriculasse.
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Lá ficou amigo de uma coordenadora de oficinas de artes para crianças, dona de uma biblioteca incrível, e que lhe emprestava muitos livros. Aos 13 anos teve a oportunidade de fazer um curso completo de história da arte. “Isso abriu meu campo de visão e de conhecimento de arte para algo mais técnico, com embasamento”, conta. Logo de cara ganhou um prêmio, uma menção honrosa e no ano seguinte, o grande prêmio do Atelier Livre.
Aos 19 anos ingressou no design de moda, trabalhando na antiga Casa Prataviera como figurinista. Ali aprendeu tudo sobre tecidos e caimentos, usando seu senso estético para unir arte e moda, o que o levou aonde mais queria naquela fase, morar em Porto Alegre. Numa época em que não havia faculdades de moda, passou a ministrar cursos no Senai. Depois abriu o próprio atelier para ensinar o que sabia na capital gaúcha.
Do Atelier Livre para o curso de Moda
Convidado pela professora Diana Domingues para dar um curso de desenho de moda no Atelier Livre, o sucesso foi tanto que a então coordenadora do lugar, a professora Guadalupe Bonzani, o chamou para participar do grupo de fundação do curso de Moda da UCS. Sérgio tornou-se docente antes mesmo de cursar faculdade. “Trabalhava dia e noite e não conseguia organizar tempo para fazer Vestibular, estava com 20 e poucos e minha mãe enlouquecida com isso.” Foi quando se matriculou no curso de Artes Visuais e concomitante às aulas que dava no tecnólogo de Moda, era acadêmico, exigindo-se rendimento exemplar perante os colegas professores.
Hoje além de lecionar nos dois cursos e assessorar empresas de moda na direção de estilo, é nome reconhecido e colecionado no mundo das artes. Com obras que concentram características de muita pesquisa e apuro técnico, retrata figuras humanas admiradas Brasil e mundo afora. Expôs em Miami, Chicago, Nova York e participou de mostras coletivas em países como Bélgica e Alemanha. “Eu tinha dois grandes preconceitos: que um profissional só podia fazer uma coisa, artista só podia ser artista, não tinha ainda isso de várias linguagens. E de que não era possível ser bom em várias coisas. Isso me deixava confuso e preocupado, me avaliava muito.”
Felizmente se convenceu de que podia fazer – e bem – moda e arte, conciliando talentos e tendo o retorno que almejava. Foi através do trabalho das marchands Carmen Reis e Vera Lannes, do Escritório de Arte de Porto Alegre, responsáveis por dirigir sua vida artística, que se deu a profissionalização desse trabalho. “Elas fazem o filtro, escolhem o que posso ou não fazer, me direcionam, dizem os ‘nãos’ e ouvem também a crítica, que é importante, especialmente quando se está começando.”
Arte + Arquitetura
Uma grande porta de entrada para o mercado da arte atual se dá via arquitetos, que fazem a ponte entre artistas e clientes. Muitos pedem trabalhos específicos para mostras como Casa Cor. Um quadro imponente assinado por Lopes nesse tipo de parceria é a releitura de um retrato de Madame de Pompadour instalado no hall de um residencial de alto padrão na cidade. Para esse ano está para sair uma nova obra que ficará em um projeto do aclamado arquiteto Sig Bergamin, em Porto Alegre.
Os passatempos preferidos do artista e professor são receber amigos em casa, com o companheiro, Filipe Maciel, e viajar sempre, para qualquer lugar. “Em viagem faço tudo junto, trabalho, pesquiso, descanso trabalhando.” Lopes não tem mais o desejo de morar em outro lugar, embora já pudesse o fazer e convites não faltem. “Não quero ir sem minha casa, sem meus amigos. Prefiro trabalhar muito, viajar, pegar o melhor do lugar e voltar. Sou bem caxiense, com muito orgulho.”
TALENTO Releitura de um retrato de Madame de Pompadour, instalado no hall do residencial Lac Léman, da Censi, em Caxias do Sul
Um amor
A arte
Um artista
Caravaggio
Um lugar
Paris, sempre
Um desejo
Morrer velhinho e à vista!
Um quadro seu
O que está na minha cabeça para ser pintado!