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Uma vencedora na cozinha | Lugar de Mulher | Revista Afrodite

Uma vencedora na cozinha

Foto Fabio Grison
Foto Fabio Grison

Maria Rita Francisca Gonçalves tem daquelas histórias de vida dignas de serem contadas. Ela é inspiração não apenas quando o assunto é sabor e bem comer, sua especialidade, mas também no modo de encarar as adversidades: sempre com um olhar positivo. Em Caxias há 15 anos, é reconhecida pela beleza e delícia de seus doces – desde a antiga marca, Amorcito Corazón – e pela qualidade em tudo que faz. Há três anos à frente da Le Fuê Pâtisserie e Gastronomia Itinerante e ao lado do marido Marlon Zanchettin, comemora o sucesso profissional e a abertura do bistrô junto à Uniftec, que também funciona como espaço de eventos e restaurante escola para o curso de gastronomia da instituição. 

Cozinhar para comer

A gastrônoma com formação internacional perdeu os pais aos 13 anos e chegou a morar na rua. Dois irmãos ficaram com uma tia, que não podia receber quatro crianças. Como não tinham avós, ela e outro irmão tiveram que encontrar alternativas. Uma policial militar, amizade que mantém até hoje, a acolheu em casa e foi ali que, pré-adolescente, Maria Rita começou a desenvolver o dom entre as panelas. “Todos temos um grau de dificuldade, mais ou menos, e não tem como medir o tamanho e diferenciar a dor de cada um, mas tudo vai da maneira que você conduz. Com aquela idade, não tinha noção do que estava passando, eu só precisava comer, e foi por isso que virei gastrônoma, para estar perto do que mais desejava, matar aquela que para mim era a pior dor do mundo, a dor da fome.” 

Ela acredita aos tempos em que trabalhou com limpeza o senso de organização essencial no seu dia a dia e tem uma gratidão imensa pelos bens mais preciosos, os amigos. “Eles são a família que escolhemos, ou que nos escolhem. A Suzi Maria, policial militar que me abrigou, fez um gesto de amor, que depois vim reconhecer em muitas outras pessoas.” Madrinha da Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (Patna), procura retribuir a ajuda que recebeu quando mais precisava, oferecendo coquetéis beneficentes em iniciativas filantrópicas. Nem ela nem os irmãos se entregaram ao vitimismo da situação que viveram, deram a volta por cima, buscando forças nas adversidades.

Do México para Caxias

O início da carreira foi lavando pratos. No alto de seus 1,78m de altura, teve a oportunidade de trabalhar como modelo, viajando por países como Holanda e Estados Unidos. Morou quatro anos no México, passando por Guadalajara, Puebla e cidade do México. Nesse período foi se apaixonando mais e mais pela gastronomia, tanto que domina os pratos típicos do país. Além da formação em chef de cozinha pela Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, cursou confeitaria artística em Guadalajara e especializou-se em pâtisserie e chocolaterie, dentre diversos cursos. Mesmo com esse currículo, a chegada em Caxias foi desafiadora. “Sou muito friorenta, cheguei nessa terra gelada, sem roupa adequada à temperatura, e imaginei que tendo conseguido me profissionalizar, venceria, pois, para mim, já tinha vencido o pior. Mas não conseguia emprego nem para lavar prato. Descobri que os chefs de cozinha eram os filhos dos donos dos restaurantes, então não havia espaço.”

Numa época pré-MasterChef, quando a gastronomia não tinha a valorização de hoje, e sem referências na cidade, Maria Rita começou a fazer e vender pães de porta em porta. “Saía 5h da manhã e voltava final da tarde. Vendia tudo, nunca tive baixas vendas.” Para atender ao primeiro evento, teve de vender um notebook para comprar os insumos. “Lembro disso com muito carinho, porque 10 anos depois estava ganhando prêmio de empresa que mais vendeu eventos na Serra Gaúcha, já com 23 colaboradores. Tenho em Caxias os melhores amigos que alguém pode ter. Sou muito autêntica e conquistei a confiança das pessoas.” 

Foto Fabio Grison

Bistrô e cozinha itinerante

Os negócios iam bem, mas um revés da vida pessoal promoveu outra reviravolta na sua trajetória. Aos seis meses de gestação, ela perdeu o filho sonhado por uma década e não conseguiu dar a atenção merecida à empresa. “Meu grande objetivo sempre foi a família e esse segue sendo meu maior projeto de vida, ser mãe.” Passado o período difícil e ao lado do novo companheiro, o engenheiro e sócio Marlon Zanchettin, surgiu a Le Fuê, com sede no Colina Sorriso, de onde sai a base da gastronomia para todos os eventos, que chegam a superar 10 por semana. “A Le Fuê foi fundamental nessa virada de página, reuni 3 mil pessoas numa aula no shopping San Pelegrino em uma noite de quinta-feira que fazia 2ºC, levamos 2,8 mil pessoas para degustar num evento no Jockey Club... Olho para trás e não acredito na velocidade com que tudo aconteceu. Acredito que a ética profissional e o respeito ao cliente fazem a diferença.” 

Embora durante a semana não consiga mais estar no operacional, sexta e sábado Maria Rita faz questão de cozinhar e participar da criação das receitas. A empresa oferece a solução completa em gastronomia onde for, mesmo em pequenos espaços, do canapé à sobremesa, incluindo o bolo e equipamentos para locação. Romântica irreparável, o que mais ama fazer são casamentos. O convite feito pela Uniftec para abrir uma filial junto à sede do centro universitário, ligada ao curso de Gastronomia da instituição, é recente. A iniciativa tem o objetivo de inspirar os alunos com a história de superação e perseverança da chef. “Tenho muito orgulho de estar aqui, porque a ideia é mostrar essa identidade de cozinheira mesmo. Que é possível viver daquilo que você faz. Que, sim, como eu consegui, você também pode ir ainda mais longe.” 


Por Vivian Kratz