Quem consegue se concentrar, trabalhar, estudar ou mesmo se divertir quando está com enxaqueca, dor de cabeça ou na cervical que irradia para a cabeça? Normalmente esses quadros limitam muito a concentração, interferem no humor e, muitas vezes, geram hipersensibilidade, principalmente à luz e ao barulho. Isso acontece porque os sensores dos sentidos que ficam na cabeça, ou seja, audição, visão, olfato e até do paladar se tornam muito mais excitáveis, ao que o corpo responde ampliando essas funções.
“Por isso é muito comum a pessoa enjoar ao cheiro de perfume ou com a claridade e ter a dor aumentada”, explica a fisioterapeuta Silvia Bazzi, especialista em podoposturologia. A sensibilidade à luz, observa, faz com que os músculos dos olhos se contraiam para diminuir a permeabilidade, o que intensifica a dor, pois o nervo que vai até o olho sai da base do crânio, e o aumento de tensão nessa região reflete numa dor no fundo do olho.
Muitas são as formas, as fases e as causas da dor na cabeça. Para descobrir sua origem e se livrar dela é importante entender que o corpo humano dispõe de um sistema craniossacral. “Ele faz a conexão das meninges, no cérebro, onde é produzido o líquor, fluido responsável por nutrir o sistema nervoso, até a região do osso sacro/cóccix, sendo ritmado pela respiração”, explica a especialista. Sendo assim, se não há um bom alinhamento postural, se há desníveis de quadril ou de ombros, por exemplo, o líquor não consegue se movimentar corretamente, e o resultado é a dor de cabeça.

FORMAS E FASES DA DOR

• A pessoa já acorda com a dor, ou é despertada por ela.
• Os sintomas começam ao final do dia, 16h em diante.
• Alterações visuais precedem a dor. É a chamada enxaqueca com aura: uns 15 minutos antes da dor, surgem sinais como focos de luz, visão embaçada, às vezes em apenas um olho. Nesse caso, a dor vai irradiar na nuca, no mesmo lado do sintoma.
• No período menstrual. Quando o útero começa a ter leves contrações para fazer o endométrio se desprender e ocorrer a menstruação, gera uma tração do ligamento que útero-sacro, mobilizando a região sacro-cóccix, que é o ponto de ligação das meninges que saem do cérebro. “Ou seja, o útero contrai e movimenta o sacro que, por sua vez, tensiona toda a meninge da coluna, promovendo uma dor irradiada como se fosse um efeito chicote na cervical. Por isso, a queixa das mulheres de dor de cabeça durante a TPM”, revela Silvia.

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AS POSSÍVEIS CAUSAS

• Alimentos que possuem xantinas, como chocolate, queijos, café, chimarrão... fazem uma vasoconstrição, aumentando as chances de dor de cabeça quando há dificuldade de digestão desse composto orgânico. O estômago está muito relacionado a dores na cervical e cabeça, semelhante à sinusite, na região frontal e seios da face. “Se a pessoa tem refluxo, gastrite ou outra disfunção estomacal, desde hérnia de hiato ou azia, ajuda a dor na cervical que, por consequência, gera dor de cabeça. Se a disfunção visceral não for tratada, é possível que as dores de cabeça não cessem.”
• Respirar pela boca. A prática impede que a língua permaneça no céu da boca quando estiver em repouso, posição correta e fundamental para manter o equilíbrio da cabeça. “A cabeça pesa de cinco a seis quilos e quando está fora do eixo tende a anteriorizar (pende para a frente), promovendo uma retificação da curvatura da cervical, o que aumenta a compressão dos nervos que saem de cada nível vertebral da cervical alta. O resultado é a dor de cabeça.”
• Respiração mais curta. Se ao invés de priorizar o diafragma, como os bebês, respirarmos mais com a parte superior (clavícula e ombros), essa musculatura terá uma função maior do que o principal músculo da respiração. A inversão causa um aumento de tensão da musculatura cervical, tracionando o pescoço à frente e comprimindo a base do crânio.
• Trabalhar muito no computador, usar de forma excessiva o celular ou fazer atividades manuais que levam o olhar para baixo fazem com que a cabeça e os ombros sejam projetados para a frente, um influenciando o outro, pois trabalham em conjunto.
• Estresse, preocupação e ansiedade. A tendência de levar a cabeça à frente também está relacionada ao perfil comportamental, pois uma pessoa mais ansiosa, que está sempre se projetando para o futuro é mais preocupada, assim como assumir responsabilidades que não são nossas. Silvia alerta para a importância de observar que tudo está interligado. “Se a língua não encosta no céu da boca para manter a posição correta da cabeça, a pessoa tem dificuldade para dizer não.” A excessiva proatividade no sentido de empatia, se colocar no lugar do outro e tentar ajudar ‘Deus e o mundo’ também podem trazer muita dor de cabeça. “Colocar na mochila não apenas as suas pedrinhas, mas também as pedras dos outros, faz a carga começar a pesar. A pessoa acaba se curvando, fazendo um hipercifose, porque o fardo está maior do que se consegue carregar, exatamente em função de se estar assumindo o que é do outro.”
• Problemas de oclusão (encaixe dos dentes), os dentes de um lado encostam antes que os do outro; disfunção na articulação da mordida, mastiga-se mais de um lado que do outro; apertamento de dentes ou bruxismo. Essas alterações têm muita relação com enxaquecas e dores na cervical. E, de novo, a posição incorreta da língua é um dos principais fatores. “Quando a língua encosta no céu da boca, os sensores informam o cérebro que a musculatura da mastigação pode relaxar, pois não há alimento chegando. Se isso não acontecer, essa musculatura fica pré-acionada o tempo inteiro, mesmo quando a pessoa está dormindo, promovendo o bruxismo.” Apertar os dentes também é uma forma de representação da dificuldade de se expressar, quando há dificuldade de falar sobre seus desejos, problemas ou insatisfações com medo de magoar o outro, explica a fisioterapeuta.
• Pisada pronada. É aquela que faz com que o pé jogue mais peso para a parte interna, em direção à região do dedão, que está ligada à cervical. Quando apenas o dedão, o segundo e o terceiro dedo trabalham há uma vulnerabilidade maior da pessoa ter dor de cabeça em função da projeção anterior de tronco.
• Cicatrizes na parte anterior do corpo, como de cesárea, abdominoplastia, de prótese mamária, por exemplo, tendem a tracionar o corpo mais para frente, o que acaba gerando um aumento de pressão lá no antepé e no dedão, favorecendo as queixas de dor na cervical e enxaqueca.

O TRATAMENTO

A Terapia Craniossacral (TCS) é a técnica que vai ajudar em todas essas causas e queixas, já que, como vimos, há uma relação muito íntima entre os ossos da bacia e do crânio. Por isso, nossa postura e a forma como pisamos reflete na cabeça. “O sacro tem relação com o osso da nuca, o occipital, que se conecta com o temporal e, esse, com a mandíbula. A cervical e a base do crânio influenciam no funcionamento, não só da postura, mas de todas as informações que os nervos precisam para dar estímulo para determinados músculos e partes do corpo.”
De acordo com a especialista, a terapia manual focada nesse sistema, que consiste no toque de partes específicas do nosso organismo, permite tratar desde a enxaqueca, passando pelas disfunções que podem vir depois de uma gestação, por exemplo, até a hipersensibilidade geral do corpo oriunda de algum desnível de sua estrutura que acaba “amarrotando as meninges”.
Além disso, a TCS é um ótimo tratamento para torcicolo congênito (bebê nasce com a cabeça virada para um lado), disfunções de mordida e no uso de aparelhos ortodônticos, quando as dores de cabeça e na cervical são comuns pela mudança da estrutura óssea da boca. “A terapia ajuda a otimizar resultados na ortodontia, porque não tem como tratar ATM sem tratar todos os ossos do crânio. Tudo está conectado”, conclui Silvia.

Apresentado Silvia Bazzi - Revigoore
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