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A volta por cima de Cintia Buzin | Revista Afrodite

A volta por cima de Cintia Buzin

Foto: Fabio Grison
Foto: Fabio Grison

Presidente do Conselho da Empresária da CIC no biênio 2018/2019, Cintia Buzin encarou de frente o desafio de assumir o comando da empresa após a morte acidental do pai. Como diretora-geral da Metalúrgica Buzin, não apenas deu sequência aos projetos e conquistou a confiança do mercado, mas inovou ao investir em um novo segmento, o da acessibilidade, com a fabricação de produtos inéditos em nível mundial.

Ela é sinônimo de resiliência e superação. Aos 33 anos passou por uma das maiores provas que alguém pode enfrentar. Assumiu, junto com o irmão Cristiano, o comando da Metalúrgica Buzin após a trágica morte do pai e fundador, Jacir Buzin, em um acidente no parque fabril. Administradora de Empresas, Cintia Buzin é exemplo de força e determinação.
Oito anos mais jovem que a indústria idealizada pelo pai e tios em 1970, essa caxiense cresceu brincando no porão onde a metalúrgica nasceu, no prédio onde moravam. “Sempre fui muito metida, curiosa, faz parte da minha essência. Contam que com seis, sete anos eu virava tambor de óleo para alcançar os botões das máquinas, não existiam as questões de segurança de hoje, então brincávamos no meio das barras de aço.” Segunda mais velha entre quatro irmãos com idades muito próximas, brincava na rua, o que, acredita, tenha feito a diferença em termos de liberdade e criatividade em relação à infância das gerações mais novas.
Na fase em que mudava de ideia toda semana sobre o que queria ser quando crescesse, pensou em ser aeromoça e sempre se encantou pela Medicina, mas na época pré-vestibular a veia empreendedora falou mais alto e optou pela Administração. Formada aos 22 anos, fez MBA em Gestão Empresarial. A entrada na empresa da família se deu no momento do trabalho de conclusão da faculdade, quando fez a monografia aplicando uma ferramenta da área de qualidade no processo de produção. “Meu pai disse que eu só iria começar a trabalhar na empresa depois de formada. Na época não gostei, mas hoje vejo a importância de ter tido a oportunidade de estar do outro lado, ser funcionária, ter patrão.”

Assim, trabalhou por anos no comércio e antes ainda se aventurou no ofício da mãe, Nair, fazendo costura, aos 13 anos, para ganhar um dinheiro extra. “Nunca nos faltou nada, mas para nossas coisinhas tínhamos que ter nosso dinheiro. Comecei trabalhando num mercadinho do meu tio, mas tive uma dificuldade na escola e precisei focar nos estudos. Depois pedi para a minha mãe se podia usar uma das máquinas de costura e propus para um cliente dela, dono de malharia, fazer as casas dos casacos. As 30 primeiras peças logo viraram 300.”
Há 18 anos na Buzin, Cintia passou por todas as áreas. Mas foi com a morte do pai, há pouco mais de seis anos, que veio o maior desafio. “Vivi um ano no piloto automático, apertei um botão e disse ‘agora é contigo’!” No dia seguinte ao enterro, Cintia foi para a fábrica entender o que havia acontecido – uma máquina caíra sobre ele. Mandou pregar o equipamento no chão, entrou na sua sala e chorou. “Tive muita ajuda, tenho muitas pessoas a agradecer por terem entendido o momento: banco, fornecedores, clientes, equipe... O lado espiritual me ajudou bastante, acredito que algumas coisas acontecem porque está traçado, e o que acalenta meu coração é ele estar fazendo o que mais gostava quando morreu, feliz porque estava instalando uma máquina nova.”
Pela proximidade e afinidade com o pai, a sucessão se deu de forma natural, ficando Cintia como diretora-geral e o irmão como diretor de operações. A irmã mais nova, Elen, que cuidava do administrativo-financeiro viu o acidente do pai e não permaneceu no negócio. “Foi um dos processos mais duros da minha vida, porque tive que superar a perda e a questão psicológica e emocional dos funcionários, pois existia um apego ao líder, e a nova líder era uma ‘pirralha’ de 33 anos, mulher, o que iria acontecer?” Foram dois anos de reconquistas... da confiança da equipe e do respeito dos fornecedores e clientes.
Gradativamente, Cintia foi conquistando seu espaço e profissionalizando ainda mais a empresa. Seguiu o plano estratégico que vinha sendo implementado junto com o pai, de expandir a atuação da fabricação de peças usinadas para o setor metalmecânico – que continua sendo o carro-chefe da empresa – para a criação de um produto próprio. Em 2010 foi fundada a Cismax, unidade que produz máquinas para lavanderias industriais, já na nova planta, de 4 mil metros quadrados, construída em terreno próprio. “Em 2008 estávamos crescendo mais que o previsto, pegamos um recurso que não tínhamos para investir em máquinas e veio a crise. Com um endividamento gigante pela construção da nova fábrica, equipe de 100 funcionários, nosso faturamento caiu pela metade. Aí surgiu a ideia de colocar em prática o plano de criar o novo produto.” 
Além da Cismax, que está consolidada e buscando novos caminhos de comercialização, Cintia aposta em parcerias e novos nichos e oportunidades de negócio para inovar. Procurada por um cadeirante que tinha um projeto patenteado e que precisava de ajuda para resolver uma dificuldade sentida na pele ao viajar, a Buzin colocará no mercado a primeira cadeira higiênica desmontável, que cabe em uma maleta, e uma rampa portátil, que permite acessibilidade em qualquer lugar. Vislumbrando um mercado de 20 milhões de pessoas com dificuldades locomotoras apenas no Brasil, assim como o público idoso, hotéis, hospitais, casas geriátricas, ela mira no e-commerce  para realizar o sonho de exportar. “O que mais me cativou foi poder levar soluções inovadoras que ofertem qualidade de vida para esse mercado gigante e muito pouco explorado.”
Tendo recebido o Prêmio Mulher Empreendedora na área da indústria na Semana Municipal do Empreendedor, em 2015, Cintia foi empossada presidente do Conselho da Empresária da Câmara de Indústria Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul para o biênio 2018/2019. “Sempre tive espírito voluntário, tenho como lema que o mundo muda em virtude do seu exemplo e não da sua opinião.” Antes de ingressar na CIC, foi fundadora da Associação das Indústrias de Usinagem (Asiusi), que realizou projetos cooperativos de participação em eventos e compras conjuntas, entre outros, reduzindo custos e fomentando o segmento. 
No Conselho da Empresária, a principal missão será ajudar mulheres a prosperarem em seus empreendimentos. “Algo que nos preocupa é o ano eleitoral. Sempre nos escondemos muito da política, mas acredito que está na hora de entendermos o processo e colocarmos pessoas que queiram o bem e fazer algo de bom pelo Brasil. Vamos levantar demandas, fazer nossa missão empresarial para Brasília, no intuito de permitir a sobrevivência dos negócios. Queremos empregar mais, menos burocracia, que o governo não atrapalhe tanto, que nos deixe trabalhar.” 
Casada com Ismael Busetti e mãe de Nicole, 14 anos, e Gabriel, 11, quando não está na empresa adora curtir a companhia dos filhos, seja fazendo um jantar ou na chácara da família, para compartilhar ideias e contribuir com a formação de seus valores. “Convido-os a participar da minha vida profissional e das atividades de voluntariado para dar esse exemplo e estimular que sejam pessoas de bem. Acredito que há mais gente boa do que ruim no mundo e nossos filhos devem entender isso, que vale a pena ser honesto, ter compaixão, ajudar. É o que procuro levar para dentro de casa também.” 


Por Vivian Kratz. Fonte: Afrodite 45

 

Foto: Fabio Grison
Foto: Fabio Grison
Foto: acervo pessoal
Foto: acervo pessoal