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Rita Neuma, com fé e leveza | Lugar de Mulher | Revista Afrodite

Rita Neuma, com fé e leveza

Foto: Gabriel Seben
Foto: Gabriel Seben

Resiliente e com uma visão de mundo voltada para o momento presente, para a superação dos desafios e na fé em Deus, a maranhense Rita Neuma encarou o desafio de deixar Teresina, no Piauí, onde morava há 20 anos, para trabalhar com o filho, oficial no Cartório Manoel Valente, em Caxias do Sul.

Há pouco mais de um ano e meio ela deixou a distante e quente Teresina, no Piauí, onde morava há 20 anos, para assumir o posto de oficiala substituta da Segunda Zona Imobiliária de Caxias do Sul, que tem como oficial seu filho mais jovem, Manoel Valente Figueiredo Neto. A cidade serrana, no entanto, não era desconhecida para a mulher de olhar sereno e amigável que conta ter vindo para a cidade pela primeira vez no final dos anos de 1980, para visitar a Festa da Uva. Dessa passagem, afirma ter guardado excelentes recordações.

Natural de Tuntum, a 365 Km de São Luís, capital do Maranhão, e aos 63 anos, foi desafiador trazer uma vida inteira para um lugar tão diferente. “Os maiores desafios são os pessoais, de me encontrar como ser humano, administrar a saudade dos outros filhos, netas e demais familiares. Mas assumi a responsabilidade e encarei, confiando em mim e na receptividade que sempre recebi do povo gaúcho, nas diversas vezes que visitei o Estado”, diz com a calma que lhe é característica. “A sociedade caxiense é acolhedora e preserva suas tradições, coisa que muito me agrada e facilita minha adaptação.”

Ajuda extra também é ter o filho ao lado. “É uma experiência incrível trabalhar com o Manoel. Ele tem o nome do meu pai e é difícil não os associar, não comentar com ele como o avô agia nas mais diversas situações. Por um lado, sinto que meu pai se eterniza pelo legado de honestidade que deixou aos seus.” Por outro lado, Rita destaca que o amor e o carinho de uma mãe, muitas vezes, vão além do que se pode imaginar. “Minha preocupação primeiro é de mãe, assim o amor materno está acima de todas as coisas. E pelo amor encontro forças para superar qualquer dificuldade.”

As atribuições no cartório pedem ritmo acelerado, o que faz o tempo passar mais depressa, mas com a sabedoria da experiência, alerta: “Deve existir o cuidado de não deixar as horas se sobreporem ao crescimento pessoal, que é o objetivo do trabalho.”

Rita com os cinco filhos: Ciro Ricardo, Marcus Leonardo, Hélio Segundo, Helineuma e Manoel Neto. Foto: Rafael Sartor

Uma infância de boas lembranças

Filha de um dos maiores produtores de arroz do país, Manoel Valente Figueiredo, lembra da infância como uma época agradável. Frequentava muito as fazendas do pai e tinha contato com a natureza, tomava banho nos rios e lagos com liberdade e segurança, além de sempre participar de atividades eucarísticas. “Da infância pude extrair o significado de entrega e resignação a Deus.” 

O pai trabalhava muito, atendia a muitas pessoas e auxiliava com orientações empresariais, inclusive. “Era um visionário e tinha uma percepção sobre o sistema financeiro que encantava a todos. Tinha participação ativa frente aos bancos. Da história de meu pai, destaco o otimismo e a liderança.” Da mãe, Maria Iracema Gomes Figueiredo, lembra como um braço forte, sempre apta à administração dos afazeres domésticos e na criação dos filhos. Além disso, tinha grande atuação junto a arquidiocese e exercia um enorme controle logístico e financeiro. “Da história de minha mãe destaco a generosidade, a dedicação pela família e a complacência com seus entes.” 

Desde cedo, Rita auxiliava o pai nos negócios “e, por ser a filha mais velha, sempre fui orientada no meu proceder”. Na adolescência, foi estudar em Teresina (PI), mas frequentemente retornava o contato com as atividades no Maranhão. 

A importância da educação

Rita casou jovem, aos 16 anos e, aos 19 anos já era mãe do primeiro dos cinco filhos, Ciro Ricardo. Depois vieram Marcus Leonardo, Helineuma, Hélio Araújo Segundo e, o caçula, Manoel. Orgulha-se de todos serem formados e exercerem suas profissões, bem como da união da família, que sempre procura estimular. “Não há uma cartilha para criar os filhos. Não é algo exato.” Apesar disso, enfatiza que as mães são também educadoras e devem ensiná-los a compartilhar, ajudar e querer o bem para o próximo. “Não adianta apenas falar, os filhos precisam perceber a mãe sendo boa e ajudando aos outros, naturalmente. Vê-la perdoando, respeitando e falando bem dos que a rodeiam.”

Alicerçada em sua experiência, ela também defende que os pais devem ensinar sobre a necessidade de se ter objetivos na vida. “É fundamental que as crianças encontrem suas paixões e aquilo que as elevam, seja de cunho religioso, acadêmico, artístico...”  Em um mundo cada vez mais competitivo, considera primordial educá-las para que possam sempre estar prontas a levantarem-se e defender o que consideram certo. “Devem aprender a mostrar bondade, gentileza e jamais brincar com os sentimentos alheios. A não achar graça e nem repetir comentários racistas, preconceituosos e degradantes da dignidade humana. São pelos ensinamentos da mãe que o filho deve se aceitar e compreender que bondade, gentileza e bom senso são características dos fortes. Os fracos e pequenos escorregam sempre para o desprezo, a maledicência, a zombaria, o comportamento desonesto, o bullying e qualquer outra tentativa de diminuir o outro para tentar parecer maior.”

Rita com a neta, Valentina, filha mais nova de Ciro Ricardo.

Formação e ressignificação do trabalho

Os conselhos e visão ampla do comportamento humano que ecoam com tanta naturalidade têm origem também na formação pedagógica de Rita, que começou a lecionar aos 22 anos, para o primário, em todas as disciplinas, e seguiu carreira no Magistério, com maior atuação em Língua Portuguesa, e na direção acadêmica. Atenta a cursos e qualificação no processo de ensinar e aprender, procurou proporcionar aos alunos mais do que conhecimentos técnicos, mas perspectivas de otimizar a vida. Paralelamente, exerceu funções no INSS, antigo Funrural, sendo representante da Previdência Social por 14 anos, dos 20 aos 34, atuando em especial na aposentadoria e concessão de benefícios na área rural. Exerceu ainda atividade de controladoria, auditoria e tesouraria, junto aos poderes públicos.

A ação social também fez parte das atribuições de Rita. Como primeira-dama de Tuntum entre 1983 e 1988, a professora teve a oportunidade de contribuir com os hipossuficientes, em especial os idosos pobres. “Dessas experiências trago os aprendizados de maturidade profissional, que atingimos quando, independentemente dos anos de atuação no mercado ou em determinada organização, já se vivenciou diversas situações, se atuou com personalidades diferentes, participou de projetos variados e teve que minimizar ou solucionar conflitos que levaram ao desenvolvimento de habilidades para enfrentar os desafios de seu labor com inteligência emocional, tato e coerência.” Com suas experiências, aprendeu a cultivar a força da tolerância de forma a compreender, aceitar, assumir responsabilidades, ter determinação e melhorar as circunstâncias externas. 

A mudança para Caxias representou a ressignificação da sua carreira. “Não foi fácil adentrar em uma área nova, mas acredito que fomos criados por uma natureza perfeita, em estado de evolução e apredizagem constantes.” Pondera que a mulher sempre foi desafiada no mercado de trabalho, em especial pela jornada dupla: “conciliar o papel de mãe e profissional nem sempre é fácil.”  Mas acredita que a aceitação feminina, ainda mais em cargos de chefia, ganha cada dia mais espaço e credibilidade no Brasil. “Em Caxias, a mulher cada vez mais está ganhando destaque. O grande desafio são os cargos políticos, as estruturas de poder e a participação democrática.”

Para as mulheres que estão em busca da realização profissional, Rita vê a necessidade do entendimento de que a vida é feita de mudanças, que devem ser encaradas de forma positiva, como uma nova chance, um novo capítulo a ser escrito. “Abracem as mudanças com coragem e positividade! As mulheres jamais devem negligenciar ou tentar fugir de suas múltiplas responsabilidades. Devemos entender que cuidar de nós mesmas é fundamental e que cuidar do nosso trabalho e de nossa família é uma honra.”

Rita com as irmãs Socorro e Rosane em viagem para Londres.

A fé que impacta

Com forte admiração por Madre Teresa de Calcutá, revela que a religiosa canonizada em 2016, tem grande impacto na sua vida. “Ela me possibilita a percepção de que o que você está fazendo eu não posso fazer, e o que eu estou fazendo você não pode fazer, mas, juntos, nós podemos fazer coisas interessantes no progresso de todos. E essa é a grandeza do amor de Deus por nós, nos dar a oportunidade de sermos bons pelas obras de dedicação que fazemos, porque a bondade não é um luxo de poucos e bondade também se aprende. É um dever muito simples para você, para mim.”

Rita avalia que as pessoas precisam transformar o amor a Deus em ação viva, diariamente. “Afinal o ontem foi embora, o amanhã ainda não veio. Temos somente o hoje. Assim, o momento do hoje é aquele em que o pensamento muda de “eu poderia” para “eu posso”.

A maturidade, traduzida pelas aprendizagens, a história de vida que vem ano após ano, é sua grande aliada para uma visão voltada ao presente. “Maturidade é a ausência de conflitos internos que representam meras confusões e não nos levam a lugar algum. É a consciência de optar pelo bem. Dá a possibilidade de você conviver consigo mesma para extrair de cada acontecimento as melhores coisas e me ensinou que o tempo cura tudo. Devemos ter paciência e, muitas vezes, o essencial é dar tempo ao próprio tempo.”