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A importância do perdão para a saúde mental | Revista Afrodite

A importância do perdão

Foto Freepik
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Falar do perdão geralmente nos reporta a um viés religioso, no qual através do cristianismo se doutrina que devemos dar a outra face e que para sermos perdoados, precisamos perdoar. Já no budismo, o perdão não traz a mesma conotação do cristianismo, inclusive sendo usado com reservas, pois pode ser indicativo de superioridade de um ser em relação a outro, no caso aquele que concede perdão ao perdoado. Sem aprofundar em nenhum juízo de valor religioso e doutrinário, o que geralmente esquecemos é o quanto a falta de perdão repercute direta e indiretamente em nossa saúde mental. Esta é a seara que quero adentrar, a da saúde psicofísica.

A falta de perdão está associada a emoções e sentimentos "desagradáveis" como raiva, ódio, rancor, rejeição e vingança. Fala-se muito em liberar perdão ao outro, mas na realidade, quando perdoamos, somos nós quem nos libertamos de todos os sentimentos elencados.

Perdoar é libertador, pois a partir desta perspectiva não somos mais uma vítima de uma situação ocasionada por outra pessoa, mas um ser livre das amarras dos ressentimentos atormentadores que minam a paz, dia após dia como um câncer na alma. E são estes mesmos sentimentos alimentados que baixam o sistema imunitário, sendo uma janela aberta para doenças infecciosas, sendo indicativo de pressão alta, cardiopatias, processos inflamatórios, estresse crônico, distúrbios ansiosos e depressivos que repercutem na maioria das vezes em ruminações e uma péssima qualidade do sono. Neste sentido, se pararmos para refletir, ao perdoar estaremos beneficiando a nós mesmos, nos libertando de uma das piores das prisões: a falta de paz interior. Contudo é fato que há casos em que o ocorrido foi extremamente grave, com perdas praticamente irreparáveis em que o processo do perdão se torna praticamente impossível, demandando muito trabalho psicoterapêutico, disposição interna, tempo e muita resiliência.

A dor emocional, qualquer que seja, nunca poderá ser invalidada, e em casos específicos falar de perdão poderá inclusive inflamar ainda mais revolta, visto que a pessoa não se sente compreendida na sua dor, não sente a empatia e o acolhimento do outro. Gostaria de ressaltar que não se trata de colocar-se (ou não) no lugar do outro, nem de fazer justiça, mas sim de "tirar o outro desse lugar", validando, oferecendo acolhida e suporte ao seu sofrimento, vivenciando cada fase do luto, cada processo e cada dinâmica. Contudo, reitero, não há outro caminho, a experiência precisa ser ressignificada e o perdão precisa ser liberado por tudo que foi elucidado acima. Este processo inicia-se com uma decisão consciente e racional, para depois trabalharmos o emocional. 

Como já relatei algumas vezes, perdoar não é fácil e em nenhum momento quero "romantizar" aqui o processo do perdão como uma dinâmica simplista, pois existe muita dor envolvida e sentimento de injustiça. No entanto, corroboro na proposta que quanto maior a revolta, o ódio, o rancor e o sentimento de vingança, maior será também o mal estar, a dor física, a autoflagelação emocional, a falta de paz interior e consequentemente uma péssima qualidade de vida.

O maior presente que uma pessoa pode se dar nessa vida é sentir leveza na alma e sim, muitas vezes levaremos muitos golpes da vida, de quem você menos esperava, das circunstâncias, daquilo que não temos controle. Contudo, a disposição e a resolução firme de perdoar não é somente um "acordo de paz" feito com o outro, mas sobretudo um aspecto protetivo a favor da nossa saúde mental, pois quem perdoa no fundo sabe que neste momento a autocompaixão precisa ser cultivada como um mecanismo de sobrevivência, de fé e resiliência. É um "salto na fogueira" que te leva a outra margem, às águas tranqüilas de uma vivência harmônica e equilibrada, onde indubitavelmente você será o maior, ou quem sabe, dependendo da consciência de quem o feriu, o único beneficiado.

Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, psicotraumatologista, especialista em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Escritora e palestrante. Autora dos livros Fechamento de Ciclo e Renascimento, Supere desilusões amorosas e pertença a mesmo, Liberte-se do Pânico e viva sem medo e Talita e o portal.
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