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Em 2024, leve a vida com bom humor | Revista Afrodite

Em 2024, leve a vida com bom humor

Fotos Depositphotos
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Por Thaís Helena Baldasso

O ditado “rir é o melhor remédio” nunca foi tão verdadeiro como nos últimos anos. Pesquisas apontam que o bom humor tem um poder curativo em nossas vidas, fortalece relações, reduz os hormônios do estresse, aumenta a imunidade e a longevidade. Para se ter uma ideia, um estudo publicado ainda em 2015, na revista Psychological Science, principal publicação da Associação de Ciência Psicológica (EUA), que acompanhou um grupo de pessoas por duas décadas, revelou que aquelas com senso de humor apresentaram um risco 23% menor de mortalidade durante o período estudado.

Especialista em psicologia positiva, a psicóloga Juliana Brigoni afirma que um bom estado mental é uma poderosa fonte de benefícios para a saúde física, mental, mas também, social, contribuindo para nossa resiliência emocional. Quem cultiva um comportamento mais leve impacta também seu contexto diário, ou seja, tende a ser mais sociável, comunicativo e empático, gerando conexões promissoras. “Rir libera endorfinas, substâncias químicas que promovem uma sensação de bem-estar, reduz os níveis de cortisol e ansiedade, além de fortalecer a memória”, observa a especialista. No trabalho, contribui para criar uma cultura positiva, já que um ambiente onde há risadas é mais agradável e favorável à colaboração. “Rir juntos fortalece a equipe, melhora a comunicação e reduz o estresse”, complementa.  Além disso, a descontração pode inspirar a criatividade e a inovação, criando espaço para pensamentos originais e resolução de conflitos, tornando negociações e discussões mais leves.

O fato é que ao promover um ambiente propício ao convívio social, entendemos melhor nossas emoções e permitimos interações mais enriquecedoras e saudáveis. Além disso, o bom humor é um super-herói na gestão do estresse e na promoção do bem-estar emocional. “Encarar desafios de forma espirituosa não só alivia a pressão como também ajuda a lidar com situações difíceis de forma saudável. Encontrar o lado engraçado nas adversidades é uma ferramenta valiosa para manter o equilíbrio emocional”, comenta a psicóloga.

Rir libera endorfinas, que
promovem  sensação de
bem-estar, reduz os níveis
de cortisol e ansiedade,
e fortalece a memória

MÉDICOS DO SORRISO

Quem conhece bem os benefícios da terapia do humor é o ator Davi de Souza, 49 anos, que tem uma vida dedicada à arte de fazer sorrir. São mais de 20 anos no teatro e no projeto Médicos do Sorriso. Para ele, a fonte da juventude e da felicidade é o bom humor. “O riso tem o poder de transformar nosso estado físico e mental, tirar o peso das preocupações e tornar a vida mais leve e prazerosa”, garante. Ele conta que, desde muito pequeno, tem uma conexão direta com o riso. Filho e sobrinho de artistas, cresceu em um ambiente rodeado de alegria. Aos 24 anos, quando perdeu o pai, que era uma de suas referências, resolveu largar o emprego de funileiro e dedicar-se ao que realmente amava: a arte da alegria.

Para expandir sua missão, em 2004, criou o Médicos do Sorriso, em Caxias do Sul, um projeto social que já transformou a realidade de muitos pacientes internados e ajudou a recuperar a saúde física e mental de quem nunca pensou em sorrir em um leito de hospital. “Nesses 20 anos de brincadeiras e música, acompanhei milhares de histórias de pessoas que saíram do coma, de uma grave depressão, de doenças severas. O riso ameniza a dor, tira a tensão do paciente e do corpo clínico”, assegura a partir da sua ampla experiência.

Ele próprio afirma ter sentido na pele esse poder. Aos 14 anos teve encefalite, doença que matou o irmão, e garante que foi curado graças ao bom humor do companheiro que dividiu o mesmo quarto no hospital. “O Chico me alegrou na hora da medicação mais forte, me fez rir e me salvou da dor. Comprovadamente o riso anestesia”, afirma. Por isso, a diversão é sua filosofia de vida, aplicada nos relacionamentos e na educação dos filhos. “Estou sempre feliz, o que fortalece meus vínculos afetivos, que são mais respeitosos e divertidos”, completa.

Energia positiva atrai energia positiva, observa a médica e atriz Stefânia Gazola Faé, 29 anos, que se dedica ao teatro desde os 15 anos e há três participa do projeto Médicos do Sorriso, levando alegria às pessoas internadas com a personagem Dra. Torta. “O humor sempre fez parte da minha rotina. A vida é mais leve quando estamos felizes, e o riso ajuda a lidar com as adversidades. Um médico ou enfermeiro não vai tratar bem o paciente se estiver mal-humorado e esse vai ser indiferente ao diagnóstico e ao tratamento.”

A médica salienta ainda que a tranquilidade e a leveza em um ambiente familiar ou profissional facilitam vínculos e permitem uma socialização descontraída. “Posso usar o bom humor, de forma sutil, até para dar notícias ruins, mas sem piadas ou exigência de sorrisos em troca”, complementa. Ela lembra do caso de uma menina que estava no pronto-atendimento com dificuldade em respirar. “O som das canções infantis aliviou a tensão, e a menina reagiu movendo os pezinhos. Já a mãe desabou e foi acolhida com abraços.” Stefânia não tem dúvidas de que o bom humor é um santo remédio para o bem-estar. Ao conciliar teatro e palhaçaria com o ambiente hospitalar, comprova que o riso e a brincadeira são mecanismos que a ajudam a ter algum alívio em meio à dureza da vida.

VOCÊ SE SENTE CONFORTÁVEL EM RIR?

É importante ter em mente que bom humor não é sinônimo de fazer graça de tudo e de todos. Saber a diferença entre ser leve e ser inconveniente é fundamental, ou seja, entender e respeitar situações e os perfis quando se fala de expressar emoções faz parte das boas relações de convivência. Por outro lado, também há pessoas que, influenciadas pelo ambiente familiar e/ou profissional, não se sentem confortáveis em demonstrar alegria abertamente, por temer perder a credibilidade ou a seriedade. Davi destaca que o humor tem limites e é preciso usá-lo de forma inteligente e responsável. “Às vezes, um simples sorriso e um olhar carinhoso já são suficientes para transformar a vida do outro.”

Pessoas que apresentam receio de expressar o riso precisam de uma abordagem com maior sensibilidade. “Pode-se explorar a origem dos medos, compreender como as crenças influenciam o comportamento e ajudá-las a encontrar um equilíbrio entre suas convicções e a liberdade de expressão emocional”, avalia a psicóloga. Tudo com o objetivo de facilitar o autoconhecimento e a autenticidade, respeitando as crenças individuais. No consultório, a profissional incorpora o uso de piadas e um humor saudável como estratégia para criar um ambiente mais descontraído. “Em algumas situações, pode parecer desafiador conciliar bom humor com a necessidade de manter a seriedade, mas é crucial reconhecer que ele não precisa comprometer a respeitabilidade. É possível aliá-

lo de maneira equilibrada e autêntica, evitando interferir em situações críticas.”  Por isso a dica é não forçar piadas ou comportamentos que não condizem com a personalidade. Entender a dinâmica do ambiente e conhecer o público também são práticas importantes, alerta a especialista. “O bom humor, quando genuíno, sutil e respeitoso, é bem recebido.”

Você sabia que o riso já foi considerado demoníaco?

Para a Igreja, no período medieval, era imoral rir. O riso só deveria provir da felicidade eterna no Paraíso e a pessoa que não renunciasse aos prazeres mundanos estava sujeita à condenação . Sinais de felicidade eram usados para ridicularizar os pecadores e execrar comportamentos condenáveis. Já, fora dos muros religiosos, o riso sempre esteve presente, nas festas, nas imagens, nos textos cômicos e nas composições musicais da cultura laica. As manifestações populares denominadas Festas dos Loucos, nas quais o riso, a comilança e o escárnio tinham livre curso, antecediam a Quaresma e a Semana Santa. Depois de períodos de resignação espiritual, o contraponto ao rigor moral era a liberação do riso e dos excessos. Somente a modernidade consagrou a liberdade do riso, conferindo-lhe legitimidade como forma de expressão das emoções humanas e de afirmação social, cultural e política.

Cultivar o bom
humor fortalece o
sistema imunológico
e ajuda a diminuir  o
risco de doenças

FALTA DE HUMOR E DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS

A dificuldade em expressar ou perceber o humor de maneira positiva pode contribuir para o surgimento ou agravamento de doenças psicossomáticas, que são aquelas nas quais fatores emocionais interferem nos sintomas físicos. “A incapacidade de lidar com o estresse de maneira leve e a falta de momentos de descontração podem levar a um aumento nos níveis de cortisol, provocando um desequilíbrio hormonal”, destaca a especialista.

Ela pondera que a persistente falta de humor pode contribuir para o aumento da ansiedade, da depressão e de outros estados emocionais negativos e influenciar também a saúde física, provocando queda de cabelo, dermatite e problemas gastrointestinais. Por isso é importante incorporar práticas que promovam tanto a saúde emocional quanto a física. Encarar as situações com bom humor dá mais sentido às experiências do cotidiano e pode contribuir para uma vida mais longa e saudável. Portanto, para viver bem, não basta apenas ter hábitos saudáveis, seguir uma dieta equilibrada e fazer exercícios físicos regularmente. É preciso cultivar o bom humor para fortalecer o sistema imunológico e diminuir o risco de doenças.

É POSSÍVEL DESENVOLVER O BOM HUMOR?

“Somos seres biopsicossociais, o que significa que somos influenciados por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais”, explica Juliana. No âmbito biológico, um estudo envolvendo 27 gêmeos idênticos revelou que entre 50% e 70% da nossa propensão a ser extrovertido ou introvertido é determinada por fatores genéticos. Mas o ambiente também influencia. Crianças que são encorajadas a serem sociáveis e extrovertidas, geralmente desenvolvem essas características de maneira mais proeminente do que aquelas que não recebem esse tipo de estímulo, por exemplo.

Ambientes seguros e estimulantes, que oferecem oportunidades de crescimento, promovem o bom humor. Em contrapartida, contextos desafiadores podem afetar negativamente nosso estado emocional. “Já conheci palhaços que faziam plateias inteiras morrerem de rir e tinham vidas deprimidas, mas descobriram técnicas para arrancar gargalhadas do público. Há profissionais do stand up comedy que são estudiosos do humor e sabem como fazer isso”, conta Davi. É diferente de uma pessoa que leva uma vida feliz, que cultiva relacionamentos sociais saudáveis ao longo da sua trajetória. “Meus pais, por exemplo, nunca discutiam. Quando o estado de ânimo de um sofria alteração, o outro baixava a tensão com uma piada ou uma boa risada. Foram meus primeiros professores para levar o humor para a vida.”

O reconhecimento e a gestão das emoções, tanto próprias quanto alheias, são fundamentais para criar um ambiente propício à mudança. “É preciso identificar padrões automáticos e crenças disfuncionais, muitas vezes associadas a pensamentos negativos recorrentes, e abrir caminho para perspectivas mais realistas e construtivas”, conclui a especialista em psicologia. Ou seja, o desenvolvimento contínuo da inteligência emocional e um estilo de vida saudável são fundamentais para a construção de uma vida mais plena e feliz, que pode começar a qualquer tempo.

Dicas para melhorar o humor

  • Viva o presente e pratique a gratidão
  • Prefira escolher a positividade e o otimismo
  • Pratique a resiliência e permita-se ao novo
  • Desenvolva o amor próprio: elogie-se, incentive-se, admire-se
  • Não tenha medo de errar, ser julgado ou criticado
  • Busque uma rotina e cultive hábitos saudáveis
  • Pratique a inteligência emocional e a racionalidade
  • Faça terapia

Fonte: Afrodite 83