QUANDO COMECEI a redigir este texto, pensei: “mas que autoridade eu, homem, tenho para escrever sobre o universo feminino?!” Não sou psicólogo, terapeuta ou psicanalista. O que tenho é a experiência de um relacionamento sólido e saudável de 12 anos de história com a minha companheira, Cassi. No decorrer desse período, aprendi algumas lições valiosas que pretendo manter em prática para alcançar mais muitos anos de uma relação gostosa e frutífera.
Desde o início acordamos que o nosso namoro estaria baseado na verdade e que somos inteligentes o suficiente para conversar abertamente sobre tudo, sem a necessidade instintiva de ultrapassar o limite/barreira do respeito. A verdade pode ser dura, mas ter que lidar com ela nos conduz a outro patamar de maturidade emocional. Nos faz encarar os sentimentos de frente, olhar para dentro, olhar para o outro. Se distanciar emocionalmente de determinada situação nos ajuda a compreender o cenário todo, a colocar os conflitos em perspectiva, no seu devido tamanho e importância, e a lidar com a busca da resolução de uma maneira mais fácil e consciente.
Certa vez um amigo me contou que sua esposa vivia reclamando de que há anos não ouvia um sequer “eu te amo”. Ele argumentou com ela que havia dito “eu te amo” no dia do seu casamento e que, se um dia mudasse de ideia, iria avisá-la. A história é satírica, mas carrega uma mensagem real: o homem costuma tomar como garantido o status do relacionamento com seu cônjuge e acredita que a mulher também o faz. Mas não, a mulher não.
Um dos anseios mais profundos da alma masculina é a conquista. A arte de despertar no outro o desejo de estar consigo. Para o homem que decide ter uma relação de longo prazo, há a sensação de que a missão da conquista já está consumada logo que o relacionamento se torna estável. O que normalmente acaba resultando em comodismo e estagnação. O homem pode levar uma vida inteira do mesmo jeito. A mulher precisa ser reconquistada de tempos em tempos, é um processo cíclico. Elas querem ser amadas e amadas novamente.
Para que seja possível construir e desenvolver um relacionamento conjugal saudável é necessário colocar o outro em primeiro lugar. A intenção primeira de fazer o outro feliz, ao invés da busca egoísta do que é melhor para si, faz com que eu também seja feliz como consequência natural. Somos agentes da nossa própria história e uma atitude positiva em favor do outro cria um ciclo virtuoso de benevolência mútua.
Entender os princípios femininos é estar atento aos detalhes. É diminuir o ritmo e ter consciência do momento presente. Se para a minha esposa é importante ter a casa organizada, vou me dispor a colocar tudo no seu devido lugar; se é viajar, vou planejar e propor uma viagem juntos; se é ter tempo para se dedicar à sua carreira, vou cuidar das crianças tais noites da semana para que ela tenha tempo de estudar... enfim, é prestar atenção no que a faz feliz e tomar uma atitude a esse respeito, de maneira permanente.
Compartilhar projetos e objetivos de vida também é fundamental para que cada um não viva sozinho sua própria trajetória, apenas repartindo o teto e as contas do mês. Viver a vida a dois é, literalmente, permitir ao outro viver as minhas histórias e viver com o outro as histórias dele. Se esforçar, andar a milha extra para manter um relacionamento saudável, definitivamente, vale a pena. É tão, mas tão bom, que mesmo depois de anos, os meus votos de casamento continuam se fazendo verdade: “se tudo isso que vivemos e estamos vivendo não é o amor, o amor não sabe o que está perdendo!”
Ricardo Dini é jornalista.
Fonte: Afrodite