No último mês de janeiro aconteceu em Davos, na Suíça, a 50ª edição do maior evento de líderes mundiais, para discutir questões urgentes enfrentadas mundialmente. Na ocasião, a CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Mariana Luz, esteve presente no encontro entre os integrantes do Young Global Leaders – uma organização de jovens líderes globais – para tratar sobre o tema da primeira infância. A pauta: buscar alternativas que contribuam para os objetivos do desenvolvimento sustentável, especialmente as metas relacionadas às crianças.
Num primeiro momento, pode causar certa surpresa a abordagem de questões relacionadas a primeira infância, neste contexto que reúne políticos, empresários, jornalistas e intelectuais de diversos lugares do mundo. No entanto, está cada vez mais evidente que a chave para um país que deseja prosperar com qualidade de vida e sustentabilidade, está em investir nos primeiros anos de vida das crianças. O motivo? Vamos aos fatos:
No ano 2000 o economista dos Estados Unidos, James Heckman, recebeu o Prêmio Nobel de Economia por comprovar que os cuidados com a primeira infância são uma parte muito importante da economia mundial. Segundo ele, cada dólar investido na primeira infância proporciona cerca de 13% de rendimento anual. Sendo assim, um ambiente saudável, do ponto de vista físico e emocional, da gestação até os cinco anos de idade, evitaria muitos gastos futuros com saúde, educação, segurança, assistência, entre outros.
Isso acontece porque nos primeiros anos de uma criança temos as chamadas janelas neurológicas, momentos de maior abertura à recepção de determinados estímulos. Quando ocorre o fechamento dessas janelas o efeito de uma inscrição é muito mais difícil. Em outras palavras, embora o cérebro humano se desenvolva durante toda a vida, é nesses primeiros anos que a criança constrói o alicerce para a evolução de habilidades tais como a resolução de problemas, planejamento, criatividade e pensamento flexível. Características essas imprescindíveis para os futuros profissionais, que mais tarde poderão lançar mão de estratégias exitosas nas mais diversas áreas de atuação. Em nenhum outro período da vida o ser humano fará tantas aquisições quanto na primeira infância.
Dessa forma, a CEO Mariana Luz ressalta que, quando se trata de economia, não há nenhuma abordagem que deixe de considerar a importância dos cuidados dispensados com os bebês e as crianças pequenas: desenvolvimento sustentável, meio ambiente, tecnologia. Tudo passa pela infância e pela qualidade do desenvolvimento humano.
E, para garantir a qualidade do desenvolvimento das crianças, o ambiente em que ela circula e as primeiras experiências que vive são muito importantes. No que diz respeito ao desenvolvimento humano, os fatores ambientais são tão importantes quanto a genética. Estar entre grupos de refugiados, pessoas em situação de extrema pobreza, vítimas de violência doméstica e a exposição precoce à tecnologia são alguns dos fatores que interferem na estrutura cerebral, deixando marcas físicas e psíquicas, cujos efeitos podem limitar o potencial humano.
Para citar alguns exemplos: há relatos de crianças refugiadas, na Suécia, que após a vivência de sucessivas situações traumáticas, pela família, desenvolvem um quadro semelhante ao coma, passando meses neste estado; em situação de extrema pobreza, os bebês e as crianças pequenas geralmente não recebem os nutrientes necessários para um desenvolvimento saudável, apresentando vários déficits; em situação de violência doméstica, as crianças em idade escolar estão mais propensas a apresentar dificuldades de comportamento e aprendizagem; sem falar no aumento do diagnóstico de quadros semelhantes ao autismo, em crianças com histórico de exposição muito precoce à tecnologia.
Neste cenário, torna-se evidente a importância do investimento no cuidado com os bebês e as crianças pequenas, proporcionando condições adequadas também para aqueles que se ocupam delas – pais e profissionais – para que possam exercer esse cuidado de forma saudável. Cuidar da primeira infância não é responsabilidade apenas dos pais ou das famílias, mas de toda a sociedade, incluindo os governos, a indústria, a mídia... Todos nós somos responsáveis e devemos proteger a primeira infância, proporcionando um ambiente social favorável ao desenvolvimento humano, com estímulos adequados, interações e brincadeiras prazerosas, garantindo a presença efetiva dos adultos. Essas são algumas das condições que possibilitam à criança a se interessar pela vida, a explorar o meio que a cerca e a interagir socialmente de forma a estabelecer laços protetivos e duradouros. Como refere James Heckman: o afeto investido nos primeiros anos é capital humano e parte importante na economia mundial.