Warning: ini_set(): A session is active. You cannot change the session module's ini settings at this time in /home2/revis236/public_html/kernel/ApplicationBootstrap.php on line 21
Especial: A revolução do trabalho | Revista Afrodite

A revolução do trabalho

Foto: Depositphotos
Foto: Depositphotos

MUDANÇAS TECNOLÓGICAS e culturais sempre influenciaram modificações no mundo do trabalho, o que vem ocorrendo de forma acelerada, impactando e desafiando profissionais e empresas. Para a consultora em desenvolvimento humano e sócia da E-Saberes Consultoria e Treinamento, Maria Zeli Stelmack Rodrigues, essas mudanças integram a transformação do próprio capitalismo para um modelo mais fluído, que precisa lidar com questões como diversidade, meio ambiente e a revolução digital do século 21. “Sempre tivemos uma relação muito complicada com o trabalho, visto como algo pesado, destituído de prazer. Por isso a grande maioria dos milhões de pessoas que levanta pela manhã para trabalhar inveja os artistas”, observa.
Crise, recessão, fechamento de postos, aumento do empreendedorismo e do trabalho autônomo, novas exigências e modos de organizar as relações empregado-empregador, inclusive com reforma na legislação trabalhista, demonstram que o momento de transição já trouxe e ainda trará alterações que vêm para ficar. A pesquisa mundial Future of Work (Futuro do Trabalho), realizada pela ADP com mais de 2 mil pessoas em diversos países, incluindo o Brasil, examinou 19 tendências que já estão transformando os ambientes e as relações laborais. Afrodite elencou as 10 mais impactantes e que já começam a se desenhar em nossa realidade local. 

1 - ADEUS, ESCRITÓRIO FIXO

O trabalho remoto, ou teletrabalho, como na nomenclatura utilizada pela reforma trabalhista, se traduz na tendência de, cada vez mais, o profissional não ter lugar fixo para exercer suas funções. Com a utilização de tecnologias de informação e comunicação – internet, celular e outros dispositivos móveis –, em muitas ocupações já é possível trabalhar de casa (homeoffice) ou de praticamente qualquer lugar do planeta. Flexibilidade, mobilidade e autonomia são as palavras.

2 - RELAÇÕES MAIS HORIZONTAIS 

O modelo de hierarquia vertical, muito baseado no controle, está obsoleto. “Já percebo uma horizontalização bem maior nas empresas”, diz a consultora, especialmente nas ligadas à tecnologia. Isso exige uma nova visão na gestão de pessoas e está diretamente ligado também à jornada de trabalho. “Acredito que no futuro estejamos muito mais preocupados com as entregas que o profissional faz do que com o local e o tempo dispensado. Não interessa se ele realmente vai trabalhar oito horas e meia por dia, essa será uma questão dele. Poder adequar minha vida ao trabalho é uma questão muito importante. Posso trabalhar no sábado e tirar a segunda de folga, por exemplo.”

3 - AUTOGESTÃO

Mais flexibilidade em tempo e espaço pressupõe também um novo perfil de profissional: que faça sua própria gestão. Organizar horário de trabalho e se responsabilizar pelas entregas ou não entregas profissionais exige disciplina e maturidade. “É uma mudança de postura de ambos, de quem contrata e de quem é contratado. Acredito que é bom tanto para o trabalhador quanto para a empresa”, avalia Maria Zeli. Já existem contratos de trabalho prevendo dois meses no ano para viajar e estudar, negociados entre empresa e profissional para proporcionar atualizações no exterior que agregam valor à organização. O mesmo acontece com o trabalho autônomo, que deve crescer, no qual o profissional tem condições de administrar seu contrato e seus projetos.

4 - CONTRATAÇÃO POR PROJETOS

Especialistas vislumbram cada vez menos funcionários contratados por tempo integral e mais atividades por projetos, o que significa uma mudança profunda na noção de carreira. “Já não estamos falando tanto em profissão. Com as mudanças na forma de contratação, o profissional será muito mais olhado pelo resultado do que por uma longa carreira.” Atividades que antes não existiam passam a ser boas fontes de renda e realização, como passeadores de cães, webdesigners, blogueiros(as), youtubers, digital influencers, startups. “É irreversível, cada vez mais estaremos usando serviços com muita comodidade, praticidade, utilizando a mobilidade e a tecnologia para isso.” 

Áreas promissoras

Tudo que relaciona com desenvolvimento de tecnologia para uma vida melhor e mais confortável está na esteira de crescimento. Saúde, educação e questões ambientais, especialmente relacionadas ao reaproveitamento de resíduos, na opinião da consultora, despontam como áreas promissoras. Informática, mobilidade, produtos e serviços ligados à qualidade de vida têm boas perspectivas de futuro, assim como o resgate de algumas atividades do passado. “Ainda estamos num deslumbramento muito grande com a tecnologia, achando que ela é a solução de tudo”, observa a consultora.

5 - FIM DA FIDELIDADE

Outra tendência é o profissional trabalhar onde suas habilidades forem úteis. Enquanto muitas organizações ainda têm a expectativa de fidelidade, o jovem que está entrando no mercado de trabalho quer experimentar muito, tem curiosidade em fazer coisas diferentes e dificilmente se vincula a atividades muito rotineiras. Maria Zeli observa que carreiras de longo prazo não existem mais, a projeção está muito mais em curto ou médio prazos. Além disso, não existem mais atividades ou profissões não passíveis de serem extintas, assim como várias outras vêm surgindo na esteira da tecnologia.

6 - TRABALHO COM SIGNIFICADO

A ideia do profissional workaholic (viciado em trabalho)  vem sendo substituída por jovens mais interessados em cuidar da saúde (física e mental), em busca de qualidade de vida e em fazer escolhas mais voltadas a interesses pessoais e de impacto social. Em meio a uma crise que gerou 13 milhões de desempregados no Brasil, esse discurso parece não fazer muito sentido, mas consultores apostam que com economia e política mais estáveis, profissionais que querem atuar em organizações escolherão em qual trabalhar. “A empresa tem os mesmos valores que eu? Contribui para a melhoria da vida das pessoas? É um tema de casa que as empresas precisam fazer, já que ainda olham muito única e exclusivamente para as metas de curto prazo, relegando outros aspectos que acabam gerando insatisfação no colaborador.”

7 - CIDADÃOS DO MUNDO

Com a globalização consolidada de forma irreversível, cada vez mais as empresas buscarão os melhores talentos onde estiverem, sem fronteiras. O profissional do futuro poderá se mudar para várias cidades e países na medida em que a economia vai se internacionalizando com mais força. Com as mídias sociais funcionando como plataforma de trabalho em colaboração, nem o céu é o limite. Habilidades relacionadas a se adaptar a novos ambientes e culturas, e lidar com a diversidade, serão uma exigência. “Com pessoas de várias nacionalidades trabalhando juntas, isso será uma necessidade, o que me parece ainda um grande desafio: lidarmos bem com o diferente: opções de vida, credos. Essa capacidade de convivência respeitosa será muito necessária, trabalhar nossos níveis de tolerância e paciência”, alerta a especialista.

O profissional do futuro precisa:

  • Saber se relacionar com o diferente.
  • Ser responsável por assumir a gestão do seu trabalho.
  • Aprimorar o autoconhecimento.
  • Trabalhar colaborativamente.

8 - MUDANÇAS CONSTANTES DE ATIVIDADES

Se carreiras longas já não são tão valorizadas, funções inalteradas ao longo da trajetória profissional também estão com os dias contados. É o fim da era do emprego para a vida inteira. Além de mudar de empresa, as pessoas mudarão mais frequentemente de aptidões e habilidades no exercício das atividades. Estudiosos falam em um média de quatro carreiras ao longo da vida. “Não sei se veremos no curto prazo no Brasil, mas é uma certeza. Aquela história de que fazíamos uma graduação e escolhíamos a nossa profissão para a vida não é mais uma verdade. Venho de uma geração em que era assim, entretanto fui mudando, fazendo outra graduação, especializações e já estou indo para a minha terceira”, conta a consultora, que já atuou como professora, gestora e agora começa a se dedicar à psicologia clínica.

9 - AUTOMAÇÃO E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Veremos com cada vez mais frequência a substituição de pessoas em trabalhos repetitivos e que exigem menos esforço intelectual por automação, máquinas inteligentes e inteligência artificial. Robôs que dirigem carros e atendem em recepções de hotel já são realidade. Aplicativos de celular que solucionam problemas do dia a dia, como o Lily, que solicita informações pessoais para recomendar a combinação de roupas perfeita para o nosso estilo (substituindo a opinião da amiga), já não fazem parte de ficção científica. O desafio da indústria é se modernizar em termos de tecnologia enquanto novas atividades para as pessoas surgem. Junto com isso, adequar a gestão de pessoas, criando espaços de trabalho mais agradáveis e prazerosos de se estar, também uma solicitação das equipes.

10 - APOSENTADORIA COMO ESCOLHA

Com as pessoas envelhecendo com mais saúde e disposição, uma idade padrão para se aposentar não deverá mais existir. O momento para se afastar do trabalho tende a ser uma escolha de cada um. A queda nas taxas de natalidade – menos mão de obra disponível – deve corroborar essa tendência de maior permanência no mercado de trabalho. É a lógica do “primeiro trabalhar para depois fazer o que gosta” caindo por terra. Com trabalhos mais significativos e de acordo com o propósito e valores de cada um, a ideia é que seja até mais prazeroso se manter na ativa. “Não podemos esquecer que o trabalho sempre foi visto apenas pelo lado da sobrevivência, depois como uma forma de ganhar status, reconhecimento, e numa lógica de poder participar de uma sociedade de consumo. Mas ele também é um dos pilares da saúde, especialmente da mental. Hoje o colocamos como fonte de potencialidade criativa, de desenvolvimento de habilidades e de inserção no mundo.

E o conflito de gerações?

“Sempre existiu e sempre existirá”, diz a especialista. No entanto, um dos grandes desafios dessa convivência no momento é que os mais jovens querem galgar postos que a outra geração levou muito mais tempo para conseguir. A drástica revolução tecnológica impactou em diferentes estilos de vida e anseios. É salutar a negociação dos conflitos e a presença das gerações mais novas, com todo seu gás, ideias novas e disposição ao risco, convivendo com faixas etárias em que se espera um nível maior de maturidade, equilíbrio emocional e experiência no currículo. “Sim, as empresas terão mais trabalho com desenvolvimento de lideranças e liderados com essa negociação, mas a mescla de idades, gêneros, culturas, religiões – diversidade – faz bem para as organizações.”


por Vivian Kratz. Fonte: Afrodite 45