“Eu falo para as meninas: você tem uma falha ou outra na sobrancelha? Não tem problema, vai com ela mesmo. Pele carregada, sobrancelha carregada e contorno: três coisas que as pessoas que trabalham com beleza estão meio cansadas”, declara Marcos Costa, beauty artist oficial da Natura e quem assina a beleza do desfile da LAB, que acontece no São Paulo Fashion Week. Ele completa: “é muito melhor pentear os fios pra cima com um máscara de cílios transparente, focar em um brilho e sair de casa.”
A sobrancelha natural apareceu com força nos dois primeiros dias da semana de moda brasileira. Mas é natural mesmo: se até então os fios preenchidos com lápis eram regra, agora eles acompanham a pele natural e brilhante, com pouca base e de estilo fresco que desfilou pelas passarelas e corredores da bienal. Os pelos faciais tem um histórico interessante: durante os anos 1920, os primeiros produtos comerciais de beleza começaram a ser usados por mulheres que queriam se libertar de amarras sociais. Cortar o cabelo na altura do queixo e depilar a sobrancelha foram algumas das formas que as mulheres da época encontraram para passar a mensagem de que não eram belas, recatadas ou do lar — isso ter se transformado em regra ou imposição é outra história. Depois disso, atrizes, grandes marcas e modelos influenciaram os formatos e arcos dos fios.
Em 1930, Jean Harlow e Greta Garbo inseriam drama no look com seus formas arredondados. Em 1950, foi a vez do new look da Dior instaurar os fios marcados, assim como dizia sua estética. Nos anos 1970, o movimento hippie sugeria um approach mais natural para os cabelos e roupas. Como pessoas diferentes são impactadas de formas diferentes pela moda e por sua influência cultural, todas essas fases coexistem hoje, mas é a primeira vez que a peculiaridade está em pauta nas sobrancelhas.
“Eu gosto das falhas, das peculiaridades das coisas, né? Não acho que precisa ser padrão ou desenhada, ela traz tanta personalidade para o rosto”, conta a beauty artist Amanda Schön, que assinou a beleza do desfile da Osklen. Existe um caminho longo para que o mundo da beleza discuta imposições de gênero, masculinidades e feminilidade através do que é feito nos desfiles. Mas a abertura para algo considerado um erro — ou uma vulnerabilidade –, é um passo bem-vindo, principalmente depois da época de Cara Delevingne, na qual uma sobrancelha cheia era considerado um power look, e a micropigmentação, um processo de beleza permanente, muito desejado. ”As sobrancelhas precisam ser livres. Vamos aceitar as falhas e os erros dela”, finaliza Rodrigo Costa, beauty artist que apenas penteou os fios pra cima e adicionou gloss nas sobrancelhas das modelos para o desfile da Vix.