Fotos: Fabio Grison
Da mãe, Verly, herdou o gosto pela arte. Técnica em enfermagem, sempre se envolveu com diferentes tipos de artesanato. Quando menino, com cerca de cinco anos, ela participou de um curso de escultura em argila e o levou junto, esse foi o primeiro contato de Leonardo Mathias, ou Leo Mathias, como é mais conhecido no meio artístico, com as esculturas. Do pai, Renato, veio uma ampla bagagem de conhecimento em vendas, que considera fundamental para a comercialização de seus projetos.
A arte, porém, nem sempre foi a primeira opção na vida de Leo. Na adolescência, enquanto finalizava o ensino médio, na Escola Santa Catarina, próximo de onde morava com os pais e o irmão mais novo, Rafael, fez cursos no Senai de tornearia, fresagem e ajustagem metalmecânica. Trabalhou ainda com mecânica automotiva e retornou ao Senai para atuar como instrutor de sistemas automotivos.
Arte como profissão
Foi em 2001 que começou a esculpir, mas a atividade era considerada um hobby. Quando algum amigo fazia aniversário, por exemplo, era com uma escultura que Leo presenteava. Passou por um período de muito estresse no trabalho, e a escultura foi se tornando uma alternativa para aliviar a pressão passando a ocupar cada vez mais espaço na vida do artista. Tanto que, em 2013, optou por deixar o emprego no Senai e, no início do ano seguinte, já estava com sua empresa de portas abertas para atuar com esculturas personalizadas.
O processo de criação parte do orçamento do cliente, o que irá determinar o material a ser utilizado. Após elaborar um croqui e inserir digitalmente o projeto em uma foto do local onde a escultura vai ficar, são feitos os ajustes dos detalhes junto com o cliente. “Dessa forma, acabo captando impressões de outras pessoas e transfiro tudo para a peça final. A arte contém a energia do artista, então, pensei: por que não colocar também a energia do cliente?”, considera o escultor.
Autodidata, aprendeu a trabalhar com diferentes materiais, como granito, aço inoxidável, nó de pinho, madeira, basalto, argila e concreto celular. Quando precisa utilizar um material desconhecido, busca soluções. Por isso, está sempre pesquisando e fazendo testes. Em fevereiro deste ano, por exemplo, viajou a Corrientes, na Argentina, para fazer um curso sobre a técnica de hidroconformação em aço, desenvolvida por escultores de lá.
Além dos projetos feitos sob encomenda, Leo trabalha com coleções decorativas que seguem um mesmo tema, mas com peças únicas. Cada uma é acompanhada pelo certificado de autenticidade de obra e, no verso do documento, há uma descrição do conceito da peça. “Por serem esculturas personalizadas e pela oportunidade de flexibilizar valores, ao invés de uma garrafa de vinho no valor de R$ 100, é possível presentear com uma obra de arte”, sugere o artista.
Internacional
Apesar de ter clientes em Caxias do Sul e na Serra Gaúcha, Leo Mathias investe em levar seu trabalho também para fora do país, onde o consumo de arte é maior. Há obras no Chile, Argentina, Uruguai, Alemanha, França, Portugal e Nova Zelândia.
“Caxias é uma cidade industrial, que oferece produção em série de itens que são mais rentáveis. Mas ainda assim tenho clientes aqui que colecionam obras de arte e que apostam no meu trabalho”, conta.
Em 2018, o artista teve a oportunidade de expor uma de suas obras, batizada de Solstício, no Carrousel Du Louvre, um Shopping localizado debaixo do Museu do Louvre, em Paris (França), que combina em um mesmo espaço comércio e cultura. A peça também foi apresentada em uma exposição do Museu Nacional de Artes Plásticas de Lisboa, em Portugal.
A participação internacional só foi possível por meio das redes sociais. Uma curadora de arte do Rio de Janeiro viu o trabalho do escultor em fotos no Instagram e fez a intermediação para levar a arte de Leo para a Europa. “É muito gratificante ser reconhecido por uma curadora de arte que encontrou teu trabalho virtualmente e poder expor em um local onde milhares de pessoas estão observando uma peça tua”, comemora. No mesmo ano, Leo embarcou para o Chile com cinco esculturas e apenas uma delas permaneceu na galeria de arte, as demais foram vendidas.
Desafio
Além de viver de arte, que é uma luta diária, afirma o escultor – opinião que compartilha com praticamente todos os artistas da cidade –, o próximo projeto do escultor é especialmente desafiador e já está em produção. Serão duas esculturas em aço inoxidável, uma com quatro metros e outra com seis metros de altura, que serão instaladas ao ar livre num condomínio em Torres.
Paternidade
Pai de Bernando, que chegou em 2005 e mudou a vida do artista, a paternidade é um privilégio que todos deveriam experimentar, aconselha Leo. “A gente evolui muito tendo um pequeno ser sob nossos cuidados”, afirma.
O menino que hoje tem 14 anos é parceiro do pai em jogos de videogame e outras atividades, como o airsoft e até na arte: recentemente pai e filho trabalharam em um projeto juntos, criando facas que aparecem no jogo de videogame Fortnite. “Busco despertar conhecimento nele. Ensinei a soldar, medir, cortar, buscando interesses que podem até mesmo se tornar uma profissão futuramente.”
Lazer
Para administrar melhor o tempo, Leo dedica as manhãs às funções administrativas da empresa, enquanto as tardes são reservadas para a escultura. Além disso, inclui na agenda períodos para compartilhar bons momentos ao lado da companheira, Franciele Bareta, e também de Bernardo.
Quando não está trabalhando, gosta de andar de moto, jogar videogame – de onde já buscou inspiração para obras – e não abre mão de reencontrar semanalmente um grupo de amigos da época da escola.
O artista também mostra talento para a música e toca violão e acordeão como lazer. “Com a bateria faço muito barulho”, brinca e completa: “Quando sobra um tempo, esculpo alguma coisa”, diverte-se.