Reconhecido especialmente pelas fotos na área da arquitetura, mobiliário e design, ele não gosta de se prender a rótulos ou de ficar limitado a um único segmento. Guilherme Jordani acredita que o mais recompensador é o desafio em si e o dinamismo do exercício da fotografia. Filho de Joel Jordani, um dos fotógrafos mais admirados da Serra Gaúcha (falecido em 2010), herdou do pai não apenas o estúdio que leva seu sobrenome e hoje administra, mas também, e principalmente, o jeito cuidadoso e atento a cada detalhe para extrair o melhor de cada clique.
Jornalista de formação, esse caxiense nasceu na época em que o pai, bancário, organizava junto com amigos e colegas de banco a fundação do Clube do Fotógrafo, então Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul. Criou-se em meio às aventuras de Joel para fotografar e aos laboratórios de revelação e estúdios improvisados, já que para o pai tudo começou como um hobby. “O primeiro laboratório foi no banheirinho do apartamento onde morávamos, depois ele teve um apartamento só para fazer foto”, lembra.
De pequeno, as ideias de profissão se alternavam entre corredor de kart e bombeiro, enquanto as irmãs – a mais velha, Verônica, e a mais nova, Débora, – se identificavam mais com a área da saúde, como a mãe, Bartira, que é dentista. Interessado por computação, Guilherme estudou processamento de dados no Cetec, na época em que o estúdio começava a entrar na era digital, com os primeiros scanners e máquinas em RGB de três camadas. “Aí comecei a trabalhar no estúdio, escaneando, tratando imagens. Lembro de um trabalho na disciplina de Artes, com a professora Silvana Boone, em que fiz umas impressões em uma foto de um globo, eu acho, já misturando um pouco essa parte gráfica com computação.”
Até então Guilherme não pensava em ser fotógrafo, fez estágio em uma agência e começou a cursar Publicidade e Propaganda na Unisinos. Mas acabou optando pelo Jornalismo, já que ainda não havia o curso de Publicidade em Caxias. “Foi bem interessante, pois descobri que tinha uma habilidade para a escrita, me dava bem...” Em meio às disciplinas de foto e a necessidade de fotografar as pautas, mais o aumento da demanda no estúdio, onde começou a se tornar um auxiliar mais presente, o encantamento pela fotografia foi crescendo.
Comprou uma câmera Olympus modelo C-8080 e começou a clicar: fotos de família, paisagens e experimentos em estúdio. Profissionalmente, os primeiros trabalhos solo foram na assessoria de imprensa e em eventos – atuou por cerca de quatro anos na Lato Sensu –, além de campanhas de moda e das indústrias que o estúdio do pai atendia. Em 2006 foi freelancer na Copa do Mundo da Alemanha, fotografando e enviando matérias escritas para a Associação de Diários do Interior do Rio Grande do Sul (ADI), mesmo ano em que se tornou sócio no estúdio, agregando, além das fotos comerciais, produções editoriais.
O Estúdio Jordani, que há mais de 10 anos está sediado em um amplo pavilhão – sonho de Joel – tem entre os clientes empresas referência em móveis, como Saccaro, Florense, Marelli, entre outras, rendendo produções premiadas. Com o avanço do câncer do pai, descoberto em 2005, no final de 2009, Guilherme estava focado em assumir o estúdio. Meses antes fez um curso de fotografia em Nova York (EUA), tendo a oportunidade de clicar ao lado de grandes nomes da fotografia, como Steve Simon, conhecido por documentar o 11 de Setembro. Em janeiro de 2010, aos 57 anos, Joel faleceu. “Ele tinha muito conhecimento técnico, era famoso por resolver as fotos difíceis e chamado de mestre pelos colegas na época do filme, em que era muito mais complicado, hoje na pós-produção se corrige muita coisa.”
Foram muitas viagens e expedições fotográficas com o Clube do Fotógrafo em que pai e filho puderam estar juntos, fora as produções de trabalho. “Eu pedia algumas dicas, ele dava, mas tinha muito uma coisa de ‘deixa o guri se virar, ver como é’, uma liberdade de encontrar o meu jeito. Eu reclamava porque ele demorava... tinha um cuidado extremo, um perfeccionismo, e hoje me vejo muito nisso, o que não acontecia tempos atrás. Atualmente existe um relaxamento pela questão digital e, apesar dele ter convivido muito com o digital, que evoluiu ainda mais, o apuro técnico, o cuidado com a cena, permanece fundamental...”
Guilherme tem no currículo muitas fotos para cadernos Casa&Cia, mostras e revistas da Associação Sala de Arquitetos, livros e projetos editoriais e documentais, envolvendo arte, jornalismo e memória, conciliando a fotografia comercial com outras vertentes. Também um acervo fotográfico de mais de três décadas de imagens feitas pelo pai, que pretende digitalizar e disponibilizar de alguma forma para o patrimônio histórico de Caxias. “Já teve uma exposição em 2014, mas quem sabe fazer um arquivo digital, ou lançar uma coletânea de livros. São mais de 300 mil negativos e entre 20 mil a 30 mil slides, então é um trabalho gigantesco, mas acredito que importante para a cidade.”
Casado com a arquiteta Fernanda Tissot e pai de Olivia, de cinco meses, quando não está vendo reviews de novos equipamentos ou tutoriais de fotografia, ou ainda clicando a bebê, gosta de praticar crossfit, que ajuda a dar preparo para a rotina de sessões fotográficas – sobe, desce, prepara luz... – e aliviar o estresse. Profissionalmente, um projeto que tirou do papel esse ano é dedicar um turno por semana à própria oficina criativa, fazendo experimentações e colocando em prática ideias que o satisfaçam, sem precisar submeter a alguém que aprecie. Projetos de ensino, que ajudem as pessoas a entenderem mais de fotografia e como aproveitar melhor os recursos do celular, por exemplo, para fazer fotos com mais qualidade, também estão entre as intenções.
Fonte: Afrodite 46