O mundo precisa, cada vez mais, de atos solidários. A boa notícia é que a ajuda ao próximo
vem crescendo, ampliando os benefícios para quem necessita e também para quem apoia. Em Caxias do Sul, a Parceiros Voluntários é um dos elos entre quem precisa e quem quer ajudar. Vontade
é o primeiro passo para quem deseja fazer
Somos 8 bilhões de pessoas na Terra. Assim que atingimos esse marco histórico, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um apelo: é imprescindível que a humanidade seja solidária para garantir o avanço do desenvolvimento sustentável para todos. Precisamos assumir a responsabilidade compartilhada de proteger as pessoas e o planeta, a começar pelos mais vulneráveis. E há motivos para acreditar que isso é possível, pelo menos no Brasil. Um estudo global aponta que, pelo quarto ano consecutivo, o país subiu no ranking geral de nações mais solidárias do mundo, pulando da 54ª posição em 2021 para a 18ª em 2022.
A World Giving Index é uma pesquisa da organização britânica Charities Aid Foundation (CAF), que já entrevistou quase 2 milhões de pessoas desde 2009. Três perguntas são feitas ao redor do mundo: você ajudou um estranho, doou dinheiro a uma organização social ou fez algum tipo de trabalho voluntário no mês passado?
O crescimento brasileiro foi registrado em todas as categorias de avaliação, sendo ainda mais expressiva na “ajuda a um desconhecido”. O país passou de 36° para o 11° lugar em apenas 12 meses. Em um mundo que parece cada vez mais individualista, nunca foi tão importante resgatar o significado dos gestos altruístas e compreender o quanto eles podem transformar vidas – não apenas daqueles que são beneficiados, mas também de quem pratica essas ações.
O ELO ENTRE DAR E RECEBER
Caxias do Sul tem tradição quando o assunto é solidariedade, com incontáveis organizações voltadas a diferentes públicos em situação de vulnerabilidade social. Criada há 24 anos, a Parceiros Voluntários é referência na articulação dos atos de generosidade na cidade. A organização atua como facilitadora entre pessoas, empresas, entidades e escolas que querem disponibilizar tempo e conhecimento para ajudar a atender as demandas sociais do município.
Na prática, são três frentes de trabalho: desenvolvimento da cultura do voluntariado organizado; aplicação de metodologias para levar sustentabilidade, gestão qualificada e transparência às entidades; e estímulo ao protagonismo juvenil em escolas públicas e privadas. O resultado dessa conexão pela solidariedade é um total de 3.607 voluntários cadastrados que atuam em prol de mais de 4 mil pessoas atendidas em 66 entidades conveniadas. Para a atual presidente da Parceiros, Sonia Monegat Terres, a principal consequência dessa convergência é a colaboração ativa por um mundo melhor, mais seguro e justo para toda a coletividade. “A gente ouve muitas queixas das pessoas sobre a sociedade, mas essas mesmas pessoas nem sempre adotam uma postura atuante, de solução. Não adianta reclamar, eu preciso atuar. Se quero um mundo melhor para viver, tenho que ser proativo”, afirma.
VONTADE É PONTO DE PARTIDA
Com a rotina cada vez mais acelerada, é comum que as pessoas não priorizem práticas solidárias por falta de tempo, mas a presidente da associação garante que não é necessário dispor de vários turnos ou dias livres na semana para se engajar no voluntariado. “Para a entidade que está precisando, uma hora por semana já faz diferença. Isso porque somos uma rede. Juntando as mãos é que alcançamos os resultados. Basta ter vontade que a gente consegue contribuir”, assegura.
Quando o problema não é a falta de tempo, é normal que as pessoas tenham o desejo de ajudar, mas não saibam por onde começar. Cabe à Parceiros, justamente, receber os interessados, capacitar e oferecer caminhos para a realização de ações sociais nas entidades cadastradas, conforme a disponibilidade e aptidão de cada um. “É um compromisso assumido, com uma sistemática de trabalho. Por isso as pessoas precisam vir de coração, com responsabilidade e disponibilidade para a criação de vínculo com quem está esperando por ele. Precisa de uma motivação interna, não pode ser forçado”, esclarece.
ATITUDE QUE NOS FAZ HUMANOS
É da natureza humana a necessidade de pertencimento e conexão a um grupo. Sendo assim, o movimento de se voltar ao outro seria o efeito esperado das relações em sociedade. Mas a intenção de ajudar neste movimento depende de outro fator importante, que é a empatia. Ou seja, a vontade de experimentar o que o outro sente, se colocando em um novo lugar para viver uma perspectiva diferente. Só assim a solidariedade acontece, concretizada na ação de tentar amenizar a necessidade de alguém.
Para a professora, mestre e psicóloga Maria Elisa Fontana Carpena, os atos solidários estão diretamente relacionados ao desenvolvimento dos seres humanos. “Somos seres gregários, a gente vive a partir do outro. É impossível nos tornarmos humanos sozinhos. Então, o movimento em direção ao outro para ajudá-lo nos completa e é essencial para a nossa constituição”, explica. Mas as consequências da generosidade vão além dessa formação. Alívio, prazer, satisfação e bem-estar são alguns dos efeitos positivos na vida de quem é solidário, o que acaba realimentando as atitudes altruístas.
MOTIVAÇÃO CERTA
Apesar das vantagens particulares, a psicóloga ressalta que a solidariedade não pode incorporar um papel de compensação de atitudes negativas, eximindo os realizadores de responsabilidades. “Às vezes uma pessoa é ríspida, dura, mas tem uma empresa que pratica muitos atos solidários. Não adianta, porque não é assim que a solidariedade vai funcionar”, alerta. Maria Elisa ressalta que o fundamento da cooperação deve ser sempre a necessidade do outro, e não um desejo de reconhecimento ou recompensa. Isso fica mais fácil quando a empatia está efetivamente presente. Assim, o ato de solidariedade se alimenta e termina nele mesmo. “Quando pensamos no que vamos ganhar com isso, deixou de ser solidariedade. A gente ganha sempre, mas isso não pode ser o motivador principal”, observa.
COMO PRATICAR
O primeiro passo para atuar junto à Parceiros Voluntários é participar de uma reunião de conscientização. O objetivo é conhecer a ONG, seu funcionamento, esclarecer dúvidas e, principalmente, entender o papel do voluntariado organizado como exercício de cidadania. O encontro dura em média uma hora e meia, dependendo da quantidade de pessoas e qualquer um com mais de 14 anos pode participar. A partir daí, quem tiver interesse em, efetivamente, desenvolver a atividade voluntária preenche um cadastro e é encaminhado para conhecer entidades que se enquadrem no seu perfil. A inscrição pode ser feita pelo site parceiros.org.br.
Mas também é possível incorporar práticas solidárias ao comportamento diário. A professora Maria Elisa ressalta que ter clareza da vontade de ajudar o outro é o ponto de partida. Então, basta adotar uma atitude permanente, percebendo a necessidade das pessoas e agindo. Com uma expressão de empatia coletiva, o resultado é uma sociedade melhor para todos. “É muito comum encontrar situações em que uma pessoa está precisando e ninguém ajudar até que alguém tome uma atitude. Precisamos dessas pessoas que dão o start. Atos solidários podem acontecer a qualquer momento, desde que a gente esteja aberto para outro”, lembra.
AJUDA AOS ANIMAIS TAMBÉM É SOLIDARIEDADE
Há quem se dedique a uma causa com a motivação de praticar a solidariedade em prol de animais em situação de abandono ou maus-tratos, como é o caso da ONG Proteção Animal Caxias (PAC). Sua presidente, Catia Giesch, envolveu-se com o trabalho há 21 anos e enumera todas as dificuldades que agravam a situação. Mesmo assim, afirma que a gratificação por amenizar os problemas e salvar vidas compensa o esforço. “É uma causa muito desgastante e sofrida, pelas situações que nos deparamos e pela falta de recursos. A gente praticamente deixa de ter vida própria, mas é gratificante, porque em cada olhar dá para perceber uma satisfação que não tem preço.” A PAC averigua as denúncias de forma independente, encaminhando-as para as autoridades. Interessados em ajudar, podem doar ração, medicamentos e produtos de limpeza ou via PIX (chave CNPJ 15.329.693/0001-38). Também é possível indicar a ONG no programa Nota Fiscal Gaúcha.
Outra forma de ajudar a causa animal é a campanha capitaneada pelas ONGs Help e GAP, que reúne outros oito grupos, chamada Última Chance. A ideia é viabilizar o apadrinhamento de cães idosos para retirá-los do canil municipal. A cada 20 padrinhos que contribuem mensalmente com R$ 25, um animal é encaminhado para lares de passagem. Com o compromisso da doação mensal, é possível manter alimentação, medicação, exames e transporte, garantindo um fim de vida mais digno aos cãezinhos que não tiveram a oportunidade de ganhar um lar definitivo. Para ajudar, basta acionar a campanha pelo WhatsApp nos números (54) 8105.7761 e (54) 9162.7160.
QUEM E COMO AJUDAR EM CAXIAS DO SUL
Crianças e Adolescentes
Doação de Alimentos
Idosos
Causa animal
Pessoas com Deficiência
Outras entidades
Fonte Afrodite80