COMEÇAMOS A NOS apaixonar junto com o advento do e-mail, a partir de 2001. Ela saindo de um relacionamento, eu, de outro. Consegui seu telefone e naquela primeira ligação ela me passou seu e-mail. Gosto muito mais de escrever do que falar. Para mim, naquele momento, seria bem melhor assim. A partir de então começamos a trocar cartas pelas Internet. Passamos a nos apaixonar mais e mais, e-mails após e-mails.
Era visualizar uma mensagem dela na “caixa-de-entrada” que, pronto, valia o dia. Na ânsia de respondê-la e conquistá-la eu escrevia minha vida ali, era minha forma de doação. Ter a tela em branco, inteira à disposição do meu arrebatamento, me levava a convidá-la a fazer coisas que eu nem me sabia capaz. Digitava-lhe conveniências e privilégios que jamais haviam brotado na minha concepção de conquista. E me esmerava na pontuação, não seria a hora de descuidar dos pontos. Principalmente, das vírgulas. Ela retribuía com inspiração.
O e-mail me dava a possibilidade de oferecer-lhe tudo o que eu dispunha para fazê-la feliz. Mas não prometi nada, não fiz propostas, não menti. Algumas de minhas mais ousadas ofertas foram: vamos tomar um suco de maracujá, saltar de asa-delta, ir numa festa de amigos, comer uma pizza, compartilhar de um vinho. Ela ia me aceitando. Passamos a nos apaixonar mais, e-mails após e-mails, encontros após encontros.
Me vi muito feliz naqueles dias. Compartilhava com meus amigos mais próximos o andar do romance. Eu que nunca fui disso passei até a assoviar canções, principalmente as que ouvíamos juntos. Surgiu inclusive uma ideia estratégica de escrever nos e-mails coisas em inglês, geralmente letras de música e alguma poesia, a fim de impressioná-la. Às vezes até inventava versos no meu inglês coloquial – e ela, sempre muito querida, me corrigia a gramática. Passamos a nos apaixonar mais, e-mails após e-mails, encontros após encontros. So far, so good.
Numa dessas boas sextas-feiras de primavera, ela me entregou, em mãos, uma carta. Um cartãozinho, na verdade, com algo escrito e um desenho. Envolto nele estava um teste de gravidez e em outro pacotinho um sapatinho azul de bebê. E dias antes do nosso casamento, que completou 15 anos em abril passado, presenteou-me com uma encadernação com a maioria dos nossos e-mails trocados ao longo de um ano, praticamente um tomo de nossa biografia. Lemos juntos o que nos escrevemos.
Ela é muito mais forte e bem-humorada que eu. Percebi isso na nossa troca de e-mails e na nossa vida a dois. Percebo isso hoje e todo dia. Às vezes canto comigo “...eu sou rapaz direito, fui escolhido pela menina mais bonita...”.
Abri meu coração. É o que se faz nos e-mails e cartas de amor.