Você tem este sonho de consumo: entrar no supermercado, bater os olhos num biscoito ou achocolatado e logo de cara saber tudo o que ele contém na composição? Afinal, investigar as informações nas entrelinhas e tentar decifrar uma série de palavras esquisitas no rótulo leva tempo e exige paciência. Aboa notícia: a indústria alimentícia vem fazendo alterações para facilitar a vida do consumidor. Desde 2016, alguns fabricantes já acrescentaram às embalagens a presença ou não de substâncias com potencial alergênico nos produtos.
Entram nesse grupo: leite, soja, ovo e amendoim. Mas só em 2019 todos os itens, sem exceção, trarão a informação sobre o açúcar do leite no padrão estipulado pelaAgência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa: “contém lactose”, “zero lactose” ou “baixo teor”, dependendo da concentração do nutriente. Achamos justo, certo?
Sem clareza nos rótulos, não adianta pegar firme na meta de seguir uma dieta saudável se você sai do supermercado com as sacolas cheias de sabotadores. De qualquer maneira, é bom conferir a tabela nutricional (aquela que mostra o valor energético – calorias, para os íntimos –, além de carboidratos, proteínas, gorduras e fibras presentes em cada porção) e, abaixo dela, a lista de ingredientes.
Que tal um treino agora? Vamos “ler” juntas o rótulo de oito itens habitués nos cardápios fit e descobrir boas opções no mercado.
Pela legislação brasileira, as bebidas integrais devem ter 100% de polpa. Já os néctares concentram entre 20 e 50%, e os refrescos, de 5 a 20% – formulações que são complementadas com água, açúcares adicionados e aditivos químicos. Percebeu que o integral é a melhor escolha, certo? Então prefira os de frutas de baixo índice glicêmico (maracujá, acerola, amora) ou sucos detox, com vegetais na composição.
“O ideal é que o pão ofereça 1 grama delas a cada 5 gramas de carboidrato”, orienta a nutricionista Priscila Riciardi. Em boa quantidade, elas deixam você mais saciada, além de segurar a velocidade com que o carboidrato é digerido, o que evita a produção excessiva de insulina, o hormônio aliado da gordura. Você escolheu um pão com 20 gramas de carboidrato por porção? Então ele deve ter 5 gramas de fibras (ou perto disso) – se não, levar o pão integral no lugar do branco é quase o mesmo que trocar seis por meia dúzia.
Alguns especialistas sugerem até menos: apenas 5%. O problema é saber identificar no rótulo os nomes, sobrenomes e apelidos dados ao açúcar: glicose (ou glucose), açúcar invertido, melado (ou melaço), sacarose, frutose, maltose, dextrose, maltodextrina e xarope. Já os adoçantes são listados como edulcorantes. Estévia (ou glicosídeo de esteviol), xilitol e eritritol são os considerados naturais, mesmo assimé bom moderar. “Em pessoas sensíveis, eles podem ter efeito laxante e provocar microalterações no conjunto de bactérias que habitam o intestino”, avisa Priscila. Sugestão: priorize as opções de barrinha, granola e cereal matinal clean label – ou seja, apenas com os ingredientes essenciais (castanhas, grãos, sementes e frutas) e pouco ou nenhum açúcar (ou adoçante). Dica: o musli (um tipo de granola) é quase sempre sem açúcar!
“Muitas pessoas, em especial as que precisam emagrecer ou têm colesterol alto, devem consumir bem menos”, alerta Priscila. Na opção light, o valor cai para 16% (e quanto mais proteína, melhor). Dica: consuma o cream cheese com biscoito de aveia – contribui para reduzir a absorção do colesterol.
“Mas, sempre que possível, prefira as formulações com 70% de cacau ou mais, com menos ou nenhum açúcar e sem gordura vegetal adicionada”, orienta Priscila. Essa combinação é perfeita! E dá para ser melhor: a presença de nuts (castanha-do-pará, amêndoa, avelã, nozes) ajuda a saciar mais facilmente. Um quadradinho já deixa você feliz!
O Ministério da Saúde firmou um acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) para reduzir gradativamente, até 2020, a quantidade de sódio nos produtos, porém a adesão das empresas é voluntária – elas podem ou não seguir o combinado. Por isso, compare os rótulos. “Se o sódio atingir 20% dos valores diários (aparece no rótulo como %VD, à direita na tabela nutricional) por porção de um alimento, é muito!”, avisa a nutricionista Márcia Terra, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban). Mas, no caso dos embutidos, é impossível achar opções com doses muito menores, pois o sódio é inerente à proteína de origem animal. Então, em vez de comer três fatias, coma apenas uma!
“Quanto mais adoçantes, corantes, conservantes e espessantes (amido), pior o alimento é para a dieta e a saúde”, avisa Priscila. A nutricionista Márcia Terra é mais flexível em relação às substâncias artificiais. “Elas são importantes para conservar os produtos e seguem normas rigorosas de segurança.” Se você achar que tudo bem, pelo menos evite exagero. Mas o ideal é que o iogurte tenha leite, fermento lácteo (garante a ação probiótica), frutas naturais e nada mais.
Deixe essa opção fora do seu carrinho! E não se iluda com as versões zero trans: a Anvisa libera essa nomenclatura quando a gordura inimiga não ultrapassar 0,2 grama por porção. É traiçoeiro! Afinal, quem ingere muitos alimentos industrializados acaba mandando para dentro um montão desse ingrediente.
“A gordura trans ainda não é proibida no Brasil. Mas já existem um projeto de lei que pretende bani-la de vez dos alimentos e um acordo firmado entre a Abia e o Ministério da Saúde para diminuir os níveis nos produtos processados”, diz Márcia. Uma das alternativas usadas pela indústria em substituição à trans é oóleo de palma. Rico em gordura saturada, é outro ingrediente que deve ser consumido com moderação, ok?
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