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Conversa Com Tita Sachet, cantora | Revista Afrodite

Tita Sachet, cantora e musicista

Cristina Sachet, musicalidade que vem de berço / Foto Fabio Grison
Cristina Sachet, musicalidade que vem de berço / Foto Fabio Grison

Com a música no sangue, ela cresceu cantando e se interessa por diversas formas de arte. É a outra metade de uma das duplas de vozes mais queridas de Caxias e, seja na igreja, em grupos de folclore italiano, banda de rock, sozinha ou com orquestra, o que gosta e sabe fazer é soltar a voz.

Caxiense, sagitariana com ascendente em Peixes, Cristina Sachet não para, se interessa por diversas formas de arte e está sempre cantando. De uma musicalidade que vem de berço – pai, mãe, avô... –, cresceu em um ambiente estimulante para a experimentação de seus talentos. Interessada por esportes, formou-se em Educação Física, mas a música já havia a escolhido: a banda de pop rock Fall Up, formada no final dos anos 1990, caía na estrada. O começo foi cantando em corais na igreja e em grupos de músicas italianas com o pai, pelo prazer de cantar. Hoje é conhecida pelo projeto acústico que mantém há cerca de 15 anos com Rafael Gubert, além das participações em gravações de artistas como Mario Michelon, Dirceu Pastori e Dan Ferreti, entre outros tantos trabalhos. Depois de uma rápida passagem pela administração municipal, aos 41 anos, dedica-se a projetos no que mais ama: cantar.

Rafa Gubert & Tita Sachet, 15 anos de parceria / Foto acervo pessoal


Afrodite: Você vem de uma família de músicos, certo?
Tita Sachet:
Sim, meu avô paterno, Romano Sachet, era pedreiro e músico, tocava violino e bandolim. Meu pai, Alvanir, sempre tocou violão, música italiana. Ele cantou para mim desde pequena, tenho registros dele cantando e eu encantada. No meu livrinho de memórias de criança, nem sei se foi, mas está anotado: ‘qual a primeira coisa que impressionou a criança? O som do violão’ (risos). E a minha mãe, Diana (falecida em 2001), era professora de música, formou-se em conservatório, em acordeom. Tenho dois irmãos mais velhos, Cláudio e Daniel, e lá em casa sempre teve muito estímulo. Fiz aulas de piano no colégio São João Batista, adorava! Não tínhamos piano, então a mãe desenhava as teclas com canetinha na mesa de fórmica da cozinha, e eu estudava ali. Achava incrível e chegava na aula sabendo a lição! Sempre cantamos muito, mais música italiana e religiosa. Comecei a cantar junto com meu pai na igreja Pio X, bem pequena. Tinha um grupo de senhores e senhoras que cantava, e eu me metia no meio. Depois de um tempo acabaram comprando um órgão lá para casa. E todo mundo tocava. Tinha que colocar um despertador para marcar o tempo, porque ninguém queria sair do instrumento. Além disso sou metida em tudo que é forma de arte, pela atividade mesmo... origami, mandala, gosto muito das coisas místicas e metafísicas.

Quais instrumentos toca? Além de cantar?
Tita: Comecei no violão, uma prima me ensinou a primeira música, que foi Horizontes (Flávio Bicca Rocha). Lembro que eram cinco acordes, eu tinha uns sete anos, e comecei a tocar todas as músicas que conhecia. Ia sentindo falta de outros acordes e comprava as revistinhas, quando achava alguma sonoridade boa pedia para o meu pai ‘existe esse acorde?’, e ele me instruía. Então a música sempre foi muito interessante para mim, sempre gostei muito. Toco também flauta, dou uma enganada, pois sempre gostei do som. Um dos meus irmãos trouxe de viagem porque eu vivia falando na tal da flauta transversa e nunca tinha pego uma na mão. Tem uma embocadura difícil, não conseguia soprar, mas fui fazendo esse exercício autodidata. Depois de anos vi que nem posicionava a mão da forma correta... Toco violão, flauta, me viro nos instrumentos. Mas eu canto. Meu instrumento é minha voz.


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​Coral Os Pequenos Gondoleiros, na escola São João Batista

E como foi se descobrindo nessa trajetória do canto?
Tita: Canto o tempo todo. O Rafa (Rafael Gubert) até me xinga, porque às vezes cantamos um evento longo e na viagem de volta estou ainda cantando... Mas quando estava na terceira ou quarta série, no São João Batista, tinha um coral chamado Os Pequenos Gondoleiros, e o “maestro” era o Edinho, o Edson Leite, que me colocou fazendo solos. Lembro que quando solava em Ursinho Pimpão, abraçada na “Peposa” – tirava o vestidinho dela porque a música era Pimpão, um urso menino – tinha uma parte bem aguda e ficava nervosa toda vez, pois num ensaio minha voz deu uma falhada – olha as coisas que marcam. E a única vez que falhou de verdade foi aquela do ensaio, mas independentemente disso, era uma tensão... eu era a mais alta da minha turma, então, inevitavelmente aparecia mais, tinha vergonha. Nunca tive essa coisa das crianças de hoje que são prontas, querem mostrar, gravar vídeo... não, eu era tímida, tinha que vencer a mim mesma para cantar.

Chegou a fazer formação em música? 
Tita: Sim, meu primeiro professor de canto foi o Renato Filippini. Cantava na missa das 11h e também participei do Coro de Câmara de Caxias, ensaiávamos numa sala aqui perto da praça (Dante Alighieri), que só tinha um piano no canto, adorava o clima de chegar ali, com aquelas mulheres mais velhas que eu, porque tinha muito a aprender com elas. Minha voz não era bem formada ainda, então cantava ora com as sopranos, ora com as contraltos. Sou mezzo. O Fillipini foi fundamental, tenho um carinho absurdo por ele. Era um repertório difícil, renascentista, que não tinha muito a ver com o meu dia a dia, mas achava delicioso fazer, ler partitura, saber para onde ia minha voz naquele conjunto de vozes. Teve uma vez que descemos do ensaio e coincidentemente tinha quatro ou cinco pessoas que formavam os naipes (vozes com a mesma linha melódica) que precisava e uma começou a cantar e a outra também, terminamos cantando na praça, pelo prazer de cantar. Essa época foi bem bacana.

Você se identifica mais com algum estilo? Clássico, popular? 
Tita:
Isso é um problema para mim, porque como gosto de música, gosto de muita coisa. Sou sagitariana. E todo mundo pergunta quando vou gravar meu disco. Não sei como seria meu disco! Provavelmente seria numa linha pop rock. Não gravaria bossa nova, mas adoro cantar bossa nova, teve aquele projeto com a Orquestra da UCS.... ao mesmo tempo adoro rock‘n’roll... então é bem difícil categorizar.

Em que momento virou carreira? Chegou a pensar em fazer outra coisa profissionalmente?
Tita:
Me formei em Educação Física. Acho que mais do que eu escolher a música, a música me escolheu. Gosto de esporte, joguei basquete muito tempo e gostei de ter cursado, foi útil para mim. O problema estava que dar aula, treinamento, exige muito da voz. E quando me formei, em 1998, já tinha a Fall Up, banda que formei com meu amigo da praia, o Paulo Schroeber (falecido em 2014). Ele era de Caxias, mas nos conhecemos em Perequê (SC), onde veraneávamos. Todo mundo dizia que ele tocava tri bem, e era da minha cidade. Um belo dia vi essa criatura tocar e ele era absurdo, virtuosíssimo, e acabamos nos aproximando, tendo uma amizade, depois viemos a namorar, mas a banda começou dali. O repertório eram oito músicas da Alanis (Morissette) e várias outras coisas... era quase um cover (risos). Começamos muito timidamente, íamos no Jaime Rocha gravar fitas, não tinha internet... Passou por várias formações e, no final, quando trabalhamos com o Ivo DJ, que fazia produção executiva, começamos a circular muito com a banda, interior do Estado, era muito divertido. 

A Fall Up fez bastante sucesso, inclusive com composições próprias, não é?
Tita:
Sim, teve contrato com a Orbit para gravar um disco, mas não gravei pelo problema que tive na prega vocal. Foi uma série de coisas, mas nessa época começamos com composições próprias. Geralmente o Paulo fazia uma base na guitarra e eu colocava letra e melodia. As primeiras músicas eram absolutamente complexas, uma acrobacia vocal louca, as letras megaexistenciais, e os guris começaram a dizer que eu tinha que fazer letras mais simples, que não ia dar certo... Foi um estresse, e acabei tendo um nódulo na prega vocal. Depois, conversando com os guris, a gente se acertou. Mas isso de cantar músicas próprias e covers, indo do grave ao agudo, para o cantor é bem agressivo. Passei um ano com o nódulo, em situações de estar completamente sem voz à tarde e ter show à noite, terrível. Fazia muita fonoterapia, só que a demanda da banda era muito forte, então não adiantava. Como já tinha começado o acústico com o Rafa e o CD só faltava gravar a voz para que saísse, preferi sair antes, porque se gravasse teria que fazer divulgação e não poderia abandonar a banda nesse momento. Aí eles continuaram com outra vocalista, a banda mudou de nome. Em questão de três meses fiz exame e o nódulo não estava mais ali.

Aí começou a fase dos acústicos Rafa & Tita, em bares, eventos?
Tita:
Sim. Nos conhecemos, musicalmente falando, no casamento de uma prima minha. Ela queria algo diferente e chamei a Fran (Duarte), o (Niuton) Paganella e o Rafa (Gubert) para fazer a cerimônia. Foi bem legal. E esse grupo só se reuniu para essa ocasião. Foi quando conheci o Rafa, um timbre de voz lindo de morrer, muito afinado, muita facilidade para fazer vozes... Tentamos fazer um trio, o Rafa, a Fran e eu, mas não conseguíamos nos encontrar. Aí começamos a cantar, o Rafa e eu. E a coisa começou a casar de um jeito... tem a coisa da compreensão musical, de timbragem de voz e logo de cara vimos que combinávamos muito, tanto o timbre quanto o jeito de cantar, o que não é muito comum. Valorizei muito, acho que é por isso que mantemos a dupla até hoje... Depois de um tempo começamos a namorar, terminamos o namoro e estamos há 15 anos com a dupla (risos). Nos damos muito bem. Além de uma empatia musical, temos uma empatia enquanto ser humano, o que prezo muito.

E você tem intenção ou o projeto de gravar? 
Tita:
Tenho que gravar. A cobrança é minha também, mas é engraçado... faz anos que penso nisso. Temos um disco gravado, o Rafa, o Sandro Stecanela e eu, o Divisível por Tr3s, com apoio do Fundoprocultura, na época (2007), com produção do Gilberto Salvagni, que é absolutamente talentoso e imprimiu muita qualidade musical de arranjos, de criação. Acho que vou acabar fazendo algo com o Rafa, dentro dessa linha que a gente faz hoje. É para ontem... tenho muita música composta em casa. No processo de criação a ideia é jogar muita coisa fora, ver o que presta e o que não, e esse caminho ainda não ficou claro na minha cabeça.

Você teve uma passagem pela gestão municipal, como coordenadora da Unidade de Música e diretora de Unidades Artísticas. Deixou os cargos em abril de 2017 por motivo de saúde. O que aconteceu? 
Tita:
Fui chamada pelo prefeito Daniel (Guerra), sou bem amiga da esposa dele (Andrea), para ajudar no processo de transição, ouvindo a comunidade musical e artística, e dando sugestões para o plano de governo. Em momento algum quis fazer parte do poder público. Entrei para tentar doar um pouco do que poderia e quando vi estava lá dentro, disseram que precisavam de mim mais um pouco e fui me envolvendo. Só que vivo de música nessa cidade há muitos anos, e se é o Daniel ou não, se é a situação ou não, o fato é que o poder público é péssimo, você não consegue fazer as coisas. Sou muito prática, se vejo algo errado não sossego até encontrar uma solução, é da minha natureza. E não conseguia fazer nada, pelo processo burocrático. Naquela ânsia de querer fazer, ouvia todo mundo, tinha 850 papeletas no meu monitor, só que fui parar duas vezes no plantão, com braço dormente, taquicardia... nunca me estressei assim... Aí disse não, nem pensar, é minha saúde, isso não é para mim. 

Planos e projetos? 
Tita:
Temos o Elegance, com clássicos da música internacional em ritmo de jazz e blues, ideia do Nino Henz, que é o contrabaixista. Fiz também um especial da Elis Regina, com a Fran Duarte, bem intimista. Acredito que logo mais teremos um website. São coisas que acabam ficando, mas esse ano sai, pode cobrar!

Dificuldades e recompensas de viver de música, em Caxias?
Tita:
É muito difícil quem viva só de cantar e tocar, normalmente se dá aula junto. Nós acabamos fazendo mais shows para suprir. Estamos num momento complicado para os artistas em Caxias, o que muito me entristece, porque existe uma falta de compreensão. Mas a maneira como levo minha profissão é feita de momentos. Amamos tocar em casamento, é uma ocasião tão importante na vida daquelas pessoas, fazemos com muito amor. Para mim, cantar é como uma meditação: quando se consegue atingir um estado em que a música flui através de ti é como se despersonalizasse, é difícil de explicar, mas quando se esquece que é tu que está ali cantando, que existe uma música que passa por ti, chega até o ouvido da outra pessoa, esse é o grande lance... é isso que me realiza como cantora. Porque a música eleva a alma, talvez seja essa a sensação de uma voz que está executando uma música linda e que enche o ambiente onde todos se sentem bem. 


por Vivian Kratz. Fonte: Afrodite 46

Banda Fall Up, na década de 1990 / Foto Acervo pessoal
Banda Fall Up, na década de 1990 / Foto Acervo pessoal
Banda Fall Up, na década de 1990 / Foto Acervo pessoal
Banda Fall Up, na década de 1990 / Foto Acervo pessoal
Coral Os Pequenos Gondoleiros, no São João Batista / Foto Acervo pessoal
Coral Os Pequenos Gondoleiros, no São João Batista / Foto Acervo pessoal
Acústicos Rafa & Tita / Foto Acervo pessoal
Acústicos Rafa & Tita / Foto Acervo pessoal
Foto Eduardo de Moraes
Foto Eduardo de Moraes
Foto Ramon Munhoz
Foto Ramon Munhoz