ACREDITO QUE É possível, sim, enfrentar o câncer de frente e de cabeça erguida. Depende, principalmente, de querer vencê-lo. Eu enfrentei dois cânceres de mama no período de dois anos. Desabei nas duas vezes em que recebi o diagnóstico, mas me reergui logo em seguida. Uma família para cuidar e uma profissão que amo, razões suficientes para me colocar de pé novamente. Na verdade, quando o resultado do exame der positivo, você só tem duas saídas: enfrentar ou se entregar à doença e esperar a morte. Optei pela primeira. Descobri que nossa mente é poderosa. Se o câncer aparecer em sua vida, não se sinta vítima, um corpo em equilíbrio destrói as células cancerígenas. Não sinta ódio, piedade e tampouco medo. O tratamento não é um conto de fadas. Quando o cabelo começar a cair (devido à quimioterapia), não perca a energia, acredite que o remédio que está entrando em suas veias vai lhe curar. O que vai aliviar a dor é a sua mente. Mude a forma de ver a vida. Acredite que ainda vai viver muito. Dessa vez, com mais qualidade. Pare e pense: o que vou levar da vida? Qual legado vou deixar? A partir daí, lute para realizar todos os seus sonhos.
Ivanete Marzzaro
Jornalista
ENFRENTAR O CÂNCER é uma oportunidade não planejada de rever conceitos, valores e planos. Receber a notícia tira nosso chão. Esperar pela definição do tratamento, uma angústia avassaladora. Quando o processo começa, porém, percebe-se a importância do viver um dia de cada vez, acreditando na recuperação. Foram 16 meses de tratamento, três deles de quimioterapia e radioterapia (diária), colonoscopia, cirurgia de remoção da bolsinha e mais os 12 ciclos de quimio preventiva. Não foi fácil, mas só tínhamos a agradecer. A positividade ajudou muito. Os efeitos colaterais vieram de várias formas, mas cada procedimento significava a chance da cura. Ser acompanhante/responsável, recebi como um presente: um estar com meu marido 24h por dia, mesmo de uma forma diferente da que gostaríamos. Era esposa, companheira cuidadora, motorista, ouvinte... Nos dias de internação, eu era só dele e para ele. Em casa, com ajuda da minha família e amigos próximos, continuei meu trabalho, indo a cada duas ou três horas ver se estava tudo bem com ele. Hoje meu marido já está sem tratamento há um ano e meio e eu só agradeço o chacoalhão. Estamos mais fortes, mais unidos e mais comprometidos com a vida que queremos viver.
Suzana Kroeff
Psicóloga
EM POUCAS palavras, encarando e curando. É fácil falar, eu sei. O medo toma conta na descoberta. Depois vêm um dos piores sentimentos do mundo, a impotência. Ver quem a gente ama sofrer e não poder fazer – quase – nada é sombrio demais. Aí começam os questionamentos, sobre tudo! Vi minha mãe ressignificar o maior deles, ao invés de “Por que eu?”, ela entendeu, “Por que não eu?” E aí nossa real jornada começou. O sofrimento te fortalecerá, se não fugires dele, minha mãe tinha isso como mantra, e ele virou nossa realidade. Foram dois anos de luta, garra, tratamentos e exames infinitos, quimioterapia, transplante, internações. Mas também foram dois anos de descobertas, aprendizados, união, sentimentos, partilhas, choros e risadas, dor e amor. Tratando corpo e alma, sempre acreditamos na cura de dentro para fora. Vivemos profundamente esse processo tão intenso. Quando alguém que amamos adoece, adoecemos junto. Quando alguém que amamos se cura, nos curamos junto. O corpo físico da minha mãe não se curou, a cura foi tão mais profunda que ela fez a passagem no dia 28.3.2014. Eu morri. Renasci. E venho renascendo desde então... Levo a dor e o amor dessa fase tatuados na alma. E a minha “mã”, no coração.
Duda Martini
Produtora de Moda