Warning: ini_set(): A session is active. You cannot change the session module's ini settings at this time in /home2/revis236/public_html/kernel/ApplicationBootstrap.php on line 21
Perceba os sinais e ajude a prevenir | Revista Afrodite

Perceba os sinais

Fenômeno complexo, multifacetado e para o qual não existe uma causa ou explicação única, o suicídio tornou-se uma questão de saúde pública, para a qual não apenas profissionais de saúde, mas toda a sociedade deve estar atenta. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, estudos apontam que a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida no mundo, estando entre as três maiores causas de morte em indivíduos entre 15 e 35 anos. Isso sem falar na dor e no impacto nas famílias e comunidades – estima-se que cada morte dessa, que talvez seja uma das formas mais trágicas de se terminar a vida, impacte em pelo menos outras seis pessoas.

Pode parecer difícil explicar porque algumas pessoas recorrem a esse caminho, enquanto outras em situação similar ou aparentemente pior não o fazem. Aí é preciso entender a subjetividade humana e os fatores individuais de risco, em cada contexto. Mesmo que muitas vezes os sinais não sejam claros ou fáceis de detectar, é possível atentar a esses fatores, especialmente se combinados, para intervir na hora e do jeito mais promissores.


FATORES DE RISCO
Casos de retirada da própria vida não escolhem renda ou classe social. Embora os homens tenham mais atos consumados, as mulheres são as que mais tentam suicídio. Pessoas com idade entre 15 e 35 anos e com mais de 75 anos, divorciadas, viúvas ou solteiras, que estão sem trabalho ou aposentadas e que migraram de região tendem a estar mais vulneráveis. Entre as condições ambientais, estressores de vida como conflitos interpessoais, rejeição, perdas, problemas financeiros ou profissionais podem influenciar. Exposição a agrotóxicos, crises políticas, econômicas e sociais (como a que estamos vivendo), discriminação por gênero ou orientação sexual, agressões de todo tipo, incluindo o bullying na adolescência, e até doenças físicas, neurológicas, ou crônicas dolorosas e incapacitantes também costumam estar envolvidos.

Um dado relevante diz respeito à relação do suicídio com o adoecimento psicológico. Nove em cada 10 casos têm um transtorno mental como pano de fundo. Mas em metade dos casos as pessoas não sabiam de sua condição. A depressão é o mais comum, mas não o único. Transtornos de personalidade com traços de impulsividade, agressividade e frequentes alterações de humor, alcoolismo e abuso de outras substâncias (em especial em adolescentes) e esquizofrenia se adicionam à lista de condições tratáveis. Ou seja, aqui está um importante meio de prevenção, isso se vencermos o estigma ainda ligado às doenças psicológicas. Apesar de tratamentos efetivos estarem disponíveis quando o assunto é depressão e outros transtornos de humor, por exemplo, frequentemente esses são sequer diagnosticados seja pelo constrangimento em admitir, por medo disso ser visto como sinal de fraqueza, ou porque se está tão familiarizado com os sentimentos de tristeza e isolamento, distúrbios do sono e sensação de irritação e cansaço o dia todo, que isso não é reconhecido como doença pelo indivíduo ou pela família.

Quando se fala em características psicológicas, ou seja, o jeito de pensar, sentir e agir de pessoas que podem cogitar suicídio, três em particular são as mais frequentes:

Ambivalência: pessoas que pensam em suicídio transitam no desejo de viver ou morrer, em geral não querem realmente terminar com a vida e, sim, dar fim à dor e ao sofrimento profundo que sentem. Ao ser oferecido apoio emocional, tempo e espaço para “ventilar” esses sentimentos, o desejo de viver aumenta e o risco de suicídio reduz.

Impulsividade: o impulso de cometer suicídio é transitório, pode durar alguns minutos ou horas e é usualmente desencadeado por eventos negativos do dia a dia. Acalmando a crise e ganhando tempo, é possível ajudar a reduzir o impulso de cometer o ato.

Rigidez: trata-se de uma forma de pensar e ver as situações de uma forma muito estreita, “em túnel”, com grande dificuldade de perceber outras maneiras de sair do problema. Ao ver que há outras alternativas e formas de encarar, é possível ter a clareza de que existem saídas.


MITOS E VERDADES
Deixar de ver o tema como tabu e apropriar-se de informações confiáveis é essencial para reduzir as taxas e o sofrimento que é causa e consequência do suicídio:

MITOS  VERDADES
“Pessoas que ficam ameaçando suicídio não se matam.” A maioria das pessoas que se mata dá avisos de sua intenção.
“Quem quer se matar, se mata mesmo, não fica chamando a atenção.” A maioria dos que pensam em se matar têm sentimentos ambivalentes.
“Suicídios ocorrem sem avisos.” Suicidas frequentemente dão indicações de sua intenção.
“Melhora após a crise significa que o risco de suicídio acabou.”  Muitos suicídios ocorrem num período de melhora, quando a pessoa tem a energia e a vontade de transformar pensamentos desesperados em ação autodestrutiva.
“Todos os suicídios podem ser prevenidos.” Infelizmente nem todos os suicídios podem ser prevenidos, mas, felizmente, a maioria sim.
“Uma vez suicida, sempre suicida.” Pensamentos suicidas podem retornar, mas eles não são permanentes e, em algumas pessoas, podem nunca mais voltar.
“Não devemos falar sobre suicídio.” Devemos falar, sim, de forma adequada sobre suicídio, com foco na prevenção, sem glamourizar ou romantizar autolesões, tentativas ou casos consumados.
“Sempre tem uma causa para o suicídio.” Não é possível atribuir uma única causa para o suicídio, cada caso costuma ser multifatorial e resultado de várias situações combinadas e concomitantes.
“Se cortar de propósito é coisa de adolescente.” O ato de machucar-se propositalmente pode ser um dos principais fatores de risco da progressão do pensamento suicida para um comportamento potencialmente perigoso.
“Perguntar sobre suicídio vai colocar ideias na cabeça.” A melhor maneira de descobrir se uma pessoa tem pensamentos suicidas é perguntar a ela. Caso isso esteja acontecendo, ela se sentirá agradecida e aliviada em poder falar abertamente sobre as questões com as quais vem se debatendo.


Sinais de alerta
Não há uma “receita” para detectar com segurança quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, por isso, se isso aconteceu com alguém perto de você, não alimente culpa. Aprenda a “ler” certos sinais de sofrimento de alguém que pode estar precisando de ajuda e aproxime-se:

:: Sentimentos de tristeza, depressão, solidão, desamparo, desesperança, desespero, desvalor, desinteresse, pessimismo, autodesvalorização e autodepreciação, como ódio de si mesmo, vergonha e culpa.

:: Pensamentos e falas de impotência, cansaço e de sentir-se um fardo: “não há nada que eu possa fazer”, “não aguento mais”, “sou um peso para os outros”, “vão ficar mais felizes sem mim”, “preferia sumir ou estar morto”.

:: Falta de energia, alterações de apetite e sono, isolamento excessivo, apatia, distração a ponto de “se desligar” do ambiente, discurso verbal que diz uma coisa (ex: estou bem) e linguagem corporal que diz o oposto.

:: Perdas importantes recentes (morte, emprego, fim de relacionamento), história familiar de suicídio, desejo súbito de concluir coisas, organizar documentos e se despedir.

:: Mensagens em redes sociais, fazer uso mais frequente, seguir conteúdos ligados à depressão e questões ligadas à morte.


Como agir para ajudar
:: 
Ache um lugar reservado e tranquilo, com certa privacidade, para conversar.
:: Reserve o tempo necessário para ouvir a pessoa. Usualmente alguém em crise vai precisar de mais tempo do que se imagina para deixar de se sentir “um peso”. É preciso estar preparado mentalmente para oferecer uma atenção genuína e sincera.
:: O mais importante é ouvir efetivamente. Exercite a empatia de se colocar no lugar dela, no contexto de vida em que ela se encontra, com todas as suas variáveis. Você pode ainda assim não a entender, mas esforce-se para validá-la, dizendo que pode imaginar como ela se sente e como está sendo difícil para ela.
:: Fique calmo e dê sinais não-verbais de abertura e respeito, com expressões faciais e postura condizentes.
:: Expresse respeito pelas opiniões e valores da pessoa. Não precisa concordar com ela, seja honesto, mas demonstre preocupação, cuidado e afeição.
:: Não a interrompa com frequência nem faça perguntas indiscretas, mostre-se disponível e tente não ficar muito chocado ou muito emocionado, é importante que a pessoa em sofrimento perceba que você pode sustentar seus sentimentos momentâneos de dor. Esse pico emocional vai passar.
:: Use e abuse de uma postura de aceitação e não-julgamento e disponibilize-se em marcar um horário e a acompanhá-la em uma consulta com um profissional especializado.
:: Se o risco é iminente, explore outras saídas, ganhe tempo enquanto aciona outros meios de apoio, como familiares e serviços de emergência, remova os meios, se possível, e se o risco for alto, fique com a pessoa e/ou providencie para que ela não fique sozinha.
:: Nas redes sociais, ao identificar postagens que incitem o tema ou pessoas que pareçam inclinadas ao ato, é possível notificar a plataforma. Nesse caso, o Facebook, por exemplo, envia uma mensagem dizendo "Um de seus amigos está preocupado com você", oferecendo opções de ajuda ao usuário.


Onde buscar e obter ajuda
O Centro de Valorização da Vida
(CVV) oferece apoio emocional na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias da semana. O número para contato é o 188.

CAPS, Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde), UPAs 24h, SAMU 192, pronto socorros e hospitais são serviços de acolhimento, apoio e cuidado especializado, com atendimentos individuais e grupos de apoio para indivíduos e familiares.

 

Se você que está lendo, identificou-se e está com dificuldade de pedir ou receber ajuda, saiba que não está sozinha e que sua vida importa. Permita-se ser cuidada, você merece! Foque no que faz sua vida valer a pena, sintonize-se com seus valores e peça ajuda. Não precisa continuar assim. Tem saída, busque suporte de confiança na família, em um amigo querido, na sua espiritualidade, colegas e profissionais capacitados a darem a ajuda que você precisa.

 

Apresentado pela psicóloga clínica Vivian Kratz
Coronel Flores, 749, sala 303, São Pelegrino – Caxias do Sul
Fone e WhatsApp: (54) 99917.1814
@viviankratzpsicologia