Com uma trajetória permeada pela dedicação ao trabalho voluntário, Shirlei Omizzolo é uma das responsáveis pela fundação do Instituto Filhos, entidade voltada à promoção da cultura da adoção consciente e por amor. Sintonizada com o lado bom de tudo que acontece, doa-se como forma de agradecer à vida e procura engajar mais pessoas para que persistam na condução de importantes projetos sociais.
O empreendedorismo, especialmente voltado às causas sociais e comunitárias, é a grande marca do trabalho de Shirlei Omizzolo. Sócia do escritório Martini Omizzolo Organizações Contábeis, é fundadora do Instituto Filhos, entidade dedicada a preparar famílias para receber filhos adotivos e que apoia instituições que abrigam crianças à espera da adoção. Com forte ligação à Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, já foi presidente do Conselho da Empresária (2012/2013), vice-presidente de Serviços (2016/2017) e, atualmente, preside o Observatório Social, que atua pela transparência e qualidade na aplicação dos recursos públicos.
Natural de Veranópolis, veio para Caxias com a família na adolescência, quando o pai, que faleceu aos 52 anos, adoeceu. Trabalhou em escritórios de contabilidade por mais de oito anos, enquanto cursava o Ensino Médio e a faculdade. Por gostar das questões humanas e pela referência de um dos chefes que tinha formação em Ciências Jurídicas, optou pelo Direito. Pós-graduada em Recursos Humanos, juntou-se ao então colega de trabalho Idair Vitório Martini, contador, para a constituição de um escritório próprio, parceria que já soma 32 anos. O início se deu assessorando empresas conhecidas, de familiares, e um cliente indicando o outro foi fazendo o negócio crescer.
Casada com Vilson Lorandi, corretor de imóveis, Shirlei sempre atuou como voluntária. Inicialmente na formação de cozinhas comunitárias, no Brasil inspiradas pela luta de Herbert de Souza, o Betinho, no combate à fome. “Formamos uma cozinha na Vila Ipê e por vários anos trabalhamos buscando ajuda, doações, alimentos e voluntários para fazer as refeições. Era servido almoço duas vezes por semana para as pessoas carentes, cerca de 50 refeições por dia.”
Impossibilitada de engravidar, habilitou-se para a adoção e, dois anos depois, Amanda chegou, com três meses de vida. Se ainda hoje a adoção é permeada por tabus e preconceitos, há 20 anos era assunto pouquíssimo conversado abertamente. “As pessoas adotavam, mas não se falava sobre. Para mim era tranquilo, então me procuravam muito em busca de informações. Acredito que acabamos influenciando muita gente a ter coragem para tomar a decisão.” Assim surgia a ideia de criar um grupo de apoio, algo inédito na região. Shirlei convidou algumas amigas, uma psicóloga e uma assistente social, e formava-se o Instituto Filhos, que desde então promove intercâmbios com outros grupos em diversas cidades e estados.
São oferecidos cursos, palestras e todo suporte antes, durante e após a adoção, por encaminhamento do Juizado da Infância e Juventude, com a finalidade de capacitar pais e evitar maiores dificuldades, como a triste devolução de crianças. “A família precisa estar emocionalmente preparada, não idealizar, filho adotivo é filho, não existe ex-filho, seja como for. Outra coisa é querer negar a história anterior deles, ou não querer contar sobre a condição de filiação adotiva, essa história deve ser respeitada e acolhida.” Amanda, que hoje está com 19 anos, segue os passos da mãe no curso de Direito e já a ajuda no escritório. É possível sucessora na empresa Consili, voltada à mediação, arbitragem e conciliação na solução de conflitos de forma extrajudicial, que surgiu mais recentemente com os sócios Idair e Marta Polesso Mazzuchini.
Amanda com o pai, Vilson Lorandi. Aos 19 anos, ela segue os passos da mãe na área do Direito/Foto acervo pessoal
A empresária também já fez parte da diretoria do Sescon Serra Gaúcha, o sindicato das empresas de serviços contábeis, e recebeu o 8º Prêmio Destaque Mulher em Foco 2018, promovido pela entidade. Em 2016, foi homenageada com o Troféu Mulher Empreendedora, categoria Serviços, conferido pela prefeitura de Caxias.
Enquanto atual presidente do Observatório Social, como representante da CIC, ajuda a monitorar a aplicação dos recursos na gestão pública. “Não é um órgão fiscalizador, mas um apoio. Acabamos atuando também como fomentadores para que mais empresas participem das licitações, minimizando possibilidades de conchavos e ilicitudes.” Um projeto do Observatório que olha para o futuro é o de educação fiscal junto às escolas, ensinando aos alunos onde são aplicados os impostos e a importância de preservar o patrimônio público, responsabilidade de todos.
O espírito empreendedor, acredita que vem especialmente do pai, que sempre visualizou oportunidades. “Sou muito grata à vida, por ela ter me dado tanto. Passei por períodos muito difíceis, mas acho que deles sempre consegui buscar o que tinha de bom, porque sempre há uma troca, o ônus e o bônus, e tento sempre buscar a parte boa. O servir acaba sendo uma forma de agradecer à vida, doar por receber, tanto pessoal quanto profissionalmente.” O maior desafio no voluntariado? Encontrar pessoas persistentes em tocar adiante e assumir os projetos. Um dos sonhos de Shirlei é que o Instituto Filhos possa seguir com mais autonomia.
Para conciliar tantas frentes, o segredo é estar inteira em cada momento, se dedicando a uma coisa de cada vez; saber delegar, contando com uma boa equipe; e o apoio da família que, para ela, é fundamental. No tempo livre, as viagens com eles e com as amigas é o que mais gosta de fazer.
por Vivian Kratz. Fonte: Afrodite