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De Valérias e Maria Josés | Leia na Revista Afrodite

De Valérias e Maria Josés

Ao abrir meus olhos com a visão ainda embaçada, vi uma cena diferente. Haviam algumas senhoras solícitas pedindo licença pra me vestirem, sorridentes, exceto uma. Minha vó estava em sua cama com um olhar desfocado e pedindo também pra vestir algo especial.
Naquele dia, no auge dos meus oito anos, eu amanheci no quarto dela. Na noite anterior ela foi até a nossa casa e perguntou entusiasticamente: “Quem quer dormir com a vovó?” Minha irmãzinha de quatro anos, a Livia, se agarrou nas pernas da nossa mãe, e meu irmão, então com 10 anos, o Gustavo, pareceu não ter ficado tão entusiasmado com a ideia de ir. Eu, com minha energia típica, saí correndo pegar o meu pijama e me fui feliz noite afora.
Passamos o dia seguinte brincando, comendo guloseimas e assistindo TV com um monte de amigos e parentes na casa daquelas gentis mulheres que ajudaram a me vestir. Lembro da minha surpresa ao ver primos que vieram de longe e alguns amigos que dificilmente vinham nos visitar por qualquer motivo. Mais tarde, naquele mesmo dia, fiquei sabendo que nossa mãe, Valéria, havia falecido naquela madrugada. Não sei dizer porque, mesmo sob o olhar ciumento da minha mãe, eu decidi ir com a minha avó naquela noite, talvez por coisas entre avós e netos.
Hoje, enquanto escrevo essas palavras, percebo que já se passaram mais de 38 anos daquele dia diferente. E penso: como o tempo voa, não é? Desde aquela noite em que fui com minha avó, Maria José, de mãos dadas e contando uns causos rumo a sua casa...
Nesse momento escrevo dessa mesma casa enquanto separamos fotografias e resgatamos lembranças nas quais estão duas mulheres que sempre me inspiraram. 
Tento imaginar de quantas Valérias e Marias José deve ser feito o universo feminino e o quanto nós, homens, tentamos desvendar esses infinitos e fantásticos mistérios da criação e convivência humana. 
Há uma semana, mais ou menos, eu acredito que as duas devem ter se encontrado com um daqueles abraços mais longos do que a própria saudade. A mim restam a gratidão e a curiosidade por essas mulheres, as quais pertencem a benção de gerar e criar seres confusos e incompletos como eu. Meu infinito e eterno respeito e admiração a todas as Valérias e Marias Josés desse mundo e de todos os tempos.

Rodrigo Grun
Mentor de Carreira e Negócios Digitais