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Regyna de Queiroz Gazzola | Conversa Com | Revista Afrodite

Regyna de Queiroz Gazzola

Foto Fabio Grison

Ela trouxe do Rio de Janeiro os conhecimentos da vida em sociedade que despertaram interesse de clubes, empresas e entidades. É de lá também a inspiração para o romance lançado no ano passado, Aprendizes da Vida, seu 11º livro publicado. 

Com 11 livros publicados, o mais recente lançado no ano passado, Regyna de Queiroz Gazzola é escritora e professora de comportamento social e etiqueta. Ocupa a cadeira Nº 7 na Academia Caxiense de Letras (ACL-RS), cuja patrona é a mãe, a professora Anna Maria Rath de Queiroz (in memoriam), conhecida como Marianinha e homenageada pelo destaque na atuação durante 53 anos de magistério nas áreas de Português e Literatura.

Caxiense, aos 77 anos Regyna orgulha-se de ainda ser procurada para aulas de etiqueta, em grupo e particulares. Para esses momentos, recebe em sua casa e ensina dos detalhes ao modo de como se portar em uma mesa posta com mais formalidade. Nessa Conversa Com Afrodite  ela relembra a trajetória de vida e escrita, fala de projetos e do trabalho desenvolvido junto à Academia.

Seu mais recente livro, Aprendizes da Vida (Lorigraf, 2018), que tem como cenário a capital carioca, é o segundo romance, certo? 

Sim, se passa no Rio de Janeiro, cidade onde morei logo que casei. Tive a preocupação de não errar nomes de ruas, por isso contei com a ajuda de uma amiga de lá, assim como do (José Clemente) Pozenato, que foi meu revisor de narrativa. Ele disse que gostou muito, que retratei 20 anos de Rio de Janeiro e a sociedade da época (anos 1960), as festas no Copacabana Palace, Miramar Hotel e, sabe, ele é durão... Tive também a assessoria de uma advogada, a Denise Fochesato Brancher, já que há um divórcio no enredo, e de um médico, Virgilio Almansur, que me deixou dar algumas pinceladas de realidade da vida dele à história, foi um amigo muito querido, que ajudou a “tratar” as doenças que iam surgindo no romance. A trama traz no final toques de kardecismo, sutis, que não chocam quem não acredita no espiritualismo.

E para o primeiro romance, Amor Sem Fronteiras (Armazém de Ideias, 1994), qual foi a inspiração? 

Você não vai acreditar, mas foram escritas 500 laudas à mão, porque não digitava ainda (risos). Outra época. Tenho um carinho muito grande por esse romance porque se passa na Espanha e, como conheci pouco do país para ter uma história inteira lá, trabalhei estudando muito a respeito e tendo o mapa da região de Madri, onde os personagens moravam, sempre por perto. A capa traz o quadro As Meninas, de Velázquez, que é central na história. A trama gira em torno de uma pessoa que perde o grande amor da sua vida e o enxerga num personagem desse quadro. Entrei madrugadas adentro escrevendo esse livro. Romance a gente vive mais a vida do que um livro de contos e crônicas, porque os assuntos se modificam ao longo da história. 

Como foi o início da sua escrita literária? 

Comecei a escrever na década de 1980 nos concursos que a Biblioteca Pública organizava, isso é um incentivo para os estudantes. Já era casada, casei com 18 anos e fui morar no Rio de Janeiro. Tive meus filhos, a Dina Beatriz, aos 21, e, com 23 anos, tive o José Rodrigo. Ambos trabalham com exportação, como o pai (Júlio Gazzola, falecido há oito anos). Comecei a entrar nesses concursos de contos e crônicas, ganhei alguns. Iniciei conquistando Menção Honrosa, fiquei até meio triste, mas depois ganhei em primeiro lugar em Poesia, aí me animei de novo, e fui convidada a entrar para a ACL-RS, em 1989. Hoje, além dos filhos, tenho a nora Fúlvia (Stedile Angeli Gazola), a neta Antonia, que está estudando Medicina em Porto Alegre, e meu neto Giovanni, que trabalha com Comércio Exterior e mora em Santa Catarina. 

LITERATURA Sessão de autógrafo do segundo romance, Aprendizes da Vida, no ano passado. Abaixo, seus 11 livros já publicados / Reprodução

 

Na Academia Caxiense de Letras você ocupa a cadeira Nº 7, uma homenagem à trajetória da sua mãe? 

Sou acadêmica da ACL-RS há 30 anos, ocupo a cadeira Nº 7, cuja patrona é minha mãe. Todos a conheciam por Marianinha, mas seu nome é Anna Maria Rath de Queiroz. Ela nasceu em Lages (SC), mas veio dar aula em Caxias, lecionou Português e Literatura durante 53 anos, sempre aqui. Recebeu o título de professora emérita do governador do Estado pelo tempo dedicado ao magistério. Fui aluna dela, era muito severa, mais ainda com as filhas (somos três filhas e um irmão, já falecido), mas como gostava do Português, batalhei muito e consegui ficar com o primeiro lugar no final do Normal, o curso de professora primária. Ganhei como prêmio o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, todo encadernado com meu nome gravado em dourado. Minha mãe não teve livros publicados, embora escrevesse muitíssimo bem. Tinha uma comunicação excelente, um Português extremamente cuidado, e foi patrona pelos conhecimentos que trazia consigo e pelo amor que dedicou à função de professora. Tive o prazer de entrar para a Academia quando Jimmy Rodrigues era o presidente, e fui presidente na gestão 1996-97. Atualmente temos nossas reuniões em uma sala muito agradável cedida pela Biblioteca da Universidade de Caxias do Sul (UCS), no segundo sábado de cada mês. 

Você também trabalhou como professora escolar? 

Fiz o curso superior de Francês e lecionei a língua durante oito anos no Colégio Estadual Imigrante. Porque recém-casada, no Rio de Janeiro, entrei para a Aliança Francesa e para o curso Cultural, de inglês, já que lá o meu curso Normal não valia, era só estadual. Lá cheguei até o quinto ano literário, era bem puxado o estudo no Rio de Janeiro, tínhamos que ir em horário extra para audição de discos de peças de teatro. Depois me mudei para cá de novo e me dirigi ao diretor da Aliança Francesa, pois queria me preparar para o Nancy, exame que dá a titulação em nível superior. Ele me convidou para dar aula, então entrei como aluna e professora na Aliança. Me preparei, passei nos dois anos de Nancy e completei o último ano de didática na faculdade de Letras. 

E as aulas de etiqueta, quando e como começaram? 

Depois, na década de 1990, como eu ia sempre ao Rio de Janeiro passar férias, fiz um curso de etiqueta lá. Por ter morado no Rio era convidada aqui para fazer palestras para as debutantes sobre comportamento, etiqueta e, claro, eu dava o máximo de mim. Aí pensei, por que não me preparar melhor ainda? E fiz, então, esse curso. Mais tarde escrevi um livro para acompanhar as aulas, o Etiqueta entre Contos e Crônicas (Armazém de Ideias, 2005). O curso completo tem 18 horas-aula, que inclui mesa posta para um jantar mais formal.

Você é fundadora da Confraria da Etiqueta. Como surgiu a ideia? 

A Confraria da Etiqueta fundei a partir do interesse de um grupo de alunos, pois lecionava em entidades e, quando estávamos encerrando um curso no Sindilojas, o grupo não queria se despedir e ficar sem se encontrar. Combinamos, então, um jantar no Don Claudino, a Gabriele Piccoli, uma das proprietárias, estava no grupo, e dali surgiu a ideia de formarmos uma confraria. A Karen Panizzon se prontificou a trabalhar junto comigo, foi minha parceira em todos os jantares que realizamos, tínhamos que escolher com muito cuidado os palestrantes, para agradar a todos, com assuntos atuais. Precisei interromper porque estava com esse último romance começado e tinha que me dedicar com mais afinco. Quero de público agradecer à Karen pelo tempo dedicado, pois era trabalhoso organizar, mas muito gratificante também.

LEGADO Com Karen Panizzon e Dolores Berti (c), palestrante no jantar da Confraria da Etiqueta, em 2011/ Foto Luiz Chaves

Alguma nova ideia de livro para o futuro? Quais os planos? 

Minha ideia talvez é dar uma continuação a esse último romance, usar os mesmos personagens e dar sequência, introduzindo um pouquinho mais o kardecismo. E gosto de dar aulas particulares para quem procura individualmente e pequenos grupos. Costumo reunir meninas de sete a 12 anos numa tarde de sábado, com entrega de certificado, fotógrafo e encerramento com uma mesa de torta e docinhos. Acho interessante também quando homens se interessam pelo curso. Tenho um aluno agora, ensino até o nó da gravata quando não sabem fazer. Há anos colaboro também como cronista na revista Acontece, na página intitulada A Arte de Conviver, mesmo nome de um livro lançado em 2012 pelo selo Quatrilho (Belas-Letras). Junto à ACL-RS realizamos atividades como concursos literários e leituras na Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev), temos bastante envolvimento. 


Por Vivian Kratz