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A ousadia de Susana Chies Galarza | Revista Afrodite

A ousadia de Susana Chies Galarza

Foto Fabio Grison
Foto Fabio Grison

Ela é dinâmica e adora um desafio. Após diferentes atuações profissionais e com energia de sobra para buscar o que almeja, Susana Chies Galarza desafiou a crise e projeta sua marca Casa Três Vendas como sinônimo de diferenciação, procurando desconstruir preconceitos sobre a cachaça, especialmente entre as mulheres.

O ano era de crise, 2016, mas Susana Chies Galarza cansou de bater panela e de apagar e acender a luz para protestar por mudanças. Decidiu arregaçar as mangas e fazer acontecer. Num período de dedicação exclusiva à família após diversas empreitadas profissionais, essa caxiense foi buscar inspiração para um novo negócio no hábito de presentear com o mel produzido na propriedade da família, no interior de Dom Pedrito. Uniu uma oportunidade de mercado à vontade de fazer algo diferente e lançou a marca Casa Três Vendas que hoje, além do mel, comercializa cachaças e espumantes.

Não satisfeita em trabalhar com um produto que por si só enfrenta resistência, ainda mais na terra do vinho – há muito estigma em relação à cachaça – ela foi além. Justamente pensando em se diferenciar e expandir fronteiras, buscou o licenciamento das bebidas junto aos principais clubes de futebol do Estado, começando pelo Juventude, até chegar no Grêmio, Caxias e Internacional. “É motivo de muito orgulho, porque no começo não acreditavam que daria certo. A receptividade dos clubes foi maravilhosa, o apelo de um produto artesanal, orgânico, feito no Rio Grande do Sul, conquistou.”

No escritório da Casa Três Vendas, no bairro Colina Sorriso, que já está ficando pequeno para o tamanho da operação, Susana relembra a carreira cheia de recomeços. Foi comissária de bordo, mas quando estava para iniciar os voos internacionais, a saudade da família e o desejo de casar e ter filhos falou mais alto. “A diretoria da empresa me chamou, disse que eu não podia sair, me deram uma licença, um tempo para pensar, mas agradeci a oportunidade e retornei.”

De volta a Caxias – ela residia em São Paulo – foi trabalhar na empresa do pai, Carlito Eugênio Chies, na área de comércio exterior. Mais tarde abriu seu próprio negócio, gerenciando importações de uma empresa irlandesa. Casada com o empresário Marcos Vinícius, decidiu ficar um período em casa para se dedicar mais à família e ser mãe. Foi quando nasceu a primogênita, Maria Eduarda, hoje com 13 anos. “Nessa época conciliava as atividades do meu escritório de comércio exterior com a dedicação à casa e à família.” Só que grande parte do trabalho, cerca de 80%, era prestado para a empresa do pai, que passou por um período crítico e, a partir de um novo planejamento estratégico, a cortou enquanto terceirizada. 

“Tive que começar tudo do zero, de novo.” Surgiu, então, a oportunidade de trabalhar na empresa do marido, no ramo do aço, importando e vendendo um novo produto. Desbravadora, destemida e afeita a desafios, não só aceitou como dedicou-se com afinco. Depois de três anos, acabou se desligando, ficando outros três em casa, dando uma atenção especial à filha mais nova, Mariana, de nove anos. 

Há pouco mais de dois anos, aconteceu a virada. Acostumada a trazer mel da região da Campanha, da propriedade que pertenceu ao avô de Marcos, para presentear os amigos, notou que, naquele ano, o mel estava escasso em Caxias. “Vi uma oportunidade de negócio e estava muito engajada politicamente, tentando aproximar as pessoas para fazermos algo em prol do país. Acho que acabei canalizando essa energia toda para trabalhar com algo positivo, que fosse bom.”

Foi quando começou a vender mel no bairro, para os vizinhos, no salão de beleza... E logo surgiu o nome, Casa Três Vendas, em alusão a uma das três casas da região conhecida por Três Vendas, na divisa entre Brasil e Uruguai, onde o avô de Marcos possuía uma das três casas em que se vendia de tudo, desde mantimentos até munições, há mais de 100 anos. “Achei um nome forte, que remete ao campo, à origem, ao local de onde vem o mel.” No primeiro mês, Susana vendeu R$ 750, batendo de porta em porta. Para esse ano, a estimativa é comercializar nada menos do que seis toneladas.

Depois do mel, ela chegou a lançar um azeite de oliva, mas a parceria acabou não frutificando. Tendo no marido seu braço direito, a ideia da cachaça já estava em maturação. Produzida em um alambique no município de Santa Tereza, nas versões prata, ouro e amburana, e já com um novo blend  em fase de elaboração, o maior desafio é vencer a resistência cultural à bebida, mesmo sendo símbolo nacional. Para ajudar a tirar o estigma de “coisa de homem” ou de “forte demais” é que Susana lidera a criação do Clube das Cachacieres, que busca promover a degustação e a valorização da cachaça artesanal entre o público feminino.

Tendo lançado também uma linha própria de espumantes, a Donna, com qualidade direcionada às classes A e B, Susana quer levar sua marca para todo o país e futuramente até exportar. Em pouco tempo já entrou em redes de supermercados e está fornecendo para hotéis. “Não se imagina a quantidade de ‘nãos’ que já recebi, de entrar com toda humildade para oferecer meu produto e ter de sair de queixo erguido depois de um comentário machista. Mas tudo que faço é com amor, com muita dedicação e entrega.” Além do trabalho e do cuidado com a família, Susana tem uma causa: doa mel ao Lar da Velhice São Francisco de Assis. 


Por Vivian Kratz

Fonte: Afrodite 46

Acervo pessoal
Acervo pessoal
As cachaças temáticas da Casa Três Vendas
As cachaças temáticas da Casa Três Vendas