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Conversa com Tatiéli Bueno | Leia na Revista Afrodite

Conversa com Tatiéli Bueno

 

Com uma voz envolvente e versátil, que transita com naturalidade por diferentes estilos, Tatiéli Bueno conquista espaços cada vez maiores e relevantes no cenário musical. Recentemente, apresentou uma live para o Canadá num convite do Conselho de Cidadania de Montreal em parceria com o Consulado do Grêmio de Montreal, mas desde 2015 coleciona prêmios e homenagens. 
O reconhecimento não é gratuito. Aos 32 anos, soma 13 de carreira e os mesmos 13 de intensa preparação vocal e fonoterapia pelo Atelier da Voz Fga. Franceli Zimmer. Natural de Guaporé (RS), cresceu com a liberdade permitida pelas cidades do interior e tendo a música como companheira. Passou a infância cantarolando, como contam os pais, Sibila Maria e Valdir Bueno. Filha do meio, tem ainda o apoio dos irmãos, Maurício, o caçula, e Graziela, a primogênita e mãe de Pedro, afilhado de Tatiéli e por quem é apaixonada.

Quem é Tatiéli Bueno?
Tatiéli Bueno é um pouco da menina que veio do interior, de muita simplicidade e cheia de sonhos, que cresceu e se tornou uma mulher muito batalhadora, precisando se virar para entender as malícias do mundo. Foi ganhando espaço aos poucos, sempre muito obstinada e acreditando muito que as coisas vão dar certo dentro do universo da música, que leva tanta coisa boa para as pessoas.

Como foi a sua infância?
Tive uma infância bastante feliz. O interior me deu muita liberdade...para brincar, correr, ficar na natureza, acho que isso moldou muito do que sou. Era um ambiente de muita simplicidade e, bom, eram outros tempos. Nossos acessos eram mais restritos e acho que essa dificuldade de comunicação foi um dos meus gatilhos para querer tanto transmitir mensagens às pessoas. Escolhi a música, que me impactava desde lá.

Como a música entrou na sua vida? Você tem raízes na músca nativista, certo?
Sempre gostei de cantar, pelo próprio relato dos meus pais, passei a infância cantarolando. Na adolescência, entrei nesse mundo “oficialmente” quando, por meio de um amigo músico, recebi o convite para cantar. Só disse “sim, eu quero cantar”, e foi aí que tudo começou, em 2003. Eu dançava em CTG, fazia parte do mundo nativista, então acabou sendo minha porta de entrada e que me levou a cantar diferentes estilos. Meu fascínio é pela música. Tenho muita gratidão por ter iniciado minha trajetória no tradicionalismo, pela maneira como fui moldada desde pequena. Acho que devo parte dos meus valores e disciplina a isso. Talvez se aquela porta não estivesse aberta, as coisas não teriam tomado as proporções que tomaram, então sou muito feliz pelas minhas origens.

Quando e como você começou sua carreira profissional?
Eu cantava somente como lazer até 2007, até porque foi a época da faculdade. Amava comunicação e sou graduada em Relações Públicas. Logo depois veio meu primeiro convite para ingressar em conjuntos vocais de CTGs. Fiquei um tempinho só com os conjuntos, mas foi nesse período que comecei a oficialmente trabalhar com música. Em 2010 lancei meu primeiro disco, feito em parceria com um amigo. Dois anos depois assumi e passei a trilhar carreira solo. Meu primeiro CD solo, Sensibilidade, foi lançado em 2015.

Em quem você se inspirou ou ainda se inspira?
É tão difícil escolher pontualmente alguém. Tive muitas influências, em diferentes momentos. Dentro do Rio Grande do Sul, tenho a Loma, com muito carinho e admiração, já que ela sempre fez parte da minha trajetória. Nesse ano, depois de vários de amizade, lançamos um especial juntas, o Elas. A Loma é de uma alegria e energia ímpar, só sei dizer que ela me encanta. Mercedes Sosa, naturalmente, é uma grande referência. Me identifiquei muito com o timbre, inicialmente, depois desenvolvi um apreço pela trajetória e por tudo o que ela representou. O espanhol entrou na minha vida junto com esse meu apreço. Com o passar do tempo, fui gostando de trabalhos como Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Maria Rita, Elis Regina, Luiza Possi, Roberta Sá... e por aí vai.  Internacionalmente, sempre fui eclética, desde a adolescência gostava de pop rock, hoje é uma bagunça boa. Me identifico pelas vozes, eu amo vozes!

Você tem produções de suscesso. Quais você destacaria?
Depois da minha entrada na carreira solo comecei a pensar em espetáculos temáticos. Em 2014 lancei o Tributo a Mercedes Sosa; em 2015, o Sensibilidade; em 2018, foi o Universo Feminino; em 2019 o Navidad con Mercedes Sosa  e o Sul-Americano. Nesse ano nasceu o Elas. Estamos em tempos de reinvenção, então lancei uma série de lives no meu Instagram para atender culturalmente ao meu público, uma série de bate-papos chamada Tatiéli Convida  e tenho propostas como o Especial Social  para atender a casamentos e o Boas Novas - um Show para Celebrar, em parceria com a cantora Fran Duarte, um especial para os festejos de fim do ano. Cada espetáculo trazendo um pouquinho de mim, preenchidos de muito significado.
O show Sensibildiade rendeu prêmios importantes e passou a se chamar Sul-Americano. Como foi essa mudança? 
O Sensibilidade  foi um marco na minha carreira e na minha vida. Foi elaborado com muito carinho, com arranjos bem diferentes e com músicas que fizeram parte do início da minha trajetória. Me rendeu três indicações ao Prêmio Açorianos de Música (Melhor Interprete, Melhor Álbum e Artista Revelação), uma grata surpresa para meu primeiro disco solo. Não esperava tamanha repercussão. Depois passou por uma roupagem e acabou se transformando em um show com mais swing, carinhosamente definido como Nativo Jazz, que hoje é o Sul-Americano. Mesmo sendo uma reformulação, as propostas são distintas. O espetáculo foi mudando conforme a pessoa e a artista Tatiéli também mudaram.

Tributo a Mercedes Sosa é um show muito requisitado e com um público cativo. Como ele nasceu?
Além de ser meu show mais requisitado, ele costuma lotar os espaços. Surgiu da minha identificação com a voz da Mercedes. Percebi vários anos antes que minha voz atendia às músicas que ela cantava. Em 2014 me convidaram para fazer um especial em homenagem a outra cantora. Naquele momento encontrei a oportunidade de realizar meu desejo de cantar La Negra, então sugeri fazer o Tributo a Mercedes Sosa. Decidi trazer para o espetáculo elementos que lembrassem a figura dela, mas de forma alguma a intenção foi copiar a Mercedes Sosa. Estudei muito sua vida, as músicas, a sonoridade e o repertório, no intuito de levar ao público uma ambientação nostálgica, para relembrar todo o legado que ela deixou. Nunca busquei uma cópia, sempre uma lembrança.

Na produção Universo Feminino você canta apenas mulheres da MPB. De onde surgiu a iniciativa para um repertório exclusivo de cantoras? E como ele é recebido?
O Universo Feminino, para mim, é magia. Sempre gostei da MPB, mas as pessoas não me viam enquanto cantora de música popular brasileira. Precisei criar a temática do espetáculo embasada em algo muito intuitivo para mim. Uma homenagem às mulheres, além de estar muito em pauta, é uma luta diária. Meu maior retorno é o relato de mulheres que acompanham o show e compartilham as emoções que despertaram nelas durante a apresentação. Muitas falam que algo naquele momento abriu os olhos delas. Mulheres choram. Mulheres se identificam. Isso paga tudo para mim. Normalmente ele é apresentado no formato piano e voz, com muita sutileza. A proposta fica nas letras, então ele precisa desse cuidado. É um show muito bem aceito e eu amo apresentá-lo.

Além de shows que outros trabalhos você faz? 
Faço trabalhos como jingles, comerciais, chamadas de voz, interpretação de hinos, concursos e festivais no Rio Grande so Sul, todos com importantes premiações em eventos, nacionais e internacionais.

Quais momentos você destacaria na sua carreira como cantora?
Acho que todos os momentos são únicos. Estar no palco sempre é uma experiência nova. Não temos controle de nada, cada show é ímpar, mas no lançamento do meu disco e a indicação ao Prêmio Açorianos de Música pelo mesmo, vivi emoções inexplicáveis. O prêmio de melhor cantora do RS, em 2018, (Prêmio Vitor Matheus Teixeira) e a indicação de melhor cantora do RS pelo G1, especialmente por ter ficado entre as três finalistas pelo voto popular, certamente também foram surpreendentes e agradeço por tanto reconhecimento à minha carreira e à minha voz. Alguns grandes palcos, como a Festa Nacional da Música, o Grande Encontro, o palco do Araújo Viana e o contato com grandes artistas me fizeram e fazem muito bem. Enfim, tenho muita gratidão pela concretização dos meus sonhos e pelo meu trabalho nesses últimos anos. Acho que sinto um pouquinho disso em cada um desses episódios.

Recentemente você apresentou uma live especial diretamente para o Canadá. Como aconteceu? E a emoção?
A live do Canadá foi um convite do Conselho de Cidadania de Montreal em parceria com o Consulado do Grêmio de Montreal. Quem fez a intermediação foi a Indomável Produções Artísticas, de São Paulo. A produtora é do Gabriel Sater, filho do Almir Sater, e hoje faço parte do casting de artistas deles. Foi uma experiência muito bacana, já que cantei para brasileiros e gaúchos que vivem no Canadá. Devido à pandemia, precisamos nos renovar e mudar o palco para a Internet, então a experiência foi desafiadora por não se tratar da minha zona de conforto e por estar experimentando novas sensações cantando para o público à distância. Precisei me adaptar a essas mudanças. Sou grata à produção do Gabriel pela oportunidade de realizar essa live internacional e por fazer parte de um casting de artistas tão importantes quanto os da Indomável. Já cantei na Argentina, no Chile, no Uruguai e na Espanha. Nesse momento a experiência canadense foi via live, mas foi muito forte e emocionante para mim, quem sabe o próximo show internacional seja no Canadá... a ideia está em pauta, vamos aguardar as próximas novidades.

Você lançou o projeto para casamentos. E, além dele, quais os planos para a carreira? Os palcos internacionais? 
Já fiz muitos casamentos, tanto para amigos e familiares, quanto dentro de vocais. Nos últimos tempos fui percebendo um aumento de pedidos para lançar uma proposta específica para essa ocasião, então nesse ano lancei o Especial Social com o intuito de contemplar os noivos dentro das necessidades e características singulares. Gosto da ideia de participar desse momento tão especial e dar voz para o sentimento dessas pessoas. Pensando no futuro, quero muito crescer na carreira nacional e internacional. Pretendo seguir com os espetáculos que já tenho, sempre renovando e ampliando shows, público e palcos. Senti na parceria com a Indomável um passo para um maior alcance dentro do Brasil e, posteriormente, fora dele. Meu intuito através desses planos é direcionar minha carreira. Não busco me afastar definitivamente de Caxias do Sul, mas vou andando conforme os palcos me levarem. Talvez Porto Alegre, São Paulo, enfim. Não vou deixar que minha raiz se perca, já que tudo aconteceu por aqui. Nada garantido, mas tudo já sendo pensado. Sou responsável pela linha de frente da minha carreira, fazendo meu próprio gerenciamento, mas conto com a assessoria e produção da Atmosfera Produções Culturais, de Porto Alegre, e com o agenciamento da Indomável. O sonho é partir para o mundo!