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Alimentação é aliada contra a depressão | Revista Afrodite

Alimentação é aliada contra a depressão

Foto: Alex Silva

Recentemente, um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o Brasil como um dos países com maior índice de depressão na América Latina. No combate ao problema, a nutrição pode ser uma poderosa aliada – ou uma de suas piores inimigas. É que alguns alimentos são capazes alavancar o ânimo, enquanto outros derrubam o astral.

Até pouco tempo atrás, seria impensável ir a uma convenção de psiquiatras para acompanhar palestras sobre alimentação. Hoje, porém, a nutrição está ganhando terreno no campo dos estudos da mente saudável. Desde 2009, uma linha de investigação traça um elo íntimo entre a composição do prato e o surgimento da depressão.

No último Congresso da Associação Americana de Psiquiatria, houve um módulo todo dedicado a esse tópico. Durante sua exposição, o psiquiatra Drew Ramsey, professor da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, chegou a apresentar uma escala de nutrientes cruciais na prevenção e no combate ao distúrbio. Segundo ele, ômega-3, magnésio, fibras, zinco, ferro, além das vitaminas C, B1, B9 e B12 devem ser os destaques à mesa para espantar o já chamado mal do século – a cada ano, 100 milhões de pessoas desenvolvem sintomas evidentes da doença. Resumindo, o expert apoia uma dieta rica em folhas verdes, oleaginosas e peixes. “Em alguns estudos, a comida correta diminuiu em 50% o risco de depressão”, conta Ramsey.

De fato, as provas de que a cuca sofre se não prestamos a devida atenção nos alimentos estão cada vez mais fortes. De acordo com a nutricionista e mestre em neurociências Selma Dovichi, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, quando o fornecimento de nutrientes é reduzido, o sistema nervoso, esperto que só, até adota meios alternativos para manter as obrigações em dia. “Mas ele não consegue realizar todas as atividades normalmente”, nota.

Entre as tristes consequências disso estão a menor oferta de neurotransmissores e falhas na comunicação entre os neurônios. São alterações que, segundo a professora, elevam a probabilidade de enfrentar desordens mentais, como a própria depressão.

O padrão alimentar que se sobressai contra as sombras da melancolia é a célebre dieta mediterrânea, farta em pescados, nozes, cereais, grãos integrais, vegetais em geral e azeite de oliva. Já, o ponto forte de uma rotina alimentar equilibrada é evitar que o organismo fique sob estado de inflamação. “Nesse cenário, há a inibição do chamado fator neurotrófico, responsável por estimular a formação de novos neurônios”, explica o médico Sérgio Tamai, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Vários experimentos indicam que irregularidades nesse processo (a neurogênese, para os íntimos) incitariam abalos depressivos.

 

Alimentos mais naturais e integrais calham de ser cheios de fibras, que também prestam serviço à nossa cabeça. Só que a ação não é tão direta. Ocorre que essas substâncias influenciam, lá no nosso ventre, a composição da microbiota intestinal, deixando-a com um perfil de bactérias positivo.

Foto: Tomás Arthuzzi/ Ilustras: Pedro Hamdan
O lado triste do cardápio Tem uma situação que acaba com a felicidade dos entendidos na área. Não bastasse as pessoas deixarem a desejar no consumo de itens saudáveis para a mente, elas ainda se empanturram de tranqueiras. Dietas pró-inflamatórias, com alto consumo de açúcar, sal, alimentos refinados e gordura saturada, contribuem para o surgimento de sintomas depressivos.

Uma dieta com características inflamatórias é tão nociva que as consequências parecem ultrapassar gerações. Quem está de olho nisso é o nutricionista Cristiano Mendes da Silva, do Laboratório de Neurociência e Nutrição da Universidade Federal de São Paulo.

Após oferecer uma dieta rica em gordura saturada a cobaias durante a gravidez ou a amamentação, ele percebeu que o cérebro dos filhos saiu prejudicado. “Além de atraso no desenvolvimento de certas habilidades, notamos um comportamento mais propenso à depressão”, revela o estudioso. Detalhe: ao contrário das mães, os filhotes não se entupiram de gorduras.Tristeza é diferente de depressão Ficar para baixo de vez em quando faz parte da vida. “É normal sentir tristeza em certos momentos, como quando perdemos alguém. Mas, aos poucos, isso é assimilado e a sensação ruim vai desaparecendo”, explica o psiquiatra Mario Louzã, da Universidade de São Paulo. “Já a depressão muitas vezes não tem uma causa clara”, diferencia.

Além disso, ela se arrasta por tempo maior. Sem falar que a melancolia vem atrelada a outros sintomas, como insônia, perda de apetite, falta de libido, impressão de que nada dá prazer etc. “Para a doença ser diagnosticada, é preciso ter essa gama de elementos”, afirma o médico.

Fonte: Saúde Vital