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Por Claudia Chiele
JORNALISTA
Você sabia que 93% da comunicação humana acontece de forma não verbal, ou seja, apenas 7% está relacionada ao que dizemos em palavras. Assustador? Revelador também. Nos ensina que precisamos prestar mais atenção à mensagem corporal que estamos enviando através das expressões faciais, gestos, tom de voz... Estudos afirmam que é possível descobrir e transmitir intenções sinceras, ou não, ao reconhecer esses sinais, o que torna a linguagem silenciosa uma eficiente forma de dialogar
A primeira impressão é a que fica! Quem nunca ouviu essa expressão? Pode parecer injusto, mas o primeiro contato com alguém pode ser o momento divisor entre ela confiar ou não em você. Entretanto, o que não levamos em consideração é que muito mais do que se fala tem influência na hora de deixar uma marca. O tom vocal e até mesmo a linguagem corporal são determinantes para que o outro construa uma imagem sobre nós.
A comunicação é a base de qualquer relacionamento entre os seres humanos, sendo a expressão corporal a forma mais antiga dela – e também a mais importante. Tanto que o tema rendeu o conhecido livro O Corpo Fala (Pierre Weil e Roland Tompakow - 1986), que tenta desvendar a linguagem silenciosa que manifestamos, mas que tendemos a ignorar na relação com o outro.
Um discurso deve ser marcante e preciso, sim, é verdade, mas estudos mostram que apenas 7% da comunicação é relacionada às palavras, enquanto 93% dela ocorre de forma não verbal, através do tom de voz, da intensidade, da postura, das microexpressões, e até da forma de andar. Ou seja, tudo comunica.
Autoconhecimento
Cheia de detalhes, a linguagem corporal deixa pistas sobre o comportamento humano. Portanto, se usada de maneira correta, é uma excelente ferramenta para mudar a vida das pessoas.
Uma parte considerável de qualquer desenvolvimento pessoal é o autoconhecimento. Entender as próprias emoções e saber administrá-las ajuda, e muito, a melhorar o funcionamento do organismo e a encontrar o equilíbrio. A comunicação não verbal está nos mínimos detalhes, daí a relevância de se conhecer bem e se estar atenta às impressões deixadas nas pessoas. O lado bom é que estamos em constante evolução e nossas habilidades podem sempre ser melhoradas.
Todas temos trejeitos e uma postura ao falar, que dizem muito sobre o que estamos sentindo em cada momento, mas nem sempre prestamos atenção a esses sinais. É o que afirma a master coach e analista de perfil comportamental, Denice Garbin Mincarone. “As pessoas comunicam algo com palavras que muitas vezes não estão alinhadas ao que o corpo e semblante estão dizendo. Se falo algo e, internamente não estou convencida disso, as minhas microexpressões me denunciam”, explica Denice, que também é diretora da Febracis Florianópolis e Blumenau.
Quando tomamos consciência sobre a importância da comunicação não verbal, podemos utilizá-la não somente para avaliar os outros, mas para moldar a nós mesmas de acordo com o que desejamos ser. “Se a pessoa entende do assunto, já comunica em palavras a mesma coisa que o corpo comunica, seja através do sorriso ou da cara fechada, no olhar mais tenso e para onde olha, na postura. A emoção que carregamos na voz também diz muito”, observa.
Reações físicas, como dores ou doenças, são outras formas de expressão corporal. “Tanto que o corpo fala que as próprias doenças são manifestações do que está na nossa mente, na comunicação interna. O corpo sente e acaba externando.” Em síntese, o corpo somatiza o que não vai bem na mente e verbaliza as questões, mas geralmente as pessoas não associam problemas psicológicos a dores físicas.
Linguagem corporal a seu favor
No ambiente corporativo, fazer bom uso da entonação da voz e da linguagem corporal ajuda muito na obtenção de êxito, já que revelam muito mais do que as palavras. “Como gestora, tenho que fazer com que meu colaborador se sinta com a autoestima elevada, pois isso influencia no resultado dele. Não adianta apenas dizer que seu trabalho está bom, tenho que trazer emoção para a minha voz e para o meu corpo, falar de forma altiva, olhando no olho dele e com sorriso no rosto. Se utilizo todos os recursos de comunicação, obtenho um resultado potencializado do meu colaborador”, observa Denice.
Para quem está procurando emprego, a sugestão é o uso da linguagem corporal como ferramenta colaborativa para conquistar a vaga almejada, um quesito utilizado por muitos recrutadores para avaliar o perfil de candidatos em seleções de emprego. A dica é ficar atenta à comunicação oral e à postura durante a entrevista. Sorrir de forma natural para todos ao entrar na sala pode estabelecer um clima agradável e uma conexão interpessoal, além de transmitir mais segurança e simpatia. O aperto de mão vem em seguida e deve ser firme, mostrando confiança. Ao sentar-se, mantenha a coluna ereta ou levemente inclinada na direção do recrutador, evidenciando equilíbrio e interesse. Sabendo utilizá-las bem, a chance de conquistar o emprego desejado é maior.
Teatro como aliado
Mais do que as habilidades sociais, a prática teatral trabalha com a expressão corporal e revela-se uma grande aliada da linguagem não verbal. Por meio dos exercícios, o aluno aprende a utilizar todo o potencial de seu corpo para se comunicar de maneira clara e sem exageros. “Dentro da arte, os corpos são preparados para trabalhar a expressão, e esse caminho de preparação, flexibilidade, disponibilidade para a cena e liberdade corporal, também reflete no dia a dia”, explica a atriz e diretora da Companhia Tem Gente Teatrando, Zica Stockmans. Ela observa ainda a existência de um corpo político, que comunica ideologias. “Não é uma mensagem óbvia, mas subliminar, que manifestamos até através da roupa que vestimos quem somos e o que pensamos.”
A manifestação por meio do corpo se dá também pela estrutura física, pelo biotipo de cada pessoa, segundo Zica. Ela pondera que hoje há uma gama maior de corpos aceitáveis.“A democracia corporal está se transmutando. Os corpos sempre foram um lugar de falar, mas haviam padrões muito rígidos de comportamento. Agora temos uma liberdade maior e cada indivíduo se comunica através de tatuagem, do corte de cabelo, da sua sexualidade, do peso, da cor de pele e da moda.”
A fotografia fala
Em tempos de intensa atividade nas redes sociais, não é apenas um textão no Facebook ou uma legenda criativa no Instagram que expressam nossa opinião e personalidade, as fotos dizem muito sobre quem somos.
O fotógrafo Silas Abreu enfatiza que a imagem tem que falar sem palavras. “Vivemos em um tempo onde todo mundo tem seus 15 minutos de fama. As pessoas não estão simplesmente postando fotos nas redes sociais, mas pensando numa mensagem, preocupadas com conteúdo.” Ele observa que não importa quem seja, todos têm uma causa e uma mensagem, por isso, o tema é pertinente para todos, mesmo quem não é profissional da imagem.
Atento à importância de expressar o que realmente se deseja e espera, Silas ministra o curso online Linguagem Corporal na fotografia de moda, voltado para fotógrafos, modelos, estilistas, publicitários e videomakers. “As pessoas passam mensagens mesmo sem querer, o tempo todo, e quando se está na frente da câmara, isso é potencializado. Uma foto também fala.”
A ciência por trás da linguagem corporal
Os primeiros estudos científicos sobre linguagem corporal foram publicados por Charles Darwin, no século 19. O naturalista e cientista inglês nos mostrou que emoções são universais, pois podemos reconhecer uma expressão triste em uma pessoa em qualquer lugar do mundo, por exemplo.
Comprovando os estudos de Darwin, o pesquisador e psicólogo americano Paul Ekman, pioneiro no estudo das emoções e fisionomias faciais, identificou que sete emoções são consideradas básicas: raiva, medo, tristeza, desgosto, desprezo, surpresa e alegria. Expressões que qualquer criança, no mundo inteiro, consegue reconhecer. O estudioso também foi responsável por catalogar todos os movimentos musculares do rosto humano e, conforme seu levantamento, nossa face é capaz de fazer cerca 10 mil expressões faciais.
A psicóloga e escritora Amy Cuddy mostra que a linguagem corporal certa pode deixar as pessoas mais seguras. Já parou para pensar sobre o que seu corpo comunica acerca da personalidade? O sorriso no rosto pode mostrar simpatia, enquanto os braços cruzados revelam possível incômodo com a situação. Chegar à sala de aula e ficar encolhido na cadeira demonstra insegurança. Coluna ereta e queixo erguido, por outro lado, podem evidenciar uma personalidade mais decidida. Para Cuddy, autora do livro O Poder da Presença, a mente é capaz de moldar o corpo, e a atitude corporal também tem poder de modificar a mente. Segundo ela, não se trata de fingir ser algo, mas de se tornar algo a partir do que se pensa.
O corpo fala, por isso é fundamental ficar atenta ao que você manifesta de forma não verbal, pois mesmo que o outro não consiga ler nossos pensamentos, é possível descobrir, ou deduzir, muito a partir dos nossos gestões e expressões. Ou seja, uma comunicação corporal descuidada pode acabar sabotando seus objetivos e reais intenções.
Como avaliar a linguagem corporal no outro
Além de comportar-se de maneira padronizada com a sua comunicação verbal, a linguagem corporal pode ser observada nas outras pessoas. Tente identificar alguns
dos sinais abaixo:
- Pernas e braços cruzados, geralmente, demonstram resistência às ideias sendo apresentadas.
- Sorrisos genuínos são denunciados por olhos franzidos. Quando não há sinceridade, eles dificilmente são flexionados.
- Identifique a postura da pessoa. O corpo ereto reforça o interesse e atenção de quem está em uma conversa com você.
- Sobrancelhas constantemente levantadas podem denotar surpresa, preocupação ou medo. Avalie a situação lendo-as de acordo com o desenrolar da interação.
- Mandíbula contraída é sinal de estresse. Por isso, atente-se a esse fator caso a conversa esteja tensa ou possa mostrar isso sobre as pessoas com quem você está interagindo.
Como trabalhar a linguagem corporal
- Use e abuse do contato visual: o olhar transmite confiança e mostra que você está prestando atenção na pessoa à sua frente. Evite dispersá-lo para outros lugares.
- Direcione-se para o interlocutor: é importante ter em mente que você deve direcionar o corpo para quem está interagindo com você, e o seu rosto é o grande responsável pelas suas expressões.
- Foque também no tom de voz: ao conversar, observe para que sua voz acompanhe o objetivo que a sua expressão facial e mensagem verbal estão tentando transmitir.
- Atente-se aos gestos: pernas agitadas ou qualquer outra ação repetitiva, que não tenha a ver com o momento de uma interação, pode significar que você está sem interesse ou mesmo com pressa para encerrar a conversa. Se essa não for sua intenção, pode estar sabotando seus próprios objetivos. Experimente controlar trejeitos ou usá-los para que tenham, mais uma vez, a ver com a sua mensagem verbal.
Fonte: Febracis (https://febracis.com/linguagem-corporal)
Para você saber mais
Lie To Me A série (Fox) trata da questão da interpretação das expressões corporais humanas. Dr. Cal Lightman estuda a linguagem não verbal para determinar quando uma pessoa está mentindo e o porquê. |
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A Linguagem das Emoções Livro de Paul Ekman, que também é consultor da série Lie To Me, aborda a possibilidde de aprender a nossa linguagem não verbal e ainda mais: como identificar tais sinais no outro. |
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O Corpo Fala De Pierre Weil e Roland Tompakow, tenta desvendar a comunicação do corpo humano, trazendo expressões, gestos e atos corporais que mostram sentimentos, concepções ou posicionamentos internos. |
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O Poder da Presença Escrito por Amy Cuddy, pesquisadora de Harvard, sugere que a transformação da mente parte da mudança de comportamento e ensina técnicas para superar o medo em momentos de pressão e melhorar nosso desempenho. |