Você está tranquilo na janela do ônibus quando sua música favorita começa a tocar nos fones de ouvido. Não dá outra: a paisagem vira um clipe digno da década de 80, e aviões pendurados em baleias começam a cruzar os céus em meio aos prédios. Aí, claro, você perde o ponto e vai parar do outro lado da cidade. Ou tropeça em alguém. Ou só esquece do relatório que tem para entregar no dia seguinte.
Por causa dessas e outras, ser um distraído com propensão a viajar na maionese nunca foi considerado uma virtude – nem por mães, nem por patrões em entrevistas de emprego. Pesquisadores do Instituto Max Plank, na Alemanha, conseguiram usar máquinas de ressonância magnética para acompanhar ao vivo o que acontece no cérebro de quem devaneia. E descobriram que essas pessoas realmente funcionam em outra frequência.
“Nós descobrimos que, no cérebro de pessoas que deixam a própria mente perder o foco de propósito, o córtex (responsável por te fazer pensar e agir de acordo com seus objetivos, e associada pela neurociência à personalidade), é mais espesso na região pré-frontal” afirmou à imprensa Johannes Golchert, líder do estudo.
“Além disso, nessas ocasiões duas redes do cérebro se sobrepõem de forma significativa: uma é a padrão, que fica mais ativa quando estamos com a atenção voltada para dentro, puxando informações da memória. Outra é a frontoparietal, que estabiliza nosso foco e inibe estímulos irrelevantes”.
Em outras palavras, quando você está sonhando acordado seu cérebro não perde totalmente a noção, e continua com o “síndico” de olho nos pensamentos com a mesma eficiência que ele acompanha o que ocorre fora do corpo. Ou, nas palavras de Golchert: “neste caso, a rede frontoparietal não chega a distinguir a concentração no mundo exterior, no ambiente, e no mundo interior, nos pensamentos. Nas duas situações a rede de controle está envolvida.”Conclusão: Devaneios não são ruins– e se usados com moderação e consciência, podem ajudar muito com a criatividade e o raciocínio no dia a dia.