Os seres humano são mamíferos, o que significa que somos alimentados através de leite já nos primeiros momentos de nossas vidas. Ainda que existam outras soluções na natureza, as mamas servem para cumprir esse papel nutridor.
Já na adolescência, os caracteres sexuais secundários de uma menina vão demonstrando através da anatomia a sua sexualidade genética – ainda que eventualmente os fatores psíquicos possam determinar um entendimento contrário. Suas mamas irão crescer e o formato de seu corpo ganhará duas protuberâncias na parte superior do tórax, delineando um novo perfil corporal às custas da preparação para a alimentação de sua prole e a perpetuação de nossa espécie.
As mamas são glândulas sudoríparas que se modificam na vida embrionária, já se preparando para cumprirem a missão de amamentar. Portanto, enquanto ainda está sendo gerado no útero de sua mãe, mesmo sem ter nascido e sem ter sido amamentado, o pequenino embrião feminino já está formando as suas próprias glândulas mamárias, dando garantia a uma sequência de novos seres no planeta.
Dr. Fernando Vivian, médico mastologista | Foto Fabio Grison
Essa engenhosa mágica da natureza acaba se tornando contraditória. Na vida adulta, à medida que os anos passam, a mulher sofre influências do meio externo e justamente sobre as suas mamas recai o maior perigo no universo do câncer: está nas mamas a maior incidência de doenças malignas quando comparadas aos demais órgãos de seu corpo. Ah, as mamas… que surgiram pelas adaptações evolucionistas, permitindo que nossa espécie proliferasse, tornam-se algozes das mulheres, oferecendo um risco inerente para desenvolverem um câncer. Serão quase 2,5 milhões de casos no mundo inteiro a cada ano. As sulistas, colecionadoras de títulos de beleza em nosso país, possuem chance aumentada em relação às demais mulheres do Brasil, como um imposto a pagar quando a natureza é generosa.
É sabida a relação do câncer de mama com a amamentação. Quanto mais filhos tiver e por mais tempo amamentar, maior será a proteção contra a doença. Esse é o acordo que a natureza faz com as mulheres. Aquelas que cumprirem bem o seu papel de matrizes e seguirem a ordem de perpetuarem a espécie, terão diminuído o seu risco. Mas é um pequeno bônus da mãe natureza. No final das contas, seguimos enfrentando essa contradição: as mamas, que belas e importantes, que enfeitam, destacam, embelezam e seduzem; as mamas que nutrem e alimentam, estas ainda são o objeto de desejo do câncer. As mamas que garantem nossa sobrevivência no início de nossas vidas pagam o preço que a natureza cobra por estarmos aqui.