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Reinvenção que veio para ficar | Especial | Revista Afrodite

Reinvenção que veio para ficar


Foto: Depositphotos

De uma hora para outra o mundo ficou quase 100% digital. A crise mundial de saúde obrigou a mudança de conceitos e formas de fazer das pessoas e empresas, numa alternativa para se manter funcionando, em movimento. Muita novidade surgiu dessa transformação, home office, eventos, reuniões, cursos online... mas o que disso tudo deve permancer quando o novo normal ficar desenhado?
Sair da zona de conforto e da rotina foi o desafio imposto pela pandemia do novo coronavírus, quando a reinvenção passou a ser a única forma de muitos salvarem seus negócios, manterem suas atividades e permanecerem ativos. Reinventar é transformar, fazer diferente, e o momento ideal para essa experiência é quando precisamos de algo mais, novo, mais efetivo, geralmente com ênfase nos momentos mais difíceis da vida.
E não há momento mais urgente do que uma pandemia, como a que estamos vivendo. A crise de saúde nos obrigou a buscar o melhor sem muito tempo para pensar e planejar. A mudança, mesmo não intencional, trouxe muita reinvenção, e muitas prometem que chegaram para ficar. Da arte e cultura, passando por religião, eventos, educação e empresas, os mais variados segmentos buscaram novas formas para se manterem funcionando. Adaptação que em muitos casos dá sinais de bons resultados e deve influenciar a rotina no pós-pandemia. É a reinvenção que veio para ficar. 

Home office, caminho sem volta
Fazer da casa o seu escritório não é novidade. Com a ascensão da internet e expansão das redes de comunicação, além da popularização dos dispositivos portáteis como laptops, smartphones e tablets, esse tipo de trabalho atravessou fronteiras, permitindo que atividades fossem realizadas de qualquer lugar. Porém, o home office era associado a freelancer, profissionais autônomos e de informática, web designer, blogueiros ou artistas. Com a pandemia e a necessidade de manter o distanciamento social, muitas empresas adotaram o sistema para garantir a segurança de seus colaboradores sem perder a produtividade. 
E o que veio como provisório será o novo normal de muitas empresas, que já projetam e estruturam a adoção do sistema de forma definitiva. Empresas públicas como Petrobras e Banco do Brasil, por exemplo, anunciaram que irão deixar parte dos funcionários em casa. O governo federal também irá manter o sistema para os servidores, e o Google optou por flexibilizar a presença de seus funcionários até julho de 2021, afetando cerca de 200 mil colaboradores ao redor do mundo. E a tendência deve ser seguida por outras grandes empresas. O Twitter já havia determinado que parte de suas operações se tornarão completamente à distância, sem previsão de retorno.
Para Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn na América Latina, a pandemia prova que o trabalho remoto é possível. Ainda que alguns gargalos tenham sido notados, é um caminho sem volta. “Empresas que não acreditavam na viabilidade do home office passaram a acreditar mais, e funcionários que achavam ser a solução da vida deles, agora acham que é bom passar alguns dias em casa e outros no escritório. Então caminhamos para um mundo intermediário daqui para frente”, afirmou durante participação na Expert XP 2020, congresso promovido pela XP Inc.
Em Caxias do Sul, o Grupo Brinox é um exemplo de empresa que seguirá o modelo híbrido, em casa e na empresa. Com 700 funcionários só na matriz, o projeto está em fase piloto, visto que boa parte da equipe administrativa e de áreas de suporte atua remotamente desde o final de março. Quando for possível a retomada, o formato semanal deverá ser com as equipes três dias em casa e dois na empresa, para alinhamentos, reuniões e comunicados em geral. De acordo com pesquisa da empresa, a ação que envolve cerca de 100 funcionários apresentou bons índices de satisfação e aumento de produtividade. Maior qualidade de vida, menos despesas e maior nível de concentração foram questões apontadas como pontos positivos no projeto.
Gerente de Recursos Humanos da empresa, Celiz Frizzo conta que o sistema já vinha sendo pensado. “Temos pessoas espalhadas pelo Brasil inteiro, por isso a questão do trabalho remoto é uma realidade há muitos anos. A situação forçada pela pandemia foi o empurrão que a gente precisava.” 

Eventos corporativos digitais
Adotado para tentar conter a proliferação do novo coronavírus, o distanciamento social atingiu em cheio o setor de eventos. Levantamento feito pelo Sebrae, em abril, mostra que 98% do setor foi afetado drasticamente. Diante dos adiamentos e cancelamentos das datas de 2020, empresários do segmento encontraram nas transmissões online uma alternativa para retomar as atividades e amenizar os impactos da crise. Aliando tecnologia e muita criatividade, a cada dia surgem novos formatos de eventos digitais: lives, webinars, reuniões, congressos, celebrações religiosas, formaturas, casamentos, entre outros.
Em Caxias, um grupo de empresários se uniu e montou um estúdio digital para eventos corporativos. Progressiva Som e Sul, Vip Som e Luz, Château Lacave e Wide Experiência Audiovisuais oferecem uma estrutura completa de sonorização, iluminação, gravação, transmissão, estúdio e equipe técnica, adotando sempre os protocolos de segurança, além de uma rede de internet adequada para evitar problemas na transmissão. Da mesma forma que um evento presencial, a produção online exige planejamento e organização para que a execução alcance o resultado esperado. 
Diretor da Progressiva Som e Sul, Fábio Oliveira diz que a necessidade de se reinventar motivou a parceria. “Com a pandemia, ficamos sem trabalho. Eu estava com equipamento novo, caro e parado. Então tive a ideia de montar um estúdio para eventos corporativos para usar a estrutura, mas precisava de um espaço amplo, em função dos protocolos de segurança. Foi então que nos unimos e montamos o estúdio digital, para atender a empresas e profissionais de diversas áreas de Caxias e região.” No estúdio, é possível produzir lives e também gravações, de cursos, por exemplo. “Escolhemos esse local para ter a possibilidade de perpetuar, de dar continuidade ao projeto mesmo quando as atividades e eventos do Château Lacave forem retomados, já que temos horários vendidos até janeiro.” 
Os eventos online têm sido uma boa opção, principalmente em relação ao custo, já que o aluguel de espaços e serviços são mais acessíveis. Enquanto os salões limitam o número de convidados, as plataformas digitais permitem acesso praticamente ilimitado, com pessoas de locais distantes que, em outras condições, não poderiam participar. Além disso, os canais possuem ferramentas e aplicativos que estimulam a interação e convidam à participação de maneira mais fácil e intuitiva. Utilizar a internet para potencializar o alcance de um evento é uma forma eficiente de otimizar os recursos e gerar resultados.
“As empresas estão conseguindo ter agilidade e custo baixo com os eventos online. Recentemente, fizemos uma convenção de uma empresa de Caxias com pessoas da Austrália participando ao vivo. Baixa o custo com transporte, estadia, alimentação e locação, que passa a ser um estúdio ao invés de um centro de eventos”, avalia Oliveira. O estúdio já contou também com um evento para venda de produto online e está com datas reservadas para lives e outras apresentações musicais. 
 Celiz Frizzo, da Brinox, ratifica as mudanças e observa que existe uma tendência de reinvenção no mercado das feiras, que movimenta muito a economia. “O contato físico não vai desaparecer, mas o grande aprendizado é que tudo o que fizermos agora bem feito e com frequência irá permanecer.” Ela conta que os treinamentos da empresa já estão todos online e observa que o momento serve ainda para a mudança de cultura e inserção do novo formato de forma definitiva, que pode atingir também a área comercial, com reuniões remotas com alguns clientes. “Vamos valorizar ainda mais o contato pessoal, o presencial será para os momentos realmente importantes, não banalizar tanto a viagem. Acreditamos ser possível manter essas boas práticas.” 
Apesar de parecer o caminho natural, nem todas as empresas despertaram para o mundo digital, comenta Monica Reis, que presta serviços no segmento de feiras e eventos corporativos. “Esse mercado está parado, não sabemos quando será retomado, então a reinvenção está nos eventos online. Nos grandes centros, como São Paulo, essa ideia já é melhor trabalhada, já está acontecendo, enquanto que por aqui ainda há resistência. Mas esse modelo será o novo normal, eventos totalmente online ou híbridos”, assegura. Segundo ela, as feiras terão novos formatos, com estandes virtuais, onde o cliente acessa e os visita numa plataforma online. “Ainda é muito recente na cabeça do empresário, mas com o cancelamento das feiras presenciais, até o final do ano virão novos protocolos e mais definições para realmente criar uma demanda no setor”, pondera.

Transformações no e-commerce
Nenhuma novidade para alguns, a venda online se tornou a única opção para muitos neste período, e as empresas que digitalizaram parte da operação às pressas não pretendem abandonar a estratégia virtual quando puderem reabrir 100% as portas. O mesmo se aplica aos consumidores. Pesquisas informais apontam o desejo de continuar usando a internet para fazer compras, mesmo depois do isolamento.
O aumento das compras online pode ser atribuído a uma série de fatores, entre eles, o conforto. Muitos consumidores forçados a aderir a modalidade não pretendem abrir mão da comodidade descoberta, que se estende de serviços bancários a compras de itens simples para o dia a dia. Pessoas que nunca fizeram mercado pela internet, por exemplo, puderam ter sua primeira experiência e, quem sabe, transformá-la num novo hábito. Os supermercados, que antes apenas disponibilizavam as entregas, agora já realizam operações via internet, como é o caso da rede Andreazza, que antecipou o lançamento da sua loja online, inicialmente programada para o segundo semestre.
Recente estudo da consultoria de gestão estratégica Kearney analisou os impactos da Covid-19 no comportamento de consumo dos brasileiros. Ele indica que as compras online devem registrar R$ 111 bilhões em 2020 – 49% mais do que em 2019, quando o mercado faturou R$ 75 bilhões.
O mercado brasileiro de comércio eletrônico já vinha registrando índices de crescimento maiores que o do varejo tradicional há alguns anos: análise realizada com base em dados da Euromonitor mostra que, entre 2014 e 2019, o e-commerce cresceu cinco vezes mais rápido que o comércio tradicional. No período, o volume de visualizações no site Americanas.com saltou de 90 milhões de visitas/mês para 134 milhões. O mesmo ocorreu com a Amazon.com, que passou de 52 milhões/mês para 73 milhões; com as operações online do Magazine Luiza, de 47 milhões para 73 milhões; e das Casas Bahia, de 35 milhões para 70 milhões. Na prática, o aumento significa que no período mais crítico de isolamento social, quatro em cada cinco brasileiros realizaram alguma compra online, com grande destaque para alimentação, pronta ou não.
O comércio varejista também precisou se reinventar diante da crise econômica que atingiu os comerciantes do dia para a noite. De olho no comportamento do consumidor, o Sindilojas Caxias lançou no mês de julho o Sindi Store, plataforma coletiva de e-commerce completa, idealizada para fortalecer o comércio local. Reúne comerciantes de pequeno e médio porte da região para que os consumidores possam conhecer, valorizar e consumir mercadorias vendidas pelo comércio local.
Para a presidente do Sindilojas Caxias, Idalice Manchini, a iniciativa vai impulsionar as vendas: “O distanciamento social acelerou o processo de digitalização. Estar conectado por meio da venda online é essencial para estar ao alcance do cliente e contribuir para a sobrevivência do negócio.” Ela destaca ainda que o momento é de união, e o Sindi Store surge como uma solução para melhorar as vendas das empresas associadas e fortalecer o comércio local, movimentando a economia da região. A adesão à loja virtual completa tem custo zero, sem mensalidade e outros investimentos.
 
Desafios do ensino
Em todo o mundo, mais de um bilhão e meio de estudantes tiveram a escola fechada por conta da pandemia de Covid-19, de acordo com a Unesco. Emergencialmente, muitas instituições adotaram o ensino a distância, revelando diversos problemas e oportunidades desse sistema de aprendizado. Cursos de graduação precisaram se adaptar para evitar atrasos e evasão de alunos. O impacto é que, em um futuro próximo, a graduação pode seguir uma linha mista, de cursos presenciais com aulas virtuais, com uma proposta mais interativa.
É bom lembrar que o ensino a distância já era realidade de muitas instituições mesmo antes da pandemia, com na Unicesumar, por exemplo, que atua em todo o país na modalidade híbrida. A expectativa, agora, é que a educação a distância (EAD), que tanto preconceito sofre, seja reconhecida como eficaz, fazendo gestores mais resistentes perceberem a possibilidade.
Para a Universidade de Caxias do Sul, as vivências digitais nos cursos presenciais já vinham acontecendo, porém, ainda encontravam certa resistência por parte de alguns estudantes. Pró-reitora acadêmica da UCS, a professora Nilda Stecanela explica que o ambiente virtual de aprendizagem existe há uma década e teve adequações. “Antes da pandemia vínhamos experimentando, e a instituição realizava a formação contínua de professores. Então, o processo vinha em acelerado movimento, mas ainda com um grupo de professores que não estava em sintonia. Agora, em 100% deve acontecer desse modo e quem estava distante, procurou a formação.”
 A adesão ao ambiente virtual tem sido muito boa, de acordo com a universidade. No primeiro semestre, atingiu a melhor média geral da avaliação online da UCS, iniciada em 2002. A avaliação dos alunos para os professores atingiu 4,57 de média geral de um total de 5. “Novas formas de ensinar e aprender foram sistematizadas e implementadas no período da pandemia. Os percursos são singulares, de cada estudante, de cada professor.”
Importante observar a distinção entre EAD e educação presencial com vivências digitais ou interações online. A primeira acontece de modo assíncrono, ou seja, o tempo de aula e aprendizado quem escolhe é o estudante. Já na segunda modalidade, aulas acontecem sincronicamente, com mais interação entre aluno e professor, fórum de discussão em grupos e no coletivo. 

Tecnologia na rede hoteleira 
Após o impacto inicial trazido pela crise sanitária, a indústria do turismo mundial, que até três meses atrás representava 10% do PIB global e cerca 13% dos empregos do planeta, ainda não sabe quando efetivamente retomará suas atividades. Enquanto isso, adota medidas para garantir a segurança dos hóspedes e se reinventa através do uso da tecnologia. 
Experiências com pouco contato, um novo redesenho de áreas comuns e a tecnologia de limpeza são algumas das mudanças apontadas por Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels. “Temos vários programas novos, como a utilização de apartamentos como escritórios, mas o que veio para ficar é uma higiene mais apurada. Os materiais impressos como cardápio e informativos foram tirados dos apartamentos e o acesso se dá através do celular. Ou seja, o que mais influenciou foi o uso da tecnologia para substituir alguns serviços. Essa é uma consequência fabulosa”, destaca Aoki.   
A Blue Tree foi a primeira rede hoteleira no Brasil a passar a utilizar, ainda no segundo semestre de 2019, o web check-in com reconhecimento facial pelo equipamento (celular, tablet ou computador) do próprio hóspede. Em breve, a rede implantará o web check-out, também com o objetivo de valorizar o tempo do cliente e assegurar o distanciamento.