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A estilista Ana Dotto | Conversa Com | Revista Afrodite

A estilista Ana Dotto

Foto Fabio Grison
Foto Fabio Grison

 

 

Ela cria peças únicas, que reúnem sofisticação e estilo. Literalmente desenha e costura sonhos, assinando modelos para noivas, debutantes, formandas, madrinhas... O que mais ama é criar e entregar vestidos de noiva, acompanhados das bonecas com versões do look em miniatura, que já viraram marca registrada do atelier.

Ana Cláudia Piasentini Dotto tem apenas 25 anos, mas muito sucesso a comemorar. Natural de Vale Vêneto, distrito do município de São João do Polêsine, próximo a Santa Maria, veio para Caxias do Sul aos 17 anos, para estudar Moda na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Por aqui trabalhou com Walter Rodrigues, Lola e Tini Salles e Carlos Bacchi, antes de se formar e montar o Ana Dotto Atelier, já com encomendas de vestidos de noiva – sua paixão – para os meses seguintes.
Destacou-se durante a faculdade, recebendo prêmios como o UCS/Sultextil, UCS/Cootegal e Prêmio Documenta Costumes, que renderam oportunidades de qualificação internacional. Com um trabalho que combina a tradição do feito à mão, de forma única e exclusiva, com modelos contemporâneos e alinhados às tendências, é reconhecida pela dedicação, talento, simpatia e carinho com que trata tudo que faz.

Quando e como você começou a se interessar pelo mundo da moda, da costura?
Ana Dotto: Com 15 anos, nos preparativos da minha festa de aniversário... minha mãe me levou para fazer o vestido. Foi aí que me encantei. Adorei aquilo. Meu avô me levava para as provas, porque a senhorinha que costurava era viúva, como ele, e o adorava, só que ele não era muito a fim (risos). Ela ligava para ele pedindo para me levar e nos esperava com café servido, um amor... Ela foi muito querida comigo, me mostrou tudo, como funcionava, o que tinha e não tinha, foi uma experiência bem legal e marcante.

Você tinha outras pessoas, referências, na família?
Ana: Minha avó materna bordava, com bordado de linha, e a minha mãe sempre trabalhou como artesã. Minha avó por parte de pai também trabalhava com máquina de costura, com costura...

E quando a moda surgiu como profissão na sua vida?
Ana: Eu queria ser estilista desde pequena, nunca houve outras ideias. Estava decidida. Com 15 anos resolvi que queria fazer isso e minha mãe alimentou. A família deu força. Foi legal porque me trouxeram para conhecer Caxias, vimos que tinha outras universidades no Rio (RJ), em São Paulo, mas era muito longe, então aqui foi mais viável cursar, pela proximidade. Vim para cá com 17 anos, para estudar Moda, porque onde nasci não tinha, e a alternativa lá seria estudar Artes Visuais. 


Com o namorado e sócio, Alexandro / Foto acervo pessoal


Como foi esse início e essa vinda?
Ana:
Resolvi pedir estágios para poder aprender, ver como é, se era isso mesmo, como era na prática. Fiz estágio na Sultextil, com o estilista Walter Rodrigues, com a Lola e Tini Salles, por um ano, com o Carlinhos Bacchi, no primeiro ano que ele estava trabalhando. Eu já bordava, mas na Lola e Tini muito é feito à mão, é aquela coisa bem tradicional, de fazer bainha a mão, os acabamentos manuais, o que foi muito legal como experiência. E com o Carlinhos vivi um processo que hoje é o que mais a gente trabalha aqui, mais de estilista mesmo, partindo do zero para a concepção, desde conversar com a cliente, fazer o desenho, ir atrás do tecido, escolher a melhor cor para ela, a melhor renda, é você que desenvolve a peça para ela. A Lola e a Tini tinham aquela coisa de as clientes levarem a peça mais pronta, algumas fotos como referência, e desenvolviam a partir daquilo.

Na faculdade você recebeu uma série de prêmios: 1º lugar no UCS/Sultextil 2013, UCS/Cootegal 2012, 1º Prêmio Documenta Costumes, também em 2012.
Ana:
Sim... foi mesmo. O Prêmio Documenta é ligado à exposição permanente da Véra Zattera, e o desafio era fazer uma sombrinha inspirada em uma pintura, um quadro. Fiz uma sombrinha que era como uma flor, quando aberta a flor abria e quando fechada parecia um botão. O prêmio foi uma viagem para Nova York (EUA). 

E tiveram também duas menções honrosas no Festimalha, feira de Nova Petrópolis, em 2011 e 2012.
Ana:
Sim, eu fazia estágio no Comitê de Estilo (do Fitemasul) e tinha o Festimalha. Foi uma experiência bem bacana também por ser com malha, que é muito tradicional na nossa região, mas não era muito focado no curso, tanto que hoje admiro o trabalho de malharia, mas não conseguiria trabalhar, sempre fui mais voltada para essa coisa de fazer à mão, sempre me chamou mais a atenção.

E depois da formatura, como se seguiu a trajetória?
Ana:
Ganhei o prêmio (UCS/Sultextil) em agosto de 2013 e, em outubro, estávamos montando o atelier. Meu namorado (Alexandro Zanchin de Campos) é administrador e ajudou bastante no início a estruturar, fazer marca, logo, trouxe uma visão comercial, além de calcular preço, custos. Recém-formada eu já tinha vestido de noiva para entregar em dezembro e em janeiro, então foi muito rápido, o pessoal foi indicando e aconteceu. Pensamos assim: em Caxias ou se começa organizado desde o início, fazendo tudo direitinho, ou não tem muita saída. É difícil aqui começar muito pequenininho. Então já montamos a marca, alugamos a sala junto ao salão do Sergginho Branchi, o que deu bastante visibilidade, contratamos uma costureira para trabalhar comigo, uma menina que estava se formando em Moda, já começamos com uma estagiária, foi engraçado...

Você e o Alexandro namoram há bastante tempo, né? Pensam em casar? E aí, quem vai fazer o vestido?
Ana:
Namoramos há sete anos já. Talvez... pois é... (risos). Brinco com as noivas que elas vão fazer o vestido para mim (risos). Temos que nos organizar daqui um tempo. Não temos planos ainda, mas já rolou, sim, um pedido.

Voltando ao trabalho, como define seus diferenciais e estilo?
Ana:
O que tento trabalhar mais é a questão do personalizado. Até um vestido que já está pronto a gente consegue personalizar para no final ficar único. Já fizemos várias releituras com material de vestido da mãe, que a gente usou, desmanchou, refez, acho bem interessante. Adoro fazer isso também. E tem a questão de pesquisar os materiais, eu que vou atrás para a cliente, não é ela que precisa ir comprar, temos vários fornecedores.

E tem a questão do slow fashion...
Ana:
Sim, que para mim é fazer uma roupa por vez, entendendo e pensando muito na cliente, e tendo a consciência do que se está comprando e vendendo. Um vestido de formatura ou de noiva, a pessoa nunca vai colocar fora, no mínimo ele trará uma lembrança afetiva, não será nunca uma peça descartável.

Com o que você mais gosta de trabalhar em termos de materiais?
Ana:
Muita renda, ainda, crepe estruturado, organza de seda, bastante, gazar de seda... tule francês, que é aquele bem fininho. Estou me especializando agora em bordado de luneville, que é um bordado de bastidor, diferente. Já tinha feito um curso dele em Paris, em 2015, e voltei a estudar nesse momento para poder fazer bordados que permitam usar técnicas diferentes, com fita, fita de seda, pluma.


Entrega de vestidos / Foto acervo pessoal


E a ideia de presentear as noivas com um vestido em miniatura, na Barbie, como aconteceu? Segue fazendo?
Ana:
O que acontece é que a noiva tem o vestido dela, mas ele fica guardado, e a miniatura pode ser vista sempre, porque vai estar ali do ladinho. Tem muitas mulheres que a colocam em uma redoma de cristal. A gente fez desde o primeiro, acho que a maioria das noivas têm suas miniaturas, e continuamos fazendo. Só que agora temos entregue depois. Geralmente se entregava junto com o vestido, mas percebi que receber o vestido já tem aquela emoção e receber depois a miniatura é um jeito de voltar, relembrar e de trazer a cliente de volta também. A ideia foi minha, sempre tive vontade de fazer. É muito fofa, né? E as noivas adoram, se divertem com a história da Barbie.

Como é o seu processo de criação?
Ana:
Primeiro converso com a cliente e tento entender todo o universo do casamento, onde vai ser, horário, além um pouco do estilo dela. Aí a gente prova alguns vestidos, ela mostra algumas imagens, mostro outras e vejo o que ela gosta mais. Depois pesquiso muita tendência, não só de casamentos, mas o que está acontecendo na moda em geral, de cortes, tecidos, caimentos, e gosto muito de pesquisar materiais, acho que o desenvolvimento vem muito mais daí do que de roupas prontas. Recebemos vários fornecedores de São Paulo, alguns do Rio (de Janeiro), representantes de Porto Alegre também, e a partir das amostras é que a gente começa a criar, a desenvolver o produto. Quando não é noiva, é mais ou menos o mesmo processo, mas como tem cor é ela que manda mais, para ter equilíbrio. Além dos vestidos, temos uma linha com a B.Bag de clutches bordadas, que fizemos ano passado e faremos novamente este ano. Foi uma experimentação, porque é um material bem delicado, tinha muita vontade de fazer, e as gurias (Camila Vieira e Beatriz Martins) toparam, então para o final deste ano faremos uma nova coleção de número limitado.

Em novembro do ano passado você lançou a coleção de vestidos prêt-à-porter  (a pronta entrega).
Ana:
Sim, me dei conta que a mulherada vinha muito perdida quanto ao que usar, se modelo sereia, rodado, mais ou menos bordado. Pensei: ‘vamos ter esses prontos, elas provam e conseguem ir enxergando o que está acontecendo’. Havia também muitas clientes que pediam vestidos e não tinham tempo de fazer, ou então tinham muita dúvida de como ia ficar, foi aí que surgiu essa coleção. Vendi um, dois, três e assim foi indo. Fiz entre 80 e 90 vestidos. Tem alguns ainda à venda. É uma facilidade para as mães de debutantes, por exemplo, que vêm fazer as provas da filha e precisam do vestido para elas também.

Você tem esse atelier no Moinho da Estação, em Caxias, e outro em Recanto Maestro, que é o primeiro distrito brasileiro com gestão privada em parceria com o poder público, conta como é isso?
Ana:
Sim, o Recanto Maestro fica ao lado de Vale Vêneto, onde nasci, e foi idealizado por um italiano que foi para lá nos anos 1990 e estudou Ontopsicologia, um tipo de Psicologia. Ele se instalou lá, começou a reunir outras pessoas que estudavam o mesmo tema e juntos desenvolveram uma comunidade. Hoje tem universidade, lojas. Alugamos um espacinho ali e atendo com hora marcada, mais esporadicamente, até pela distância. Vou umas duas vezes por mês atender a essa demanda, mais noivas.

E o que está por vir, projetos, novidades?
Ana:
Estamos com a ideia agora do showroom, que é a nossa loja, aqui junto ao atelier. Pois hoje atendemos apenas com horário marcado e com o showroom será possível atender melhor quem quer vir conhecer e provar os vestidos prontos. Está saindo também o blog, onde vamos contar as histórias das clientes. Porque elas querem muito contar como foi o casamento, o que fizeram e o que não fizeram, temos muito material que não damos conta de usar no Instagram e no Facebook que estará lá.
 
Qual seu grande sonho?
Ana:
Sabe que sonhei muito em ter um atelier só de noivas! Trabalhar especializada, só nisso. É um projeto. Ter uma linha e trabalhar só com noivas. Minha paixão é o exclusivo e a noiva. A mudança para esse prédio, que é tombado, um prédio histórico, também foi muito legal, pois todo mundo conhece e tem alguma história com essa localização. Está sempre em movimento, acho isso bom para o negócio, tornou a marca mais conhecida. Ainda me surpreendo das pessoas me conhecerem, aconteceu rápido e sou megatímida. Vejo que tenho tudo pela frente, muita coisa para fazer ainda.


por Vivian Kratz. Fonte: Afrodite.

Criação vencedora do 1° Prêmio Documenta (2012) / Foto acervo pessoal
Criação vencedora do 1° Prêmio Documenta (2012) / Foto acervo pessoal
Criação vencedora do 1° Prêmio Documenta (2012) / Foto acervo pessoal
Criação vencedora do 1° Prêmio Documenta (2012) / Foto acervo pessoal
1° lugar no Prêmio UCS/Sultextil, em 2013 / Foto acervo pessoal
1° lugar no Prêmio UCS/Sultextil, em 2013 / Foto acervo pessoal
Com o namorado e sócio, Alexandro / Foto acervo pessoal
Com o namorado e sócio, Alexandro / Foto acervo pessoal
Com os pais, Angelita e João Carlos Dotto, e o irmão, Ricardo / Foto Rogério Mesquita
Com os pais, Angelita e João Carlos Dotto, e o irmão, Ricardo / Foto Rogério Mesquita
No casamento da cunhada, Fernanda de Campos, para quem criou o vestido, e Gabriela Mattana / Foto Luciana Ruzzarin
No casamento da cunhada, Fernanda de Campos, para quem criou o vestido, e Gabriela Mattana / Foto Luciana Ruzzarin
Entrega de vestidos / Foto acervo pessoal
Entrega de vestidos / Foto acervo pessoal