Warning: ini_set(): A session is active. You cannot change the session module's ini settings at this time in /home2/revis236/public_html/kernel/ApplicationBootstrap.php on line 21
Sobre o politicamente correto | Pitaco | Revista Afrodite

Sobre o politicamente correto

Raw Pixels
Raw Pixels

Usada para descrever a adoção de palavras/ações que não ofendam grupos considerados minoritários e oprimidos, como mulheres, negros, homossexuais e deficientes, a expressão é defendida por uns e criticada por outros, que a entendem como uma espécie de censura “por ter ido longe demais” ao impedir a livre manifestação. Qual a sua opinião? 

Essa expressão seria desnecessária se houvesse bom senso, educação e principalmente respeito pelo próximo, valores aprendidos no primeiro núcleo social, a família. Seria preciso tal expressão para não ultrapassar o limite do razoável? Até que ponto temos o direito de agredir ou denegrir alguém? Seria utopia esperarmos da humanidade algo tão simples como consideração pelo semelhante?! Qualquer ser humano merece respeito na sua essência e singularidade, independentemente de quem seja, apenas colocando-se no lugar do outro: “Se fosse eu”? Com essa atitude singela, o mundo certamente seria um lugar sem tantas críticas e muito mais acolhedor. Atualmente não se pratica uma regra fundamental de convivência, como refere Spencer: “A minha liberdade termina quando começa a liberdade do outro”. Existe uma diferença gritante entre ser sincero e falar o que se pensa. As pessoas sentem-se no direito de expor sua opinião sem levar em consideração o outro, mas é justamente através do outro que as diferenças se apresentam, e é através delas que se propicia o crescimento, já que o igual é a estagnação. Respeito é o mínimo que se espera!

Dulce M. Martins, psicóloga clínica


O politicamente correto é o que há de mais engessado na vivência humana, um retrocesso na liberdade do ser, que vem acompanhada de respeito, principalmente a si mesmo. Respeitar o outro, tratá-lo de forma cortês, educada, sem causar-lhe constrangimento, é fundamental para a convivência social. Porém, o que não pode acontecer é que se estabeleça de um lado, afetar a virtude no fingimento e na covardia e, de outro, a cultura do ‘coitadismo’. O ser humano é dotado da capacidade de raciocínio, imitação e imaginação. Também de comunicar suas ideias com objetivo de conquista, ao trocar informações ou simplesmente expressar o que sente. Durante séculos, os indivíduos chegaram ao ponto de se enfrentar mutuamente, até o extremo do extermínio, por causa de ideias. Guerras religiosas e políticas foram, em última instância, sobre ideias e ideais, sobre concepções heterogêneas acerca da transcendência, pelas quais muitos estavam dispostos a morrer e a matar. Já usado para descrever ideologia política e para ironizar exageros entre o próprio grupo que usava o termo, o politicamente correto não é eficaz em seu propósito, pois a censura não muda pensamento, apenas o impede de ser manifestado.

Milla Magnabosco, fotógrafa


Como nunca na história, as pessoas mostram-se tão mobilizadas com o uso dessa expressão. Num primeiro momento, ela nos remete à justiça, igualdade, respeito... palavras que apontam para um questionamento ético, sinônimo de educação. Mas, também, pode representar um deboche, por ir justamente na direção oposta, ou seja, ser usada pela razão cínica de levar vantagens. Muitas das lutas travadas tendo como mote inicial o politicamente correto tomam um rumo muito diferente, interferindo no discurso social equivocadamente. Tão comentado e criticado, o assunto sobre as cores de meninas e meninos traz a polêmica e polarização que sempre se efetivam a partir desse conceito, além de todo o contexto de conflitos existentes nos temas do feminismo e da identidade de gênero. O que chama atenção são as derivações esdrúxulas que surgem. No caso em questão, como alguém pode acreditar que uma criança possa se constituir psiquicamente sem que lhe seja dado atributos, sem que lhes diga isto pode, isto não pode; você é uma menina, você é um menino. Não é de se surpreender que hoje existam tantos adolescentes transbordando de angústia e para contê-la  se cortam, buscando na dor física uma resposta sobre: “Quem sou eu?”

Margareth Kuhn Martta, psicóloga e psicanalista