Foto Fabio Grison
“Não consigo separar conhecimento de desenvolvimento e de felicidade. Tenho que ser um instrumento da paz, num mundo que pode não ser de paz, mas nós precisamos ser da paz”
Reconhecido por liderar projetos sociais como o Mão Amiga e pelas mensagens de positividade que propaga em diferentes meios, o frei Jaime Bettega construiu sua trajetória religiosa alicerçada na busca por conhecimento. Formado em Filosofia, Teologia e Administração de Empresas, conclui doutorado com tese sobre a compaixão no trabalho. Professor universitário há 14 anos, é também escritor, palestrante e participa diariamente na rede Tua Rádio, Tua Rádio São Francisco e Maisnova FM.
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Menino do interior que queria estudar
Nascido em maio de 1960 no hospital Pompéia, frei Jaime é o quarto de seis irmãos. Filho de agricultores – o pai faleceu quando ele tinha 12 anos –, cresceu em Nova Palmira, interior de Caxias do Sul, onde permaneceu enquanto podia estudar. Para seguir aprendendo, foi morar com um casal de idosos, em Galópolis, onde fazia todo o serviço da casa. Aos 14 começou a trabalhar com carteira assinada em um polimento metalúrgico. E foi como funcionário da Gráfica São Miguel que acabou entendendo que ser frei capuchinho era sua vocação.
A descoberta foi processual, primeiro engajando-se como catequista da igreja dos Capuchinhos (Paróquia Imaculada Conceição), no grupo de jovens e servindo mesas nas festas da comunidade. Completou o Ensino Médio em Garibaldi, quando entrou para o seminário, em uma experiência nova, para jovens maiores. Daí foram dois anos intensivos de Filosofia na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e um de noviciado em Marau, para se tornar irmão capuchinho. Após estudar Teologia, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), fez um ano de prática pastoral em Caxias. A ordenação como sacerdote ocorreu em dezembro de 1986.
Trajetória acadêmica entrelaçada à religiosa
Aos 26 anos, frei Jaime foi desafiado a assumir a linha de frente da paróquia de Maracajá, no Sul Catarinense. A volta para Caxias veio com a oportunidade de cursar Administração de Empresas. “O curso não foi uma escolha minha, mas agradeço por ter feito, pois deu contorno aos meus sonhos, ferramentas para viabilizá-los.” Especializado em Gestão de Pessoas, foi convidado a ser professor da UCS. Fez mestrado, trabalhando uma temática que deu origem a um curso de pós-graduação inédito no Brasil: Espiritualidade nas Organizações. Sem cessar o desejo de se aperfeiçoar para melhor servir, desenvolveu doutorado na área da compaixão na gestão, com parte da pesquisa realizada na Itália. “Não consigo separar conhecimento do desenvolvimento e da felicidade. Num mundo de movimento continuado e veloz, precisamos do aporte da ciência para abordar certos temas e transformar situações, talvez do uso do poder, da liderança, humanizando ambientes e também gerando resultados palpáveis.”
Os maiores sonhos do frei capuchinho relacionam-se aos projetos sociais. Fundador do Projeto Mão Amiga, que encaminha crianças carentes de zero a quatro anos para vagas na educação infantil, e está completando 10 anos, tem o olhar voltado para a transformação social. A associação virou franquia solidária em outras cidades da região e, em Caxias, além de viabilizar vagas para meninos e meninas nas escolinhas, administra outros cerca de 18 projetos que atendem de crianças a idosos em vulnerabilidade social. São mais de 200 voluntários e 180 funcionários envolvidos nesse trabalho.
Transmissor de mensagens inspiradoras
Autor de sete livros, o frei foi Patrono da Feira do Livro de Caxias em 2014. É seguido nas redes sociais – só no perfil do Facebook são mais de 162 mil seguidores – e admirado pelas mensagens inspiradoras e cheias de esperança, que cativam independentemente de religião. A coluna diária no jornal Pioneiro também vai na íntegra para o Facebook e na forma de frase e imagem para o Instagram. “Tento falar do significado da vida, do cotidiano. Somos desafiados ao longo da semana pelas ocupações profissionais, a subsistência, sem muitos intervalos, então precisamos às vezes de uma frase, uma palavra. Procuro não tratar a questão religiosa, mas espiritual, não como alguém que busca adeptos para essa ou aquela religião, mas que possa estar lado a lado com pessoas que também se sentem protagonistas da própria história e querem assimilar a espiritualidade como uma contribuição para plenificar a existência.”
Ele prefere não se posicionar, nos seus espaços, numa visão política ou ideológica. “Acredito que o mundo não quer polêmica, que podemos crescer na tomada de consciência sem perder a paz, aprender sem precisar sofrer para isso.” Seus posts no Face recebem em média 200 comentários por dia e ele tenta ler todos e responder pessoalmente os que exigem um algo a mais. Fica feliz em ver que é lido por pessoas de pouca e muita idade. Seu ideal é prestar um serviço para o bem comum. “Minha inspiração é franciscana. É dedicada a São Francisco a oração ‘Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz’... essa introdução para mim é quase um lema. Tenho que ser um instrumento da paz, num mundo que pode não ser de paz, mas nós precisamos ser da paz”.
SOCIAL Projeto Mão Amiga virou franquia solidária em cidades da região e, em Caxias, atende a crianças e idosos em vulnerabilidade social / Foto Fabio Grison
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